quarta-feira, 20 de julho de 2011

Receita


Aos capazes, cultivai a felicidade

Aos felizes, aproveitai a vida

À felicidade... Apresentai toda dualidade presente na vida

Aos cansados, que sejam apresentados ao viver

Aos olhos, que sejam honestos com o que dilatam

À insensatez, os piores goles de realidade

Ao sentimento, o sentimento

Ao erro, cometei e aguentai a consciência

Aos desejos, a consequência do erro seguinte

À verdade, a verdade

À mentira, a culpa

Ao pensamento, os olhos abertos e a boca fechada

Ao arrependimento, o autoconhecimento

Ao perdão, que seja feito e não dito

Ao que interessa, o que vale a pena

Aos ébrios, as verdades largadas em um cálice de vinho

Aos sóbrios, uma vergonha estampada no rosto

Ao medo, o medo de desvendar o próximo

À coragem, a minha admiração

À tristeza, que seja apresentado os amigos

A ti, esta receita confusa de vida,

Este ressentimento recém chegado,

Este ser humano ainda em aprendizagem.

sábado, 16 de julho de 2011

Quatro minutos


Sentou-se
Esperou quatro minutos
Retirou-os
Na tela da vida, o esboço
O cigarro do bolso
Tocou-os
Nas pontas dos pés
Nas pontas dos dedos
Pensou, mais quatro minutos
Sussurrou
Mais quatro palavrasFinda! Minta!
Men...Sem respirar, sem a quarta palavra, lembrou-se
Sim, o cigarro cheirava a menta
Cruzou as pernas
Cruzou o mundo
Cruzou o amor
Encostou-se
Levou o cigarro aos lábios
Superiores
Inferiores, ali só os sentimentos
Sem um vestígio de saliva
Aspirou
O sonho
O futuro
E se passaram mais quatro minutos
Fogo
Calor
Afago
Não!
Fogo, mas sem mais queimaduras
Acendeu
A luz
O cigarro
Ascendeu
Nos gestos
Mais um, dois, três cigarros
Mas não traga
Fecha as cortinas dos olhos
E traga
As palavras
O cardápio de amores impossíveis
O preço a pagar
Traga o cigarro
Deixa-se cinza
Deixa tudo cinza
Esfumaça
A fumaça
Tudo turva
Ouve-se trovadores
Não, são trovões
Enquanto isso ela traga
Traz
Atrás
Atrai
A fumaça
O vício que sai da sua boca
A boca que deixara de ser seu vício
Escolhe uma música, tocou Cigarro¹
Traga mais uma vez o vinho
Traga a vida no canto da boca
Traga o sorriso das noites passadas
Cumpra o trato
No último trago
Desfaça o traço
E disse: Disfarça, a tua felicidade eu traço
Disse aos pulmões cobertos de névoa cinza
As cinzas faziam o chão de lembranças
Traga um cinzeiro
Leva! Revela! Releva
Traga o cigarro
Vai até a porta quatro vezes
Esperava um barco a vela
Ou um balão de quatro cores
Levantou-se e repetiu quatro vezes
Traga amor, traga amor, traga amor, traga amor
Mas o que lhe trouxeram foi mais uma paixão e uma noite só
Então traga a conta
Então entregou os pontos
Descruza as pernas
Dois goles de vinho
Traga o cigarro e lembra...
Tô fumando o cigarro da saudade”²

Foi só o que trouxe
Levaram tudo: amor, livros, filmes franceses
Traga uma, duas, três estrelas, traga o amor
Joga as cinzas dele no chão
Levantou-se!Por favor, traga a conta.
E entrou no seu barco sem velas, só cigarro.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ser, deixar ser, ser humano


