quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Sim, somos gavetas!



Acredito eu, na minha humilde mania de comparar pessoas a objetos, no melhor do sentido, claro, que nesse, ou até nas nossas próximas vidas, somos nada mais que depósitos de coisas boas e más. Sendo mais direta, na vida nada mais somos que gavetas subestimadas, ou melhor, superestimadas! Depende da situação, depende do que ou quem nós guardamos. Acho que ainda nos elevei a um nível além do merecido, porque no final das contas somos um porta treco, mas vamos ficar com gavetas que é uma palavra só, e é isso que somos, só um, só.

Acho que cada um de nós é uma gaveta específica. Eu, particularmente, sou aquela gaveta que se joga um monte de coisa e vai juntando, juntando e não se joga nada fora por falta de coragem, ou medo de perder algo desnecessariamente importante. Mas há quem seja aquela gaveta arrumadinha, aquela que separam cueca ou calcinha por cor, sabe? Aquela que tem etiqueta, lugar para tudo, nada fora do lugar, uma gaveta extremamente organizada para um coração altamente porra louca. Também há uma variação da minha espécie de gaveta, tem lá seu amontoado de coisas, mas de vez em vez é feita uma faxina, são jogados papéis, entradas de cinema, coisas mofadas, mas não consegue jogar as lembranças. Existe aquela que sempre trava no meio do caminho, aquela gaveta/pessoa que deixa tudo pela metade, que se não consegue fechar deixa como está e diz: não vai fechar mesmo, para que insistir! Que está com um problema, mas ignora, falta parafusos, faltam sentimentos.

Pegando o gancho da “falta”, existe também gavetas vazias, sem nada, nem um pedaço de papel sequer, nem uma embalagem de bombom, nem uma caneta, nem uma dessas inutilidades que guardamos mesmo sabendo que não iremos mais usar, são vazias e só.
Também tem aquela que é trancada a uma única chave, que às vezes em ela sabe onde colocou a chave, engoliu, jogou no mar, mandou o cachorro falecido do vizinho engolir, não adianta, a gaveta é um pseudo cofre! Há quem seja uma gaveta seletiva, só guarda o que de fato é para ser guardado, nem a mais, nem a menos, guarda o que faz bem, o que fez e faz rir, tem uma caixinha para guardar as alegrias vividas e abre seus segredos a quem for merecedor. Existe a que só aprende a fechar com porrada, é a de praxe, não aprende com carinho ou gestos de bondade, só aprende com muita pesada no seu puxador! Também tem aquela que vive 24h aberta, parece banco, sabe? É a gaveta solícita, hoje em dia é móvel raro, quase não se tem por aí, mas apesar de ser aberta para os outros é fechada pra si própria, não guarda nada ali, tem seu anexo secreto feito Anne Frank, e morre de medo que alguém chegue perto.

São muitas, inúmeras, mas todas elas têm coisas em comum, elas guardam, cuidam das lembranças, às vezes tem um cheirinho especial, não tem a gaveta ideal, tem a gaveta que escolhemos ser, que passamos a ser, e que cuidemos uns dos outros independente do tipo de gaveta que somos. Coloridas, tom pastel, de solteiro, que trava, que vive uma bagunça, sem puxador. Temos a mesma função, guardar.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Drummond tinha razão!


E o que os ares me trazem?
Me trazem o pólen, o óleo, o filtro, os cheiros
E me roubam as palavras!
Elas já não vêm aos montes, felizes crianças após o sinal tocar...
Não!
Estão entaladas, moídas, cheias de dor e prazer noturno.
Umas vêm pela metade, mordidas, cuspidas, bebidas, às vezes nem vêm!
As poucas que chegam me fazem desistir delas, desnecessárias, demasiadamente pessoais,
Mas se elas não vêm, nem sem forma, disformes, entro em estado de fome literária,
Não consigo mais fazer florir em mim as palavras, elas murcham, elas entram em overdose de pólen e secam!
Sim, Sr. Dummond de Andrade, lutar com as palavras é sim uma luta vã!
Já não consigo mais semeá-las, emudeceram todas!
Nenhuma vem me acordar de madrugada sussurrando em meus ouvidos para serem escritas,
Pelo contrário! Elas me fazem cafuné, alisam meu pescoço, me deixam dormir à vontade
Com esse silêncio insuportável que elas me fazem ficar!
Acho que elas querem que eu volte a desenhar...
Não posso mais, entreguei a alma as palavras!
Os traços não saem mais, a mão dói, o sentimento de traição pesa
Meu santo bateu na prosa, na poesia, na lira, no verso do poeta gauche, no zumbido do poeta marginal.
As palavras a mim andam teimosas, as palavras em mim nem andam mais, perderam as pernas e a vontade de serem parte de mim.
Elas se negam a esconder alguém por debaixo dos lençóis que cobrem o verso,
Preciso chorar para que elas saiam, preciso plantar em pleno verão!
Preciso manter os olhos limpos e os cabelos encaracolados cheios de nós, de nó, de anedotas.
Preciso-as.
Elas não precisam de mim, nem de você que lê...
Elas precisam do menino fazendo pergunta, da menina sujando o vestido,
Elas só precisam delas próprias, do encantamento diário,
Das flores do verão, do cobertor de orelhas no inverno,
Elas transitam...
Tomaram o lugar das minhas veias, beijaram meus cílios....
Embaçaram minha vista... Ai, palavras... Acho que somos um só...
Inconstantes nessa vida que não será minha primeira, nem suas últimas,
Sejam sempre bem vindas e jamais findas...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Última carta


A carta veio sem assinatura, e por conseguinte, sem remetente. Se não me falhe a memória, nela tinha escrito:


Minha querida,


Onde foste parar? Cadê tua alegria? Cadê teus metros de sorriso?Não te reconheço mais! Já não me escreves mais, já não escreves mais! Todo dia olho para ver se escreveste algo novo, e nada. Não te vejo mais falando de vinho, cigarro, amores mal dormidos, minha querida, já nem te vejo. Será que foste parar na terra dos balões? Em um lugar tão distante que já não avisto tua essência. Cadê tuas bobagens ditas que nos faziam chorar de rir? Já não és a inconstância linda que eu conheci. Estancaste em teu sofrimento. Já não danças, não gargalhas, não levantas a cabeça pra se despedir. O que houve, minha querida? Conta para mim, por favor. Te dou meu colo, meus ombros e meus ouvidos só para te trazeres de volta. De volta aos teus amigos, aos teus verdadeiros amigos. Não quero que te percas mais de ti, muito menos que amadureças da forma que esses tais amadurecem. Cultiva essa tua essência, que mesmo estando distante sei que é só tua, minha querida.

Com saudade.

Duas horas depois percebi que minha alma que estava a gritar essas palavras, que cansada de tanto se esconder sussurrou Quintana em meu ouvido: "Ai que saudade de mim.".

domingo, 4 de dezembro de 2011

Poe(a)ma(r)


Pomar
Vem uma criança brincar
Vem a chuva molhar
E de todas essas coisas que terminam com - ar
Ficou apenas um poema de uma criança na flor da inocência
Dizendo que muito se tem de amar
!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Puella



(...)
E da próxima vez que me vir,
Vê se não  fica tão distante, 
Vê se sorrir mais,
Não precisas falar comigo,
Apenas sorrir de longe, com os olhos,
Que esse coração cá dentro vai inquietar-se,
Porque quando teus olhos, essas tuas meias luas pintadas de cílios,
Sorriem... 
Eu fecho os olhos e imagino o barulhinho deles a gargalhar.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Bilhete de café da manhã


6:30 da manhã. Pedaço de papel quase caindo da mesa, amassado, letra tremida, e misteriosamente úmido...

