sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Carta à carta

Hoje, 03 de Janeiro, quase dois meses da confissão de amor e tanta coisa, entregue e nunca lida, resolvi escrever novamente, não a você, à carta, talvez a mim.
Eu menti, quando disse que ela não deveria ser lida, a verdade é que ele merecia, bem mais que deveria, ser lida por qualquer ser que se movesse e sentisse amo, sim, amor, aquele que tá na carta e no par de olhos da cara. Isso tudo é pra tentar me convencer a parar de te escrever, todo dia, antes de dormir. Um conto, um cravo, um poema, um sonho... Pequeno, grande, chato, esquecido, tudo te colocando nas minhas palavras, te colocando na minha vida. Eu vou parar, mas pelo que me conheço não vai ser por causa disso ou porque eu quero, por conselho de alguém ou por falta de cuidado. Eu vou parar de te escrever por cansaço, no corpo, na alma e no espaço do corpo, da alma e da cama.
Sei que tu não leu, mas na outra carta, eu digo que quero tua vida na minha, redundante... Isso eu tenho há meses, a verdade é que eu tentei colocar minha vida na tua, duas vezes, com uma desistência e uma mudança de ciclo. 
Eu ainda quero uma resposta, daqui a um, quatro, sete anos e meio. Um "eu li", "eu li e achei uma merda", "eu li, obrigada"... Eu iria fazer minha cara de nada e perguntar da tua vida ou se já tinha comido, porque meu estômago iria pedir comida pra tapar o amor. Eu iria rir, com a mesma cara de nada e dizer "por nada, foi de coração", típico. Iria querer te dar um presente e ir embora. Iria esquecer da carta e explicar o motivo do presente, iria gaguejar, suar, assanhar o cabelo e lembrar, enfim, da carta. O mais engraçado é que a única pessoa, ao meu redor, que não leu essa maldita carta, a porra dessa carta e não me ligou chorando, que não me abraçou, do nada e sem falar, depois de ler, que não disse que era linda, pesada, triste, que me chamou pra beber ou deu uma desculpa idiota para não se fazer e me fazer chorar, foi a quem eu escrevi. Mas acredita na minha promessa, vou continuar a escrever, vou te escrever de vez em vez até parar de vez, e ocupar todo corpo, toda alma e toda cama.

Amor,
Centopeia.