Acho interessante o discurso que as pessoas trazem consigo, e como elas próprias dizem “em pleno século XXI”. Eu particularmente acho que a discrepância começa por ai, falar o século em que vivemos e não vivermos o século em que vivemos. Pois bem, em pleno século XXI parte da sociedade ainda vivem em alicerces de séculos passados, com valores e falso pudores ainda arraigados do fio da cabeça até o dedo mindinho do pé esquerdo. Além de pregarem o bíblico discurso do “livre arbítrio” erroneamente, como de praxe. O tal do livre arbítrio não requer inúmeras interpretações, longe disso, é apenas ter consciência de si, de suas escolhas e das consequências delas. Não existe o “depende” ou “meio livre arbítrio”. Se você de fato aceitar que o livre arbítrio não é exclusividade sua e que as escolhas de outrem não “dependem” da sua opinião você irá, de fato, estar vivendo o livre arbítrio. Nada relacionado a outras pessoas, por mais próximas a você que elas sejam, depende do que você considera aceitável ou não aceitável. A vida do próximo não é variação linguística ou roupa que classificamos como adequado ou inadequado.

Não me refiro a formas de vidas criminais, assassinos, traficantes, sequestradores. Refiro-me ao individualismo na hora de ser individualista. Ser democrático além do discurso. Grande parte do problema da “naturalização” do outro está no discurso. Um dia desses estava vendo “Profissão repórter” e em meio a uma caminhada, três ou quatro pessoas se pronunciaram com relação a um dado assunto como seguinte discurso: “nós os amamos muito, aceitamos, mas não concordamos com o comportamento deles, e se eles quisessem a salvação se juntariam a nós.” Como se ama, aceita, não concorda e oferece uma linear salvação e menos de um minuto de discurso? O individualismo a que me refiro não é atrelado ao egoísmo, mas a ser humano o suficiente para reconhecer o outro não precisa que você se comporte como uma cartilha de boas escolhas e maneiras para com ele. Esse individualismo é perceber que da mesma forma que você tem uma vida o outro também tem, ou seja, cada um que tem uma vida, uma oportunidade de ser feliz.

Há quem se orgulhe em dizer que aceita as diferenças do outro, mas que diferenças são essas? Ser deficiente físico, ser negro, homossexual, ser altista, não ter pais, ter tatuagens, piercings? Todas essas “diferenças” acabam em um ponto em comum, todos são seres humanos, e como todo e qualquer ser humano difere de todos os outros, nenhum homem é igual a nenhum outro homem. Portanto, essas “diferenças”, em tese, seriam equivalentes ao fato de eu não gostar de chocolate e meu melhor amigo adorar chocolate.

A questão não é tolerar, aliás, tolerar é uma das palavras mais sobrecarregada de maus sentimentos, em minha opinião. Tolerar é ser forçado a aceitar o semelhante em sua diferença, quando essa diferença é inexistente. Ninguém é obrigado a aceitar as escolhas do outro, muito menos de apoiar, mas de perceber que as escolhas foram feitas pelo outro, para a vida do outro e as consequências irão para o outro, não para sua vida.

Eis a linha fluorescente que existe entre você e o próximo, a vida dele não é a sua e muitas vezes por você não enxergar isso acaba por não deixar o outro ser feliz na sua singularidade. Passamos a vida correndo atrás de uma coisinha chamada felicidade e quando em alguns momentos a encontramos do nosso jeito, paramos de nos sentir humanos para nos sentirmos felizes, e por que não deixarmos que outras pessoas encontre no seu próprio caminhar o estado de felicidade? Nenhum ser humano é especial, nenhum ser humano é igual, mas uma coisa é certa, ninguém tem que esconder sua própria felicidade porque o outro não tem coragem suficiente para se deixar ser feliz. É como já canta Jeneci: "Felicidade é só questão de ser!"

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tem hora que a taça de vinho acaba...



Tem hora que o fio cede
Tem hora que os atos se excedem
Tem hora que a água dada seca mais que molha
Tem hora que a gente percebe que o prefácio de fácil só tem a derivação
Tem hora que o lirismo, que já era pouco, se cansa e vira Realismo!
Tem hora que é melhor jogar as lembranças pelo rádio
Tem hora que o nó é tão grande que precisa ser cortado
Tem hora que acaba.