"Quase amor,
Teu gosto anda como café quente na língua queimada,
Incomoda o dia todo.
Como chocolate amargo, por mais que eu beba água teu gosto não sai,
Não sai!
Ficou impregnado em minha língua!
Aqui na cabeça teu cheiro ainda enrola meu cabelo,
Mas é teu gosto que me deixa impaciente,
Ai, quase amor, tu tens gosto de café da manhã,
O cheiro do teu café molhando os lábios, a gota no canto da boca
E o guardanapo sujo de açúcar
Tens gosto de fome da 10:30, lanche da tarde, doce antes do jantar,
Gosto de dia inteiro!
Enfim, quase amor...
Tive um pesadelo esta noite,
Então acordei para sentir teu gosto,
E não quis te acordar só para dizer que o açúcar acabou...
 Bom dia, gosto meu.
Bom dia, quase amor."


domingo, 20 de novembro de 2011

Era uma casa...


Era uma casa...
Nem tão engraçada assim, tem teto, tem matéria prima para amor de muito, tem tanta coisa...
Têm móveis de valor afetivo, carinho e uma manhosidade sem tamanho.
De certo é igual a do Sr. Moraes, não tem chão, nem parede é feita de nuvem de algodão doce,
No porão do céu...
Não é a casa dos sonhos, nem é tão confortável assim, é confortante, com cheiro de baunilha.
O espaço é pequeno, grande demais para sentimentos mesquinhos...
Ah, lembrei... Tem uma estante, um abajur, uns versos trancados na gaveta.
Tem muita luz, muita sede e poucos copos,
Tem o aconchego da nossa própria casa, tem homônimo de lar.
A casa é um coração!
Os botões da blusa, da flor, dos olhos, abrem-se e a casa se enche de  vento
Se por muito merecer do coração, a casa se torna morada do amor,
Discorda de quase tudo, do poeta, do quinto verso...
Mas põe no endereço do novo lar do amor:
"Rua dos bobos, Nº 0"
Afinal, o que seria do amor sem esta rua?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Amor: Funcionário público sem 13º



Sabe todo aquele papo de Santo? De pendurar santo de cabeça para baixa para poder casar-se ou casar a filha, em tese, encalhada? Deve ser uma coisa cultural, só do Brasil. Afinal, aqui fazem publicidade até com os pobres dos santos! E quando chega Maio é que se dana tudo. Santo Antônio em tudo que é comercial de loja de vestido de noiva! Mas o propósito desde dois pra cá, dois pra lá não é falar de santo, é outro...

Em meus muitos momentos de devaneios e divagações, imagino sempre Santo Antonio feito galã da Globo, cheio de cartas, pedidos, promessas e propostas absurdas. Sim, e careca. Até porque né, vamos combinar, aturar brasileiro reclamando porque querem se casar e ainda por cima mulheres, não é coisa de Deus! Mas ali coladinho, na mesa ao lado. O colega de repartição. Com óculos de armação preta e um ar de quem é feliz, encontra-se o Sr. Amor. E se vocês acham que Santo Antônio tem trabalho, é porque não pararam pra pensar, se Seu Antônio cumpre expediente só no Brasil, o Amor é universal!

Sempre o imagino além dos óculos de armação preta, o cabelo confuso, desgrenhado. Camisa formal branca, gravata com nó mal feito, preta, minúscula, e all star cinza. Não lembro se o imagino novo ou velho, porque o Amor sempre se renova. Ele não envelhece, amadurece. Ele não é novo demais, é precoce ou inesperado. Na mesa dele, pilhas e pilhas de e-mails impressos, até porque o Amor é moderno, apesar de preferir carta por achar mais pessoal, ele usa e-mail para não ser chamado de antiquado.

O Amor é rotulado por toda a repartição como o "funcionário dedicado", mas ultimamente ele anda um pouco rebelde. Desde que nasceu o Amor tinha consciência de que era único, seus pais inventaram esse nome. E ele alega estar desistindo da profissão, uma vez perguntado o motivo respondera: "Vou me aposentar, assim não dá, qualquer ser menor é chamado de Amor, Amorzinho, Mô. Qualquer paixão desemboca em um "Eu te amo" em menos de um mês de relacionamento, e o pior, ainda completam dizendo que é o "Amor da vida", vou pedir as contas, Amor que é Amor só um!", indagou ele, exaltadíssimo.

O Amor é magro, de um olfato apuradíssimo. Alimenta-se de carinho, afeto e todo e qualquer sentimento de caráter benevolente. Mas ele anda emagrecendo ainda mais, faz algum tempo que estes sentimentos bons andam em falta no mercado, e quando se acha o preço está nas alturas! O Sr. Amor tem um trabalho simples, desde que despediu o cupido ele acumulou tarefas. Não, ele não sai por ai atirando flechas, ele deu esta função para os nossos olhos. A função do Amor é apresentar as pessoas que estão dispostas a amar uma as outras em algum momento da vida. É fazer com que elas digam um "eu te amo" no auge da sua amadurecência e não um "eu também" insincero. Sim, o Amor faz muito bem o seu trabalho, ao contrário do que se diz, ele não escolhe quem não merece, ele se encanta por quem o aceita sem questionamentos, por quem o recebe de sorriso, abraços e sensações abertas. 

O Sr. Amor é bem humorado, não, as dores não é ele quem as provoca, são pequenos testes rotulados pelos seres menores de "Dores de amor". Isso faz parte do seu trabalho, o Amor recompensa todas as dores no final, abraçando-as e carinhosamente as transforma em boas risadas. O Amor chora, esperneia, faz bico, mas apenas quando não é reconhecido. O Amor mima, jamais é mimado. O Amor acolhe os seres mais mal acostumados. O Amor não dorme, ele te observa dormir para depois dizer que dormes engraçado. O Sr. Amor distribui convites e poucos leem as letras miúdas, os pequenos detalhes, os gestos minúsculos e o rasga ou faz aviãozinho. 
O Amor tem residência fixa, uma bicicleta azul e férias uma vez por ano. Não recebe 13º e ainda aguenta falácias de seus amigos por se contentar com pouco, por ser autossuficiente, porque para ele o Amor próprio é a base para o próprio Amor.

sábado, 12 de novembro de 2011

Lembrança em sonhos brancos


Era branca. Não. Azul cor de nuvem 

Alguma dessas cores que se descascam em branco...
É, era a cor da casa do meu avô.
Só me restou uma foto. Não da casa, mas uma foto dele.
E a lembrança que eu tenho é em um sonho desfilar para ele meus encantos pelos pés de feijão...

