domingo, 22 de abril de 2012

Chão da pele




Tela em branco
Sem traços, sem marcas
Passam-se os ventos, domingos
E a folha vira terra seca
Terra de sertão
Olhos fechados e rachaduras nas quinas
Olhos abertos e no rosto as marcas das circunstâncias
No canto dos lábios, nas mãos, a raiz vai secando
Terra áspera, ferida de enxada, nem lágrima se tem para regar
Folha amassada
Caminhos na pele que não mente as dores
Queimadura na alma,
Sorriso pequeno curativo
Amor  no chão da pele
Verniz, velhice e a...
Tela em branco...
 Resume-se a pele.

sábado, 14 de abril de 2012

Nicolah e o palhaço de macacão sujo



Era aproximadamente 19h quando o menino caminhava, na rua, segurando a mão de sua mãe, olhava para tudo, olhou para cima, procurou a lua mas não achou, olhou para baixo, brincou com a sombra, olhava as formigas, mas não largou por nada a mão de sua mãe. E falou: Mãe, a minha sombra deve ser mais nova que eu, ela é menorzinha, viu?
Mas o que o intrigou não foi a ausência da lua ou o tamanho da sombra. O que o intrigou foram dois homens caminhando com rosto desbotado em tinta, suspensórios ao chão, sapatos nas mãos e caixas de som nos ombros. O menino olhou, olhou, suspendeu a sobrancelha, coçou a cabeça e deu duas puxadas na mão de sua mãe e questionou:

- Mãe, mãe, quem eram aqueles homens? Acho que conheço eles de algum lugar.
E a mãe responde: - São palhaços, meu filho, você não reparou a pintura e as roupas?
- Palhaços? Não, mãe, não são, mês passado eu vi uns na rua, tristes, chorando e a senhora disse que era um troço de pierrot. O menino retruca.
A mãe sorri e responde. - Mas filho, aqueles são outra história. Estes são palhaços profissionais, trabalham em circo, cobram entrada, essas coisas de gente grande.
O menino pensa, pensa, enruga a testa e em um estalo, questiona: - Cobram? Cobram para fazer a gente sorrir? Deve ser por isso que eles não fazem ninguém rir, já viu alguém cobrar para fazer o outro dar uma gargalhada? Deve ser por isso que eles são tão mau humorados sem a pintura, e ainda sujam o macacão! Mãe, não foi por isso que a menina Colombina deixou o tal do Pierrot? Pela sujeira dele? Depois fica chorando no carnaval e não sabe porquê foi!