Tem hora que todas as janelas que sempre estiveram abertas tem a necessidade de serem trancadas
Tem hora que acaba seu arsenal de 'segundas chances'
Tem hora que o copo que andava meio vazio inunda sua sala de estar
Tem hora que aquilo que você alegava ser sentimento se traveste de ponto final
Tem hora que teu próprio instinto para e cola nos teus olhos "pare, olhe, escute"
Tem hora que acaba.


Tem hora que a gente para de confundir desistência com covardia
Tem hora que você percebe o quão é corajoso desistindo
Tem horas que nem pontas de faca tem mais para você dar murros
Tem hora que uma palavra basta, que um olhar basta, que uma cabeça baixa!
Tem hora que o ombro falha
Tem hora que o peito é tão pisoteado que entra em um estado de anestesia geral
Tem hora que a música de fundo não faz mais efeito
Tem hora que teu despertador biológico decide funcionar
Tem hora que acaba.

Tem hora que o choro resolve dar lugar a um sorriso, por menor que seja
Tem hora que uma palavra triste deixa de ter mais significado que uma palavra que te dê alegria
Tem hora que as próprias horas fazem questão de te apagar (e desapegar da) a memória
Tem hora que o amor além de comer identidade, retrato, aspirinas, acaba também por se comer
Tem hora que acaba.

Tem hora que o interminável tango finda
Tem hora que toda aquela busca não passava de falta de afeto
Tem hora que masoquismo cede a cama para o prazer
Tem hora que tiramos um prédio de 19 andares das costas e percebemos que cabe no bolso da blusa xadrez
Tem hora que é bom ouvir quando Drummond pede calma
Tem hora que é bom sentir quando Chico pede para não nos afobar que nada é pra já
Tem hora que jogar uma tinta branca em toda aquele misto de sensações ruins é a melhor opção
Tem hora que acaba.

Tem hora que que a hora acaba
Tem hora que a música acaba
Tem hora que a tragicomédia acaba
Tem hora que a escuridão acaba
Tem hora que o que estava longe acaba
Tem hora que a taça de vinho se quebra
Tem hora que a garrafa de vinho acaba
Tem hora que o que sobra é apenas um cálice
E tudo mais se acaba.




domingo, 3 de julho de 2011

Todo resto do dia...Meu café, meu jantar




Entra,

Vê, meu bem, este bem todo é o nosso

Sei que tu andas devagar com teu estar bem

Mas fica com ele, pr’eu também ficar

Mas se não ficares, não te preocupas

Eu passo e te trago pra casa e te faço cócegas para provocar teu riso

Eu sei, eu sei, ando um tanto instável

Sei que num dia te visto em mim

E no outro me ponho a voar, te pego no ar

Jogo-me no mundo, te mando um carinho pelo correio

Prometo-te um café no quarto, mas sem vista para o mar

Com vista para teus olhos submissos aos meus, ou seria o contrário?

Imagino-te...

Sonho-te a me fazer caminhos com tuas mãos em minhas costas, me fazendo arrepiar

E não me deixando descansar os cílios,

Para não perder nem um gesto teu, acabo cedendo

Mas cedo rindo, e quando sorrio meu bem, acabo por piscar

Então, mesmo assim, fica do meu lado, quietinho

Mas não exagera no silêncio, que ele não te deixa me esquentar

E não me deixa sentir tua respiração massageando minha nuca

Repara bem, esta cama cabe a nós e a nossa sorte

Vai, podes roubar o lençol, não ligo quando o rouba todo santo frio

É que acabo fazendo de teus braços, cheiro e coxas meu fiel cobertor

Aliás, é tão melhor que este tecido de algodão gasto

Já amanheceu?

E meu bem traz na bandeja, um prato de sonhos de ontem à noite mexidos,

Um copo de leite para arranjares uma desculpa e limpar minha boca com teus lábios,

Restos das juras emboladas em nossos corpos preguiçosos

Mas é muito, ta sobrando coração em minhas mãos

Ta faltando requentar os sentimentos

Ta deixando de guardar na geladeira os momentos

Deixa isso tudo para lá, faz assim...

Enche meu prato de amor,

que eu te prometo muito mais

e

carinho na sobremesa.