- Vovô, ô, vô... Meu peito anda cabendo em uma casa de botão, vô! Anda apertado, aliás, vô, ele nem sequer se permite andar. Inerciou-se e tá do tamainho das sementes de feijão q'o senhor me deu para que eu plantasse meus sonhos em um pedaço de algodão, no cantinho do quintal. Não deu, vô, não deu, o vento carregou minhas sementes, meus sonhos são grandes demais para corações pequenos, minhas sementes brotaram nas nuvens e esse peito cá anda com o amargo do fruto na ponta dos pés dos cílios... Vô, estas me escutando? Vô...  Vai  ver que meu amargo maior foi não ter aprendido violão com o senhor, não ter visto tua face morena em sol maior...


Fica com teu anjo, Vô.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Com carinho, ao meu quadro torto



Ainda ontem me peguei recordando à  gargalhadas solitárias...

Teu tom não me agradava, os olhos me desafiando,
O sorriso cínico no canto do quadro atípico que é teu rosto.
Foi provocação a primeira vista, no sentido de sempre, claro.
Parecia que desde o início estávamos fadada s a nos envenenar por olhares,
Não é? É assim até hoje, amanhã e depois do feriado,
Eu de gêmeos, tu de escorpião,
Deus devia estar com um humor bastante peculiar quando nos apresentou!
Lembra-se, minha querida? Ofereceste-me um copo de vinho e eu ainda nem bebia,
Recusei educadamente o que oferecias e tu ainda fizeste piada com minha timidez,
E pra variar, meu bem, era sexta-feira!
Nem me lembro de quantas vezes te ignorei nos bares da minha vida,
Fingia não te ver passar e tu fazias o mesmo
e contávamos sempre a um alguém que havíamos nos visto,
Até que um desses dias perdidos de Janeiro,
Estava eu sentada no banco da sua casa recusando um copo d’água!
De certa forma travamos nosso maior diálogo até então,
E balancei a cabeça para todo o resto dos questionamentos feitos...
O surpreendente foi no mês seguinte virarmos confidentes musicais!
Com direito a Céu sem Dó, seus acordes dados e com muito Sol maior...
Fomos passadas pelo pré, pós e carnaval, à dança de Tulipa,
Com lembranças e verdades embaçadas de cachaça, vinho e cerveja.
E hoje, minha cara?
Nem nos demos mais o cuidado da cerimônia, dos elogios e das críticas
Não evitamos mais as gargalhadas, o zelo e o carinho disfarçado de escárnio.
Parecemos duas crianças ao som de um cavaquinho e um pandeiro invisível,
Que sempre fica no batuque do corpo, em um cantar desafinado.
E hoje minha cara?
Já nos cantamos no que eu sempre chamo de “teu samba meu, meu samba teu”.
Escrevemos projetos de prosa e poesia,
Presenteaste-me com um quadro torto, uma caixa de giz, um brega francês,
E tantos outros versos que são tão meus quanto teus
Sorteamos dias para que nossas falas se desentendam e terminem em dois perdões.
Mês passado te emprestei   barquinho de papel que me deste, lembra?
Aleguei que ele te traria sorte, mas foi para não sair de perto de ti,
Sabia que estavas com medo,
E como eu sempre digo: Confia em mim, se eu tô dizendo vai dar certo!
Mas o quero de volta, viu, tu tens a mania de perder tudo, principalmente as lembranças.
E por falar em lembrança, essa é a primeira vez que te desejo feliz aniversário,
Que te desejo formalmente mais luz nessa vida tua,
Mas sem esquecer, meu bem, que até hoje me deves um café, mesmo sem eu gostar,
Até porque nossa amizade foi engatinhando nas nossas insônias compartilhadas,
Nas nossas belezas emocionais e nas nossas franquezas olfativamente musicais.

ps: Fica feliz que vai funcionar!

domingo, 30 de outubro de 2011

Tempo, tempo, tempo, tempo...


Alguém pediu o consentimento do sol para lhe atribuir um horário?
Roubaram-lhe um raio!
O horário de verão aumenta a carga horária da nossa estrela,
Acabam por atrasar nossos olhares para o tempo.
Mas a questão não é atrasar o relógio em uma hora.
 Uma hora a mais, uma hora a menos, tanto faz... 
O problema é que atrasamos a vida no mesmo período todo ano,
 e quando o verão chega não tem mais jeito, 
 a vida foi mais uma vez atrasada!
 E enquanto alguém insistir em  acordar o sol uma hora mais cedo,
deixando-o com mau humor matinal antecipado,
 iremos continuar atrasados nessa vida atrasa,
 mesmo o relógio dizendo que estamos na hora...
Perdidos,
 sem nem saber para onde vai uma hora dessa vida perdida.


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Eu, tu,ele, nós, vós, eles, tu, nós, eu, de novo, oi?


Normalmente se diz por ai que tal lugar é um ovo, que é uma bola, qualquer coisa dessas de médio porte. Mas a verdade é, meus caros, ovo Recife jamais será, se um dia foi é porque não existia redes sociais, open bar, muito menos a UFPE. Sim, porque a cada dois passos você fala com alguém, que fala com seu amigo, que você nem sabia que e seu amigo conhecia, que é ex da irmã desse seu amigo, e assim vai esse nó que no final todo mundo conheceu todo mundo de alguma forma, nem que seja pelo nome, apelido ou trela cometida!

Na minha humilde opinião, isso é o que menos importa, conhecer as mesma pessoas até facilita o convívio e vida social. O problema é, como toda qualquer espécie de animal, quando o convívio é grande, os laços aumentam, se é que vocês me entendem, esses laços amigáveis passam a ser afetivos, ou carnais, como queira. E quando você vê, já tem gente demais na história, parece uma feira, bolsa de valores de NY, e você pensa naquele velho: Vai dar merda!

Pois bem, meus caros, e dentro de toda essa avalanche de laços afetivos, começa uma espécie de teias, de ligações intermináveis, assemelha-se até a um cubo mágico, ninguém consegue resolver. Chega a hora em que não é mais possível raciocinar como começou, por quem começou, e muito menos, onde vai acabar. O que é de nosso conhecimento de mundo é que esse processo é digno de uma Terceira Guerra Mundial com tudo que tem direito. É gente morrendo, gente querendo matar, gente saindo sem uma mão, sem um braço, e não, não é legal! A impressão que dá é que o número de pessoas para você se relacionar é limitado, nessas situações! Você corre e acaba por namorar alguém que foi ex da sua amiga, que por sinal namora um ex seu, OI? E você percebe que no meio do caminham tinham pedras, ou melhor, um clico vicioso! Você se enxerga em uma verdadeira quadrilha não digna de Drummond nem da Flor da Idade de Chico!

Dentro desse anarriê desenfreado, cavalheiro cumprimente sua dama, os cidadãos começam a se comportar de forma estranha. Em um dia estão todos bem, na paz do Cosmo, no outro aparecem trocando farpas, mas porquê? Houve troca de pares na certa! E não adianta fugir, de alguma forma alguém lhe insere na quadrilha e quando você menos espera está no meio do furacão! Tudo que você que é sair, conhecer alguém que não conheça ninguém, e é assim que os estranhos se tornam atraentes. E o mais interessante dessas quadrilhas amorosas é que a gente dança, não sobra nem uma vassoura sequer, mas até para chorar as mágoas de um par perdido acontece em conjunto, porque consequentemente alguém teve de largar outro alguém para se unir ao seu ex alguém, confuso não? MUITO!

Mas o melhor, O MELHOR de tudo é que sempre chega um desavisado, nosso J. Pinto Fernandes ou nossa Dora, que não está nem um pouco preocupado com a bola de neve, o bombardeio, as mortes de amor retoricamente. Ele simplesmente tira um par para dançar, tira a peça do meio de um torre de cartas, dar um tapa na nossa cara com luvas de veludo, esbouça um sorrisinho no canto da boca e quem dança somos nós! Alavantu! E como diz Cartola: Rir pra não chorar!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

I.I


E foi como tirar todas as vírgulas da respiração...
Desfazer o crochê desenhado pelas linhas das mãos...
Manchar de tinta marrom o amarelo dos girassóis...
Tirar o prazer de se sujar tomando sorvete de flocos...
E o cigarro foi
a
pa
gan
do
...
Sem cinza,
Sem cheiro nos dedos,
Só o gosto da fumaça,
E o cigarro
(mal tragado)
apagou!



terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dois goles


E no dia 11 de outubro, dia de seu aniversário, ela foi ao encontro de sua mãe no café. Caminhou até o outro quarteirão e junto aos seus passos uma questão a ser esclarecida...
Conversaram. Comeram. Abriu o presente. Sorriram, e depois de duas horas de conversa ela perguntou:
-Mãe, por quê quando eu nasci a senhora e meu pai
não me deram um pé de feijão ao invés de um coração?



A colher bateu na xícara duas vezes,
o café foi adoçado,
e o silêncio se deu
em dois gole.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

17 graus celsius

(...)
Havia esquecido o rádio ligado, não sei bem se era rádio ou tava tocando cd... Algo tocava insistentemente, "É sexta-feira, amor!É sexta-feira, amor!"¹ ... Bocejou, passou a língua nos lábios, eles tinham marcas de sal, não, tinha gosto de sal, ela nem tinha jantado antes de dormir, mas apesar de todos os não indícios, os lábios eram duas pitadas de sal. Olhou pela janela, quase sem abrir os olhos e fechou as cortinas rapidamente. No rádio dava 34 graus, na caixa de costelas dava exatos 17 graus celsius. Então decidiu abrir os olhos ainda embaçados, bateu nos móveis, como de costume e entrou mais uma vez na "mecanicidade" diária. Passar roupa, escolher as meias, pegar a toalha e ligar o rádio para tomar banho, mas dessa vez tinha algo faltando, algo sobrando, até que ao abrir o chuveiro e sentir alguns meses da vida caindo gota por gota, não do chuveiro,dela mesma, a vantagem foi que ela descobriu o motivo do gosto de sal na boca. Quando saiu do banheiro foi questionada pelas gotas jogadas no rosto e deu a seguinte resposta: foi o chuveiro, deve ter algum problema com a água, ela tá salgada.

E de fato devia fazer não 34, mas uns 36 graus, mas seu inferno pessoal era tão mais frio, tão mais algoz que duas blusas só surtiam efeitos estéticos e para disfarçar as reclamações corporais vermelhas. No leite - com - café, duas colheres de açúcar e uns flashs do dia anterior, sabe quando você vai apagando aos poucos que sua vista se assemelha a uma câmera de flash esquizofrênico. Um gole. Acendia. Apagava. E isso seguiu pelo resto do dia, um acender e apagar de luzes na sua retina. Mudou o perfume para não sentir o próprio cheiro. Calou-se. Cansou-se. E no final de tudo... O sal virou amargo, a água amargava, o almoço, a coca-cola, a lágrima, a mão, os abraços e o vinho.

A única coisa que ela lembrou no final do dia, a música que tocava insistentemente pela manhã se chamava "Ponto cego" e que teria que aprender a conviver com o amargo da boca, sem bom dia e boa noite. Então cantarolou para si "Ah, dindi, se tu soubesses como machuca não amaria mais ninguém..."²

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Outubros, setembros, carnavais...


Só faltava uma gota de beleza,
Dois copos d'água,
Um copo para cada corpo
Um corpo que pára o congestionamento de almas
Quatro ondas para cada sonho inacabado
E o trem que sempre sai da estação fazendo-a acordar antes que sinta
Sinta o a flor na pele e o mundo na cor dos olhos dela
Os cílios matinais deixados no travesseiro, salgados, sempre com marcas de dedo
Pedidos espalhados pela cama
Os corpos mexidos e uma xícara de café cru
E as marcas do trem que nunca alcançou em seu pescoço
Marcas sem cicatrizes, marcas pelos caminhos desenhados em suas pernas
Tatuagens de outubros passados, dos setembros futuros do carnavais de março
Então o último pingo de beleza deslizou na boca da sua taça de vinho
Embriagou-se da última safra de felicidade
E na insônia seguinte alcançou o trem, sem indicação de destino
Entrou e repousou os lábios uma, duas, três vezes
Beijou as mãos, a nuca e os olhos do amor.








sábado, 3 de setembro de 2011

Sim!

Um dia desses eu estava conversando com uma amiga minha sobre a fragilidade da felicidade. Não que seja um estado de espírito pequeno, fraco, mas pelo fato de ser uma tarefa bastante difícil sustenta-la. E minha amiga cantarolou os versos de Vinícius “tristeza não tem fim, felicidade sim”, pois é Seu Moraes, o senhor e seu whisky têm toda a razão.

Eu, particularmente, assumo que não sei lidar com felicidade. Ai, gente, é muito difícil, é ótimo se ter, mas como já disse, pense num negoço difícil é manter. E eu então que tenho um bloqueio na criação de textos terrível quando estou feliz. É tão mais fácil estar triste. Porque quando você está triste você chora, enche a cara, escreve loucamente, se descabela, aluga seus amigos com uma história que se eles se juntarem contam melhor que você com direito a extras, erros de gravação e em idioma diferente. Você come de menos ou de mais, reclama o dia todo, fica olhando pra nada perigando que uma mosca pouse em seu nariz por pensar ser um objeto inanimado, vai para outro plano espiritual e não se concentra em nada.

É decretado o estado de fossa em seu corpo, em sua vida pessoal e principalmente na sua playlist! Você passa horas e horas, dias e dias, ouvindo as mesmas músicas, se brincar você já tem uma pasta em sue computador com essas músicas escolhidas a dedo. Começa com você ouvindo as músicas que lembram a criatura ou a situação, e termina com você apelando pra Maysa, Fagner, Adriana Calcanhotto, Cartola e adentrando a madrugada ouvindo “Sinônimos” de Chitãozinho e Xororó! Seus amigos te dão colo, ouvidos, corpo todo e paciência, principalmente paciência. Isso quando um ou mais de um deles não estão na mesma situação que você.

E quando se estar feliz o que é que a gente faz? Ninguém suporta aquele sorriso de comercial de creme dental o dia todo! No mínimo irão te chamar de abestalhado. E a felicidade é tão frágil que você não sai alugando todo mundo pra contar o motivo pelo qual você está daquele jeito, você conta aos mais íntimos, e para o resto você sai com aquele “sim, tô bem”, dizer que está “ótimo”? JAMAIS! Se alguém diz que queria está como nós estamos, pensamos logo que é olho gordo. Você como normal, dorme normal, bebe normal, ouve as outras pastas de música do computador, ouve “O mundo é o moinho” como quem ouve uma receita de peru de Natal, não dá a mínima.

