quarta-feira, 25 de julho de 2012

O sal de Bernardo



E é assim que vai ser agora, seu moço?
Depois de encontrar o mar criarás tendência a viver submerso? Sufocado?
Bernardo? Ei, Bernardo? Cê tá bem? Cê tá vivo, é... De verdade?
Acho que engoliste água demais,
Acho que engoliste água salgada demais, bebeste vinho demais
E tuas lágrimas já têm gosto de coisa amarga, nem de sal, nem de vinho...
Tu, Bernardo, ficaste tu e o mar em um mesmo nível,
Foram-se marés e conchas machucando todo o corpo
Teu peito, olhos e água viva, era um só, queimava, tinha cheiro de pólvora

Não te tornas elefante, assim nunca te tornarás peixe
Peixe de água doce, peixe igual a pássaro, menino do banho de chuva 
Bernardo? Ei, Bernardo, lava teu peito, desmancha o sal,

Tira o vermelho dos olhos, faz as pazes com teu mar,
Faz as pazes com o amor e volta a ser maré baixa
Bernardo? Ei, Bernardo, acredita no teu bem,
Acredita no mar invadiu os olhos ao te ver afogar em sal,
Ao te ver sublimado em nada.


Com carinho, a Elilson Duarte.


segunda-feira, 9 de julho de 2012

Nicolah e o galo


Nicolah costumava acordar bem cedo, ia para a janela e ficava tentando achar os galos da vizinhança que cantavam, mas ele não os via. Um em específico o deixava curioso. Mas nesse dia, deu sete, oito da manhã e nada do menino se levantar, até que sua mãe foi até o quarto para saber o que estava acontecendo. E o encontrou só com a cabeça para fora do lençol, olhando para o os desenhos do teto e com um relógio ao lado do travesseiro.

Mãe: Nicolah, tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
Ele: Não, quer dizer, mãe, não sei, é esse galo que...
Mãe: Que galo, menino?
Ele: Esse, mãe, que começa a cantar antes de todos os outros. Todo dia às três e quarenta e cinco da manhã.
Mãe: Ô, menino, e o que é que tu estás fazendo acordado essa hora?
Ele: Sendo educado com o galo, né, mãe! A senhora não me disse que a gente nunca deve deixar ninguém falando sozinho? Se ele canta, eu acordo para ouvir.




terça-feira, 3 de julho de 2012

O galo










Quatro e doze da manhã

E o galo me chamando pra cantar,
O amor me pedindo pra dormir,
O relógio despertando o céu,
Chacoalha, chacoalha  p'ro sol acordar
Bom dia, seu moço, hora de trabalhar!

domingo, 1 de julho de 2012

Rotina


(...)
Esquenta os pés
Esquenta as mãos
Esquenta a ponta do nariz
Esquenta a orelha direita
Esquenta o ombro

Amor, passa o lençol...

Esfria o café
Esfria o pão
Esfria o leite
Esfria a água do chuveiro
Esfria a pele
Esfria o cangote

Amor, passa a chave...

Morna a tarde
Morna o chá
Morna o chocolate
Morna a água na chaleira
Morna a bacia
Morna a boca
Morna a cama

Amor, fecha a cortina.