quarta-feira, 27 de abril de 2011

A(morfologicamente) falando!




Sabe quando tu estudas tanto uma coisa e ficas vendo aquilo em todo canto, associando tudo a esta coisa e acha que tá ficando louco, mesmo o assunto não te agradando tanto assim? Pois bem, ando me sentindo assim coma a tal da Morfologia, ando me relacionando mais com ela do que com pessoas. Quanto mais estudo, mais fico paranóica com as palavras e o automatismo, o pragmatismo, e esse caráter mecânico me irrita um cadinho, enfim, não vim aqui para reclamar e sim para (tentar) olhar a morfologia numa visão menos exata e mais humana!


Verbo sorteado, tam dam dam... Verbo (que não tem nada de abstrato) Amar!


Pense num verbo desconsiderado, pisado, achincalhado que é o tal do amar, viu. Primeiro, dizem que ele é abstrato, depois, ninguém mais conjuga e ainda confunde o pobre com o verbo "Gostar". Certo que ele não vive por ai em toda esquina, mas dizer que abstrato é uma malvadeza danada!


A raiz do verbo dispensa qualquer língua morta, deixa o Latim no chão, nada de "Ama/Amam/Amat", isso é balela. O amar tem raiz no verbo "encantar"! É derivado do verbo "Apaixonar", mais constantemente chamado por sua forma deverbalizada, nominalizada Paixão! É concretizado nos olhos, sim, seus olhos, isso que o nariz separa. Sabe aquele brilhinho sem vergonha que aparece nos seus olhos sem permissão? É o feto do verbo.


O amar consegue contextualizar a felicidade, que por sinal pode vir a ser também derivado do verbo, digamos que, é um passinho depois do feto. "Amar" é o melhor dos exemplos para "palavras complexas", mas uma coisa eu digo, se segmentar (dividir) demais vira bagunça, amor que é amor só se for a dois, como já dizia Cazuza! Tem aquele amar com prefixos pouco estranhos e muito constante na sua forma substantivada AMOR: Quase-amor e semi-amor. O amar provisório, aquele que todos se negam a ssumir mas já designaram esta função: amaNTE!Nesse caso é o malamar, porque amante é pejorativo demais, convenhamos.


Sem falar que este consegue ser "palavra fonológica" e "ortográfica" ao mesmo tempo, explicarei mas desde já avisando que as duas formas são duvidosas. O amar fonológico é aquele que gritam aos quatro cantos e na hora da realização passa longe de ser verbo, e descobre-se que foi equívoco! O ortográfico é aquele que ocupa folhas de caderno, muros, outdoors, tatuagens, faixas jurando conjugá-lo pelo resto da vida e no fim é tudo balela. Ah, e aquele amar gráfico, cê fica maia vermelho que doritos e coração pintado e desenhado por uma menina de 11 anos juntos, enrubecimento clássico!


Amar quando colecionado no seu pretinho básico "amor" vira 'morfema flexional aditivo', tudo isso pra se vangloriar e dizer que é cheio dos amorES! Amar quando espatifado na parede como vaso em novela das 9 na Globo volta a ser complexo DESamar, em outras palavras EX! Amar quando carinho é 'morfema derivacional', é um "amozinho" daqui, "amorzão" de lá!Ou o indivisível e clássico MÔ!


Mas a verdade, verdade mesmo, é que "Amar" é verbo de ligação, uma teia traiçoeira que liga duas pessoas num meio de toda essa confusão morfológica, e no final descobre-se que tudo leva a suas realização substantiva AMOR. É tudo derivado, é tudo um lexema (conjunto) só: carinho, encantamento, paixão, olhar, sentir, pensar, enrubecimento, zinho, zão, colecionado, chorado, dolorido, felicidade, abestalhamento! Está tudo junto na mesma panelado almoço de Domingo, tem para todo mundo, tem amar pra tudo que é adjetivo,substantivo e coração aberto! Perdoem-me os gramáticos e AMAntes de morfologia, mas é bem melhor falar A(morfologicamente)!



Com sua licença...


Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?



(Amar - Carlos Drummond de Andrade)






quinta-feira, 21 de abril de 2011

Baião de Um



Já era meia-noite e quatro, tinha que trabalhar no outro dia, estávamos ali. Dois. Dois dedos de cerveja e quatro goles de vinho ainda para tomar na garrafa. E como de costume, aleatoriamente me levantei, cambaleei e segurando na mesa de sinuca, resmunguei algo como...



* Vou ter de lhe abandonar
- Mas já? Logo agora que ia te chamar pra dançar!(E enfim, também se levantou e veio em minha direção)
*Terás de arrumar outro par, porque este está seguindo para casa pra tentar sonhar - Dirigi-me à máquina de música, escolhi um brega francês ou foi um jazz inglês, não lembro, e prossegui falando - Dei a partida, continue a dança com outro par, outras mãos, mas com a mesma música, que irei conversar com meu travesseiro.
- Fique! Não vá! Venha cá... Vamos dançar!
* (Dei os últimos quatro goles na garrafa de vinho e acabei cedendo) Solta a música, pega minha mão que eu não sei como se guia alguém que enxerga.
- É só se soltar, a melodia vai te levar.
* Vou tentar, fechar os olhos, mas se eu pisar no teu pé, meu bem, desconversa, sorri e releva. Fecha os olhos comigo, assim a gente nem sente que erra, nem sente que acerta, só sente a dança... Se é que dança.
- Com você meus pés se movem, se enrolam se perdem, mas logo se acham no compasso dessa dança...