Cadê a emoção? Cadê o conflito, gente? A sociedade está mais preparada para conviver com pessoas tristes a conviver com pessoas felizes, ser feliz incomoda o vizinho. Temos trezentos argumentos para preferirmos a tristeza, ganhamos mais dengo, há pessoas que até chegam ao peso ideal, mas para que concordar com a maioria justo agora? Eu não sei conviver muito harmonicamente com a felicidade, mas aprendo, sempre fui (e sou) do contra mesmo e meu horóscopo que tire as luas do meu signo e se acostume com minha felicidade.

sábado, 27 de agosto de 2011

Ah... O corpo humano


Ah, o corpo humano! Pense em um quebra-cabeça perfeito. Cada peça no seu lugar. Há quem enxergue como padronização, aquele velho “o que você tem eu também tenho”, ledo engano, meu caro! O corpo humano, não biologicamente falando, é um labirinto de particularidades. Um sinal diferente a já passa a ser a moradia corporal do vizinho.

Há aquelas situações sem finalidade alguma onde nos é perguntado quando parte do corpo preferimos, ou aquela “qual parte do corpo você prefere?”, no outro, claro. E como tudo no ser humano, até as partes do corpo dele se tornam clichê, sempre surge um top 3: boca, olhos e cabelo. Se você disser que é o pé, irão te chamar de doido, se disser nariz, a opinião será até aceitável por uma comissão julgadora altamente especializada, seus amigos! Mas alguém já parou para reparar nos ombros? Seja sincero, pense um bocadinho se já parou para observar com um pouco mais de zelo os ombros. Ótimo, tempo esgotado, senão você não acaba de ler isso aqui... Eu olho, e acho-os uma das partes mais particular no corpo de uma pessoa.

Mas vamos às minhas observações geminianas... Os ombros são a parte mais expressiva do corpo. Os ombros expressam o que os olhos e a boca não conseguem expressar. Os ombros às vezes se sentem tão autônomos que se dão ao luxo de responder o que a fala não consegue enunciar! Os ombros são uma das válvulas de escape do seu estado de espírito, se você fica nervoso eles ficam duros como pedra, vem alguém e diz que você está tenso. Se você está em paz, assobiando, chupando cana e com dinheiro na conta, eles ficam molinhos, molinhos. Se nos alteramos a primeira coisa que fazemos é os levantar. Quando estamos em dúvida eles levantam-se e abaixam-se como sinal de “e eu lá sei” ( o famoso ‘sei lá’). Quando ficamos tímidos eles servem como esconderijo de maçãs do rosto rubras e sorrisinho no canto da boca. Quando alguém nos chama eles são cutucados com sinal de “ei”.

Nossos ombros também servem como artefato de sedução. Quem já não se pegou mexendo-os lentamente envolvendo o outro? Algumas músicas despertam seu lado predador utilizando os ombros como um play para o resto do corpo se manifestar, antes até dos olhinhos meio abertos, meio fechados, do risinho do cantinho da boca e do balançar do pescoço! (Dica...Comprovem isso ouvindo Amy Winehouse). Eles também são os privilegiados da alta concentração de massagem, até porque em outras partes do corpo requer lugar específico, servem também para ignorar as pessoas, é só um “dar de ombros” e pronto, como já dizia o escritor de “A menina que roubava livros” que eu nunca sei dizer ou escrever o nome da criatura!

E por fim, os ombros são um lugar de consolo, e pra mim em particular, um lugar de carinho. De consolo é aquele já conhecido “encosta tua cabecinha no meu ombro e chora”, mas não serve só pra explorar o outro com lamúrias, serve como lugar para cochilos, lugar para passar fila ao colega da frente, lugar para encostar o queixo e ficar parecendo meu cachorro pedindo algo. E de carinho, é uma mania que eu tenho e outras pessoas com quem convivo, a mania de beijá-los. Sim, acho mais carinhoso que beijar as bochechas, ou a testa. É tão mais fácil abraçar e dar um beijo no ombro a se contorcer todo só para dar um beijo no rosto. Ou quando seu amigo(a), namorado(a), mãe, pai está ao lado, você dá aquele beijinho no ombro e dá um risinho meio tímido que deixa o cidadão besta. Então beijemos, massageemos, ignoremos, suspiremos com os ombros! Afinal, os olhos e a boca já estão ocupados com otras cositas más!

domingo, 14 de agosto de 2011

Onde esconderam o amor - Parte final

(...) De tanta angústia ela resolveu deixar a linha caminhar com as próprias pernas, não trocava um “boa noite” sequer. Até que chegou um dia que ela pegou um pedaço de giz da mãe, subiu no ponto mais alto da árvore, amarrou um lençol em uma estrela, deu um nó que nem um raio soltaria. Ela estava tão transtornada, tão transtornada, porque a linha estava sumindo, estava se apagando e aquele caos estelar estava por se instaurar, e ela não queria deixar que as paixões deixassem de existir, se negava a acreditar que as pessoas se recusavam a apaixonarem-se.

Naquele momento ela estava decidida a pintar de giz o céu inteiro para fazer uma circunferência, agora inteira, e que todos os amantes do mundo olhariam aquela bola branca com admiração e renovariam seu amor. Então ela fez apenas uma pequena circunferência e dentro dessa circunferência escreveu, ainda com o giz branco, uma pequena palavra. E aquela atitude foi tão inesperada que não só a cidade, mas cidades vizinhas, países vizinhos, as pessoas observavam uma menina pendurada nas estrelas tentando fazer uma bola branca que nunca saia perfeita. E de repente aquela circunferência mal feita começou a crescer, crescer e crescer, foi na hora em que ela viu que a paz estava instaurada no céu, as estrelas respeitavam aquela bola pintada de giz, todas brilhando na mesma proporção para fazer aquele objeto novo ser admirado pelos apaixonados.

E o que todos viram foi a menina descer por aquele pedaço de pano do céu, correr para a janela desesperada procurando a mãe, correu até a sala, até que a achou e disse: Mãe, mãe, a senhora viu a lua, ops, a linha? A mãe sorriu como de costume, e fez:meu bem, essa sua lua, esse seu ato falho são feito as paixões, jamais programadas, jamais controladas, quando você menos espera, sai, acontece.

Os olhos de criança da menina brilharam, tanto quanto a própria linha que acabara de ser batizada como lua, e ela disse: Lua, lua dos namorados, lua dos amantes, lua dos apaixonados, lua cheia, lua vazia, lua que parece linha, que indecisão, meu Deus, é melhor deixar só lua! Prazer em conhecer-te, eu sei que estás no ponto mais alto dos sentimentos, estás na vista dos amantes, mas olha, eu desenhei dentro de ti uma palavra que nem todos irão enxergar, que nem todos entenderão, então, lua me promete que esta palavra não virará uma mera palavra? Dai a lua respondeu: mas que danado de nome é esse, minha menina? E qual o problema d’eu a exibir? Então ela sentou, fechou os olhos e disse suas últimas palavras antes da lua desaparecer e dar lugar ao sol: Escrevi amor em teu interior, mas nem todos conseguirão projetar este amor nos olhos e enxergá-lo em ti, pois o amor, lua, nem todos têm tempo e vontade de vê-lo, e muito menos realiza-lo. Pois há quem o desdenhe, há quem se negue compartilhá-lo, então, lua, só mostre o amor a quem ainda sonha, mostre amor aos que tem medo de amar e ainda assim amam, aos que nem sabem o que é o amor.

