terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Drummond tinha razão!


E o que os ares me trazem?
Me trazem o pólen, o óleo, o filtro, os cheiros
E me roubam as palavras!
Elas já não vêm aos montes, felizes crianças após o sinal tocar...
Não!
Estão entaladas, moídas, cheias de dor e prazer noturno.
Umas vêm pela metade, mordidas, cuspidas, bebidas, às vezes nem vêm!
As poucas que chegam me fazem desistir delas, desnecessárias, demasiadamente pessoais,
Mas se elas não vêm, nem sem forma, disformes, entro em estado de fome literária,
Não consigo mais fazer florir em mim as palavras, elas murcham, elas entram em overdose de pólen e secam!
Sim, Sr. Dummond de Andrade, lutar com as palavras é sim uma luta vã!
Já não consigo mais semeá-las, emudeceram todas!
Nenhuma vem me acordar de madrugada sussurrando em meus ouvidos para serem escritas,
Pelo contrário! Elas me fazem cafuné, alisam meu pescoço, me deixam dormir à vontade
Com esse silêncio insuportável que elas me fazem ficar!
Acho que elas querem que eu volte a desenhar...
Não posso mais, entreguei a alma as palavras!
Os traços não saem mais, a mão dói, o sentimento de traição pesa
Meu santo bateu na prosa, na poesia, na lira, no verso do poeta gauche, no zumbido do poeta marginal.
As palavras a mim andam teimosas, as palavras em mim nem andam mais, perderam as pernas e a vontade de serem parte de mim.
Elas se negam a esconder alguém por debaixo dos lençóis que cobrem o verso,
Preciso chorar para que elas saiam, preciso plantar em pleno verão!
Preciso manter os olhos limpos e os cabelos encaracolados cheios de nós, de nó, de anedotas.
Preciso-as.
Elas não precisam de mim, nem de você que lê...
Elas precisam do menino fazendo pergunta, da menina sujando o vestido,
Elas só precisam delas próprias, do encantamento diário,
Das flores do verão, do cobertor de orelhas no inverno,
Elas transitam...
Tomaram o lugar das minhas veias, beijaram meus cílios....
Embaçaram minha vista... Ai, palavras... Acho que somos um só...
Inconstantes nessa vida que não será minha primeira, nem suas últimas,
Sejam sempre bem vindas e jamais findas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário