segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Nicolah e o ponto de intersecção

Vendo um filme qualquer na tv, nem o nome dele Nicolah sabia, costume, ver sem saber o nome. Nele, no filme, ele ouviu um velhinho sem dentes dizer que o equilíbrio era o ponto de intersecção entre o céu e a terra. Ele não sabia o que era intersecção e perguntou a mãe:
- Mã, o que é inter.. intersec...
- Intersecção? Perguntou a mãe.
- É, isso!
- É quando duas coisas se encontram, cruzam-se.
- Ahhn, então o mar é filho do céu e da terra, e ainda por cima a pessoa mais equilibrada do mundo! E seguiu a ver o filme, com a felicidade de dar barrocas.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Salto sobre cantadas

Porque no fundo, ou na simples superfície epidérmica toda mulher quer fazer o que ela fez...
 Deu-me um sorriso tímido ao descer do ônibus, também pudera, estava eu, mais uma vez enrolado ao fio do meu fone de ouvido, camisa desajeitada e a tentativa, quase frustrada, de descer do ônibus sem cair. Então ela me deu um sorriso, quase que de consolo, um "eu te entendo" labial, não verbal. Não pude deixar de reparar, inicialmente nos cabelos, dignos de discrição romântica do século XIX, digno de discrição de um cronista apaixonado pelo sexo feminino, dos dias de hoje,  e o resto do corpo harmonizava, nos passos ágeis para o que? Não consegui saber. Ela tinha cara de nome forte e simples, Maria alguma coisa, talvez, Beatriz? Catarina? Não importa. Atravessamos a ponte juntos, um sol quase que geminiano que não sabia se chovia ou queimava, enquanto o vento me descabelava e eu, na tentativa frustrada de tirá-los do rosto, admirava como o vento respeitava os cabelos dela e não assanhavam-no. Eis a tônica, só o vento respeitava, no meio da ponte, uma, duas, três, cinco buzinadas. E ela seguia altiva, passos ágeis, e eu atrás, a admirar sua beleza, porque ninguém é de ferro. Mais algumas buzinadas, umas três, talvez. Até o "psiu" derradeiro de um caminhão de lixo, nossa mulher de unhas negras e íris cor de mel, colocou toda a lira que qualquer escritor maldito construíra à ela no bolso, e num gesto de bravura e brilho, mais contemporânea impossível, ergueu seu dedo do meio, apontou aos senhores do caminhão, soltou um condecoroso "filhos da puta", e com o mesmo dedo, pela primeira vez, ajeitou o cabelo, como sinal de xeque mate ariano. Olhou-me, pela segunda vez, com um sorriso de vencedora na maratona feminina de atravessar pontes, salto sobre cantadas, era puro charme, e sumiu no estacionamento. Ali eu senti uma imensidão de mulheres galhofando dos senhores do caminhão, todas na minha cabeça, românticas, contemporâneas, puro charme, com classe, pura fêmea.

domingo, 6 de outubro de 2013

Do dia


Ei, pera... Não, não, eu não quero discutir.
Oi? O que eu quero? Não, essa não é uma boa pergunta porque demanda eu te explicar o que quero de mim, o que quero dos outros, dos outros para comigo, tu sabe, eu falo muito!

Agora? O que eu quero agora? Queria tá sendo encarada pelo mar, chorar um bocado, sabe. Tu sabe o quanto o mar me deixa mole, bate uma tristezinha boa e depois dividir três cervejas contigo. Tu quer água? Tem doce de goiaba em cima da geladeira.
Tá bem, pode ir, bate a porta pra trancar direito. Te cuida, e cuida de voltar amanha pr'eu contar meu dia, pr'eu cozinhar pra ti, não te esquece de ir ao dentista. Eu também.