E dizem por ai que foi assim que criaram a lua, e por isso esconderam tão longe o amor.

sábado, 13 de agosto de 2011

Onde esconderam o amor - Parte I



Sabe essas histórias que a gente ouve e fica na cabeça a semana toda, feito música ruim, fica martelando, martelando e você conta a um, a outro e a bendita não sai da cabeça? Um dia desses, que eu nunca lembro quando me contam as coisas, ouvi meio sem querer uma dessas lendas de como certas coisas foram criadas, já tinha escutado de tudo, mas essa história, sinceramente, deixou esse ser humano aqui tão encantado que eu cheguei a sonhar com a situação e imaginando o rosto da protagonista, mas sem mais dois pra cá, dois pra lá, irei direto a história...

É mais ou menos assim... Dizem que lá pras bandas desses lugares rodeados de mato e muito mosquito nasceu uma menina. Uma linda menina que apesar ter se tornado uma linda moça ainda conservava aqueles olhos de criança, olhos risonhos, olhos que não decidiam se apareciam escuros ou claros. E neste lugar, que não me recordo o nome, os dias eram lindos, criança correndo pelos campos, velhinhas vigiando seus pés de fruta, que não usufruíam, mas nunca deixavam que ninguém colhesse uma manga sequer. Mas as noites eram um mistério, era uma escuridão sem tamanho, no céu só se via pequenos espaços que escapavam luzes.

Com o decorrer do crescimento dessa menina o céu ia ficando cada vez mais lotado dessas luzes, era uma concorrência incrível e ninguém para controlar aquele engarrafamento de luzes. Por volta de seus 10, 11 anos a menina começou a questionar-se sobre aquela bagunça que se tornara o céu. Até que sua mãe disse que aquelas luzes descontroladas se chamavam “estrelas”, e ela questionou a mãe o motivo daquela desorganização, a mãe riu e disse que elas brigavam para ver quem era mais admirada pelos namorados aqui da terra, e nesse dia a menina aprendeu duas palavras: estrelas, e a mais complicada, namorados.

Quando a menina chegou aos seus 18 anos o céu estava cada vez mais caótico, as estrelas se espremiam e ela pensava, “será possível que existem tantos namorados para o céu tá numa bagunça dessas?”. E enquanto o céu estava tão cheio de estrelas, dentro dela dava para ouvir o silêncio, a ela faltava algo, faltava-lhe companhia, tinha sua mãe e mais ninguém, mas não bastava. Então em meio a um sonho ela viu uma bola branca, no meio de toda aquela confusão estelar. Acordou-se e passou o dia, ansiosa para que a noite batesse logo a porta, e quando a noite bateu ela correu para fora, pegou um pedaço de tijolo, subiu em uma árvore e começou a desenhar entre as estrelas, circunferências estranhas, que nunca chegavam a ser realmente uma circunferência. A primeira noite foi frustrante, as estrelas a empurrara e ela quase cai da árvore, mas na segunda ela foi persistente, conseguiu fazer uma meia circunferência, mas o sono não deixou que ela completasse e no outro dia as estrelas mal a deixavam subir na árvore, então ela passou um período só conversando com aquela meia circunferência até perceber que ela estava crescendo.

Ai a menina perguntou “ô linha, porque cê tá crescendo tanto? Eu nem terminei de te desenhar!” E a “linha” disse que eram as paixões, o amor, quanto mais pessoas se apaixonassem, amassem, mais ela cresceria instintivamente, pois os amantes tem mania em olhar o céu, e aquele traço que aparecera tão recentemente no céu os chamava a atenção, e quanto mais atenção mais a linha cresce. Foi então que ela percebeu que amar, estar apaixonada era uma coisa boa, e que além da linha crescer, o vazio no peito diminuía, e ela questionou-se “como ainda tem gente que nega se apaixonar?”. E por meses e meses viu aquela linha encher-se de brilho, e depois de um tempo aquela linha servia como um percentual de pessoas apaixonadas. Desde essa descoberta do lado bom das paixões seu coração ao invés do vazio, começava a ficar apertado, era tanto sentimento, tanto amor, tanto afeto com necessidade de ser compartilhado que a menina cada dia que passava ficava mais angustiada...

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Feliz cidade


E no meio de tanto entretanto ela se deparou com uma menina que gostava de ver as pedras pularem de alegria nas águas que encontrava. E ela pensava qual a finalidade daquilo? Era lindo as pedras saltitando de alegria nos rios, mas ela se questionava, meu Deus, para que mais pedras em um lugar que já tem tenta pedra? E nunca encontrava uma resposta, a única conclusão a que chegava era que ela não conseguia fazer as pedras tão felizes quando aquela menina que parece só se ver em filmes franceses com muito verde e vermelho na fotografia. A verdade é que todo aquele ritual de catar pedrinhas pela rua, colocá-las no bolso e jogá-las na água era para que, de alguma forma, a menina visse a alegria que ela tanto procurava refletida em algo, alegria esta, que poucas vezes conseguira obter.
Naquele momento de água na pedra, pedra na água, sorriso no rosto e dedos sujos de terra, ela, a menina do casaco verde e de saia vermelha, era a água e pedra. De certa forma sentia prazer em despertar a felicidade nas coisas independente dos pingos de água que bateriam de leve em seus sapatos marrons. Não, ela não poderia ser só pedra, muito menos só água. Ela era o ritual, o vício, o atrito entre a pedra e a água, e se as pedras não pulassem, e se as pedras não encontrassem a felicidade que ela lhes queria causar, simples, ela tentava novamente, e novamente, e novamente...
E era o que basicamente o que essa menina, a que não sabia manusear as pedras tentava fazer com as pessoas a qual sentia algum afeto. Tentava de alguma forma fazer com que elas se sentissem tão alegres quanto as pedras saltitando nas águas do rio. O problema é que ao contrário das pedras, nem sempre as pessoas estavam dispostas a se deixarem ser alegres. Aquele atrito entre a água e a pedra, nas pessoas o atrito acontece entre o medo e a possibilidade de ser feliz afinal, felicidade assusta. Mas essa menina de tantos entretantos, em um desses momentos tantos de devaneio chegou a inúmeras conclusões, nenhuma que lhe dessem Nobel da Paz, ou teorias que culminariam em um Ensaio ou Artigo científico, a conclusão a que chegou era que aquela menina das pedras construía sua fortaleza com cada pedrinha suja de terra que jogava na água, que proporcionar felicidade é de uma delicadeza imensa, de uma sensibilidade e contentação maior do que quem a recebe. E se questionou como ainda tem no mundo quem se nega a ser pedra? Como as pessoas optam por um agendamento de felicidade, quase sempre sem valia?
E no final de todas indagações possíveis ela não segurou o choro, e do canto dos seus olhos foram caindo pedrinhas, batiam na lágrima, no canto da boca e jamais paravam no peito, e no final daquelas lágrimas sem explicação ela colocou as mãos nos bolsos, sujou os dedos de terra e percebeu que a felicidade estava tão palpável quanto aquelas pedras, então enxugou as lágrimas, fechou os olhos lentamente e abriu um sorriso do canto direito ao canto esquerdo da boca, como quem quisesse dizer alguma coisa, mas ficou só no sorriso, com as pedras e com o propiciar da felicidade.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Homem de lata? RÁ! A tendência é ser wi fi!