Paramos de falar enquanto dançávamos.
Em cada passo que nós dávamos eu tentava não cair, tentava continuar em mim, mas aquela pessoa na qual me chamara para dançar quem era?
Eu não tinha consumido álcool o suficiente para não identificar quem era, mas os passos que aquele par dava eram estranhos, não era quem eu havia dividido garrafas de cerveja e vinho, só sabia quem era pelo cheiro que ainda me era nítido...
Deu uma e meia da manhã e a gente se tornando cada vez mais estranhos, cada vez mais aleatórios um ao outro, a impressão que dava é que a cada música que acabava uma pessoa diferente me tomava nos braços e me conduzia naquele bar...
Quando paramos de cometer aquele assassinato à dança? Quando os ‘pisões’ se tornaram mais incômodos, os calcanhares não aguentavam mais bater nas quinas das mesas do bar.
Tentei falar uma, duas, cinco vezes que eu me lembre, e cada vez mais a música ia aumentando, aumentando, meus pés enchiam-se de calos.
E então eu abri os olhos daquela loucura de tentar dançar com um par que a cada dança se tornava mais estranho a mim, cambaleei até o garçom que dormia por cima do balcão...


*Zé, me traz um vinho que começou a chover e meus pés doem...



Aquele par, que na verdade nunca fora meu, colocou para tocar outra música e por eu ter cedido tanto, tanto, mais tanto anteriormente, acomodou-se, não me chamou mais para dançar, esperava que eu me dispusesse a tirá-lo para dançar.
Tomei um gole de vinho e encerrei aquele número...


*Não quero mais dançar, meu bem, nesses teus passos, nessas tuas músicas, quem acabou dançando fui eu.


Então caminhei em direção a porta com minha garrafa de vinho, sem guarda-chuva, em direção a minha casa, tentar sonhar e conversar com meu travesseiro, desta vez, sem par. E sim, era um brega francês que dizia algo como “Je suis fatigué por lhe esperar, je suis fatigué por tentar lhe encontrar...”


quinta-feira, 14 de abril de 2011

Palavra - chave


Alguém lá disse que as palavras tem o poder de magoar mais que uma faca e blá blá..Balela, nada de lado negativo neste recinto, por favor... Parafraseando, metamorfoseando, interxtualizando e parodiando, enfim...Certas expressões mudam a vida de um cidadão, sabe aquele comercial da Sadia, eu acho, que dá um "plim" e o carinha corre pensando que é pizza? Pronto este "plim" milagroso surge posteriormente a estas expressões que desbancam o mais fantástico dos psicólogos/analistas/psiquiatras! Então, voilá...


- É de graça!

- A gente vai e volta e carro.

- Eu pago.

- Sua mãe falando seu nome completo.

- Vale ponto/ Vale nota.

-Pela metade do preço.

- Abrir um Doritos e perguntar: alguém quer?

- É Open Bar.

- Saldo bancário positivo.

- A fatura do cartão de crédito chegou!

- O trabalho é em grupo.

- Tô solteiro (a).

- Aprovado.

- Filha (o), suas tias e sua vó virão almoçar aqui.

- Eu te amo (tensodjemaisê).

- Chegue de manhã em casa que é melhor.

- Vai ter festa na casa do vizinho.

- Hoje não é seu dia de lavar os pratos.

- Fim de semana.

- Sexta-feira.

- A cerveja não tá quente.

- Livro disponível na biblioteca.

- Download concluído.

- Horóscopo do dia: Dia própício para boas realizações.

- A avaliação pode ser com consulta.

- Coca-cola.

- Fulano tá te encarando.

- Zorra Total e Casseta e Planeta vão sair do ar.


- Ganhei na Mega (impróvável).

- Estudante paga meia.

- Mulher até tal hora não paga.

- Caixa disponível, e...

- Parabéns você foi sorteado (quando não é golpe).





sexta-feira, 8 de abril de 2011

Tinta Guache


Chegue cá

Corra,vá

Molhe mais

Vê, há algo seco demais nesses toques todos

E a flor que desejo plantar nem nome tem

Só sei que brota em olhar

Em todo pedaço de pano

Em todo vasinho plástico

Até nessa terra seca

Escuta só

É só você chamar

Chama três vezes

Flor? Flor? Flor?!

É só falar

Porque tudo dito de coração a terra ajuda

Grita lá

Em coração calado a flor não nasce

Mas as flores nascem todas em preto e branco, só o esbolço

Ela encosta a pétala no teu ouvido e diz:

- Pode colorir como amor que quiseres

Você não ouviu?

Vai nascer mais um amor pintado, disfarçado de flor

Descanse cá,

Não te procupes, não vais sujar a roupa

Tenho dois pincéis e tinta guache

Para quando cansares de um amor

Jogar água e lavar, não deixa manchas nem marcas

Mas se quiseres uma flor para a vida inteira

Tenho um lápis de cor diferente para colorir cada dia da tua semana.