X



Sabe aquela história de que você convive tanto com uma pessoa que acaba por adquirir as manias, características, gestos, modo de falar, e otras cositas más. Procede. Procede inclusive com o ser humano e os objetos, a casa parece com o proprietário ou morador, o violão tem o jeitão de quem o toca, certas roupas já tem a cara de quem a veste, e assim continua esse dois pra cá, dois pra lá. Mas já reparou essas pesquisas que são divulgadas pela mídia? Àquelas pesquisas que medem o nível de dependência eletrônica das pessoas? Pois bem, o ser humano está a cada dia que passa mais parecido com seus dispositivos eletrônicos, mas não conseguem chegar ao patamar da praticidade que esses objetos alcançam.




A questão é simples, ao contrário do ser humano, esse objetos não optam por serem deficientes de sensações, eles só obedecem aos comandos e não fazem nada além do que está em seu manual de instrução. Eles não optam a não pensar no próximo, afinal, eles foram criados com a finalidade de ser canal de interação do ser humano com outros seres humanos e não para interagirem com o ser humano. Mas voltando... O propósito desta minha observação é alarmar esta contaminação de pessoas tão semelhantes a aparelhos eletrônicos, crianças robôs (Lembram-se de Maísa? Um dia vocês me darão razão), moças, rapazes, todos robôs. O caso é sério, tem pessoas que se balançarmos dar pra ser ouvido o barulhinho das peças caindo, porque além de serem robôs ainda tem peças fora do lugar. Há aquele tipo de ser humano computador, que não dá para travar nenhum diálogo que não seja on line, porque on line não corre o risco de você querer pular no pescoço do cidadão de tanta tolice que ele consegue reproduzir.


Mas o caso mais grave é o autêntico robozinho/humano, “humano” é usado só por conveniência, para não esquecer que ali jaz uma pessoa. Este caso é típico, e modéstia parte daqui uns dias eu estou dando consultoria, é o simples fato das pessoas esquecerem que são pessoas, e o principal, esquecem que as outras pessoas também são pessoas e podem não parecer tanto com seus aparelhos eletrônicos! Os sintomas não são perceptíveis no início, até a primeira discussão, você baixa um ginasta, dá piruetas, saltos, abre escala, descabela-se, e a criatura continua sentada, parada como se você lhe tivesse oferecido uma xícara de chá, e no final de toda sua performance ela diz a você que não sabe o que dizer. Ai você senta e chora, porque além de robô, é um robô mudo que não consegue construir um mero enunciado.


O pior nessa espécie são as pecinhas que faltam no peito, peças que foram tiradas do lugar anteriormente e eles não quiseram coloca-las de volta ao lugar, ou peças que ali nunca estiveram, é alarmante, pois esta espécie é deficiente de coração, de sentimentos, de qualquer coisa que haja interação entre você e ela. Você procura de todas as formas humanizar aquele ser humano, fazê-lo sentir, fazê-lo demonstrar nem que seja raiva, mas não, esforço em vão. Além de se negarem a sentir, a ter afeto por outras pessoas, acabam plantando uma sementinha dessa parte robô que o cabe no coração de quem tenta fazer com que ele lembre que são humanos. Vocês estão vendo como ocorre a reprodução da espécie, floresce no coração, o sufoca até o cidadão coloca-lo da boca pra fora junto com algumas palavras sem finalidade, e o joga na primeira lata de lixo que encontrar, e assim nasce esta legião de robozinhos deficientes de sentimento e afeto.


E contra toda essa legião há uma minoria que tem paixão saltando aos olhos, afeto em cada dente a mostra nos sorrisos desfilados, tem beijo e cheiro em cada abraço, tem carinho nos gestos mais simples, tem pulsar nos cabelos assanhados, vivacidade até no ato de chorar, chorar de dor, de tanto rir, chorar de amor, no amor, por amor, e como diz Drummond, tem amor, muito amor batendo na aorta. Então... O ministério da saúde adverte: Deficiência de sentimentos acarreta o aumento de robô entre nós, em caso de suspeita de ausência de coração corra!



quarta-feira, 20 de julho de 2011

Receita


Aos capazes, cultivai a felicidade

Aos felizes, aproveitai a vida

À felicidade... Apresentai toda dualidade presente na vida

Aos cansados, que sejam apresentados ao viver

Aos olhos, que sejam honestos com o que dilatam

À insensatez, os piores goles de realidade

Ao sentimento, o sentimento

Ao erro, cometei e aguentai a consciência

Aos desejos, a consequência do erro seguinte

À verdade, a verdade

À mentira, a culpa

Ao pensamento, os olhos abertos e a boca fechada

Ao arrependimento, o autoconhecimento

Ao perdão, que seja feito e não dito

Ao que interessa, o que vale a pena

Aos ébrios, as verdades largadas em um cálice de vinho

Aos sóbrios, uma vergonha estampada no rosto

Ao medo, o medo de desvendar o próximo

À coragem, a minha admiração

À tristeza, que seja apresentado os amigos

A ti, esta receita confusa de vida,

Este ressentimento recém chegado,

Este ser humano ainda em aprendizagem.

sábado, 16 de julho de 2011

Quatro minutos


Sentou-se
Esperou quatro minutos
Retirou-os
Na tela da vida, o esboço
O cigarro do bolso
Tocou-os
Nas pontas dos pés
Nas pontas dos dedos
Pensou, mais quatro minutos
Sussurrou
Mais quatro palavrasFinda! Minta!
Men...Sem respirar, sem a quarta palavra, lembrou-se
Sim, o cigarro cheirava a menta
Cruzou as pernas
Cruzou o mundo
Cruzou o amor
Encostou-se
Levou o cigarro aos lábios
Superiores
Inferiores, ali só os sentimentos
Sem um vestígio de saliva
Aspirou
O sonho
O futuro
E se passaram mais quatro minutos
Fogo
Calor
Afago
Não!
Fogo, mas sem mais queimaduras
Acendeu
A luz
O cigarro
Ascendeu
Nos gestos
Mais um, dois, três cigarros
Mas não traga
Fecha as cortinas dos olhos
E traga
As palavras
O cardápio de amores impossíveis
O preço a pagar
Traga o cigarro
Deixa-se cinza
Deixa tudo cinza
Esfumaça
A fumaça
Tudo turva
Ouve-se trovadores
Não, são trovões
Enquanto isso ela traga
Traz
Atrás
Atrai
A fumaça
O vício que sai da sua boca
A boca que deixara de ser seu vício
Escolhe uma música, tocou Cigarro¹
Traga mais uma vez o vinho
Traga a vida no canto da boca
Traga o sorriso das noites passadas
Cumpra o trato
No último trago
Desfaça o traço
E disse: Disfarça, a tua felicidade eu traço
Disse aos pulmões cobertos de névoa cinza
As cinzas faziam o chão de lembranças
Traga um cinzeiro
Leva! Revela! Releva
Traga o cigarro
Vai até a porta quatro vezes
Esperava um barco a vela
Ou um balão de quatro cores
Levantou-se e repetiu quatro vezes
Traga amor, traga amor, traga amor, traga amor
Mas o que lhe trouxeram foi mais uma paixão e uma noite só
Então traga a conta
Então entregou os pontos
Descruza as pernas
Dois goles de vinho
Traga o cigarro e lembra...
Tô fumando o cigarro da saudade”²

Foi só o que trouxe
Levaram tudo: amor, livros, filmes franceses
Traga uma, duas, três estrelas, traga o amor
Joga as cinzas dele no chão
Levantou-se!Por favor, traga a conta.
E entrou no seu barco sem velas, só cigarro.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ser, deixar ser, ser humano


Acho interessante o discurso que as pessoas trazem consigo, e como elas próprias dizem “em pleno século XXI”. Eu particularmente acho que a discrepância começa por ai, falar o século em que vivemos e não vivermos o século em que vivemos. Pois bem, em pleno século XXI parte da sociedade ainda vivem em alicerces de séculos passados, com valores e falso pudores ainda arraigados do fio da cabeça até o dedo mindinho do pé esquerdo. Além de pregarem o bíblico discurso do “livre arbítrio” erroneamente, como de praxe. O tal do livre arbítrio não requer inúmeras interpretações, longe disso, é apenas ter consciência de si, de suas escolhas e das consequências delas. Não existe o “depende” ou “meio livre arbítrio”. Se você de fato aceitar que o livre arbítrio não é exclusividade sua e que as escolhas de outrem não “dependem” da sua opinião você irá, de fato, estar vivendo o livre arbítrio. Nada relacionado a outras pessoas, por mais próximas a você que elas sejam, depende do que você considera aceitável ou não aceitável. A vida do próximo não é variação linguística ou roupa que classificamos como adequado ou inadequado.

Não me refiro a formas de vidas criminais, assassinos, traficantes, sequestradores. Refiro-me ao individualismo na hora de ser individualista. Ser democrático além do discurso. Grande parte do problema da “naturalização” do outro está no discurso. Um dia desses estava vendo “Profissão repórter” e em meio a uma caminhada, três ou quatro pessoas se pronunciaram com relação a um dado assunto como seguinte discurso: “nós os amamos muito, aceitamos, mas não concordamos com o comportamento deles, e se eles quisessem a salvação se juntariam a nós.” Como se ama, aceita, não concorda e oferece uma linear salvação e menos de um minuto de discurso? O individualismo a que me refiro não é atrelado ao egoísmo, mas a ser humano o suficiente para reconhecer o outro não precisa que você se comporte como uma cartilha de boas escolhas e maneiras para com ele. Esse individualismo é perceber que da mesma forma que você tem uma vida o outro também tem, ou seja, cada um que tem uma vida, uma oportunidade de ser feliz.

Há quem se orgulhe em dizer que aceita as diferenças do outro, mas que diferenças são essas? Ser deficiente físico, ser negro, homossexual, ser altista, não ter pais, ter tatuagens, piercings? Todas essas “diferenças” acabam em um ponto em comum, todos são seres humanos, e como todo e qualquer ser humano difere de todos os outros, nenhum homem é igual a nenhum outro homem. Portanto, essas “diferenças”, em tese, seriam equivalentes ao fato de eu não gostar de chocolate e meu melhor amigo adorar chocolate.

A questão não é tolerar, aliás, tolerar é uma das palavras mais sobrecarregada de maus sentimentos, em minha opinião. Tolerar é ser forçado a aceitar o semelhante em sua diferença, quando essa diferença é inexistente. Ninguém é obrigado a aceitar as escolhas do outro, muito menos de apoiar, mas de perceber que as escolhas foram feitas pelo outro, para a vida do outro e as consequências irão para o outro, não para sua vida.

Eis a linha fluorescente que existe entre você e o próximo, a vida dele não é a sua e muitas vezes por você não enxergar isso acaba por não deixar o outro ser feliz na sua singularidade. Passamos a vida correndo atrás de uma coisinha chamada felicidade e quando em alguns momentos a encontramos do nosso jeito, paramos de nos sentir humanos para nos sentirmos felizes, e por que não deixarmos que outras pessoas encontre no seu próprio caminhar o estado de felicidade? Nenhum ser humano é especial, nenhum ser humano é igual, mas uma coisa é certa, ninguém tem que esconder sua própria felicidade porque o outro não tem coragem suficiente para se deixar ser feliz. É como já canta Jeneci: "Felicidade é só questão de ser!"

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tem hora que a taça de vinho acaba...



Tem hora que o fio cede
Tem hora que os atos se excedem
Tem hora que a água dada seca mais que molha
Tem hora que a gente percebe que o prefácio de fácil só tem a derivação
Tem hora que o lirismo, que já era pouco, se cansa e vira Realismo!
Tem hora que é melhor jogar as lembranças pelo rádio
Tem hora que o nó é tão grande que precisa ser cortado
Tem hora que acaba.

Tem hora que todas as janelas que sempre estiveram abertas tem a necessidade de serem trancadas
Tem hora que acaba seu arsenal de 'segundas chances'
Tem hora que o copo que andava meio vazio inunda sua sala de estar
Tem hora que aquilo que você alegava ser sentimento se traveste de ponto final
Tem hora que teu próprio instinto para e cola nos teus olhos "pare, olhe, escute"
Tem hora que acaba.


Tem hora que a gente para de confundir desistência com covardia
Tem hora que você percebe o quão é corajoso desistindo
Tem horas que nem pontas de faca tem mais para você dar murros
Tem hora que uma palavra basta, que um olhar basta, que uma cabeça baixa!
Tem hora que o ombro falha
Tem hora que o peito é tão pisoteado que entra em um estado de anestesia geral
Tem hora que a música de fundo não faz mais efeito
Tem hora que teu despertador biológico decide funcionar
Tem hora que acaba.

Tem hora que o choro resolve dar lugar a um sorriso, por menor que seja
Tem hora que uma palavra triste deixa de ter mais significado que uma palavra que te dê alegria
Tem hora que as próprias horas fazem questão de te apagar (e desapegar da) a memória
Tem hora que o amor além de comer identidade, retrato, aspirinas, acaba também por se comer
Tem hora que acaba.

Tem hora que o interminável tango finda
Tem hora que toda aquela busca não passava de falta de afeto
Tem hora que masoquismo cede a cama para o prazer
Tem hora que tiramos um prédio de 19 andares das costas e percebemos que cabe no bolso da blusa xadrez
Tem hora que é bom ouvir quando Drummond pede calma
Tem hora que é bom sentir quando Chico pede para não nos afobar que nada é pra já
Tem hora que jogar uma tinta branca em toda aquele misto de sensações ruins é a melhor opção
Tem hora que acaba.

Tem hora que que a hora acaba
Tem hora que a música acaba
Tem hora que a tragicomédia acaba
Tem hora que a escuridão acaba
Tem hora que o que estava longe acaba
Tem hora que a taça de vinho se quebra
Tem hora que a garrafa de vinho acaba
Tem hora que o que sobra é apenas um cálice
E tudo mais se acaba.