segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Alice?

Cadê ela? Não sei, saiu correndo, disse que tinha que alcançar alguém e foi. Ah.
"Para Alice

Alice, Lua e estrela, primeiro de tudo, eu não esperava te encontrar aqui, não gosto que me veja na situação que eu tô...
Cê disse que só tinha R$ 40,00 pelo resto do mês, eu só tinha R$ 30,00 e ainda comprei uma água pra você, e comprei porque eu quis.
Sobre o outro dia, você tem razão, você quem veio dançando em minha direção e eu, como amo "chamão", fui, e ficamos. Você foi quem correu, indiretamente. O que também ocorreu hoje, mas quem fez o "chamão" dessa vez fui eu. 

1. pro dia de hoje = menos ansiedade
2. sobre ser jovem = também me sinto, mas não tanto quanto você
3. porque eu corri = minha mãe conseguiu que Afonsinho me aceitasse de volta (com condições - efêmeras)
4. como eu me sinto com relação a você = ...
5. se a gente vai se encontrar essa semana = ...
6. pro teu andar = calma

Alice... é... eu ando correndo...é... tenho que ser breve, soube que você tá organizando um livro, mas isso não vem ao caso, é que eu sei que você me daria e eu não quero. Quero comprar e pedir pra você assinar, como se não me conhecesse, e só quando eu sorrisse pra você, quando nos déssemos "boa tarde/boa noite", é que iríamos nos reconhecer...

7. pra tua vida = mais alma.

Até o teu andar corrido."

Alice esqueceu a água. Não, ela guardou, tu sabe, ela guarda coisas que a gente nem imagina, diz que tem "valor recordativo".  

domingo, 18 de agosto de 2013

Da puta e do cigarro barato

Cambaleou pelas ruas escorregadias, sem rumo, sem futuro, como lhe dizia o pai "quem bebe não tem futuro, menina!". Queria fazer xixi, por isso a caminhada. Acabou por se perder. Achou uma senhora de pele e olhos desgastados, marcas de quem de tanto dar prazer esqueceu-se do próprio. Achou-se. Acharam-se. Ela e a puta. Sim, assim que a senhora desejou ser chamada porque mulher da vida somos todas, ela assim dizia à menina, mulher, não se sabia, tanto se fazia. O xixi foi feito, a puta a cobriu, fez o cercadinho que contém no pacote complicado de uma mulher fazer xixi na rua, mijou rápido. Dalí, do cercadinho, para serem íntimas nos assuntos foi um salto, sem abismos. A puta sabia que a quantidade de xixi e cachaça tinha nome de amor mal liberto. E ela disse "tem nome e corpo de mulher", a cachaça. E a puta riu, como propaganda política pós o candidato ser eleito "eu já sabia". E continuou com alguns questionamentos para melhor analisar a situação e dar seu veredito de mulher experiente... "vocês já transaram?", e a menina disse que não, "vocês já quebraram pau?", outra resposta negativa. Era só isso que eu queria saber, disse a puta, e prosseguiu. Você tem cara de quem tenta agradar, você tenta agradar? Então recebeu sua primeira resposta positiva. A senhora disse "hum, tá fodida mesmo", aliás, o que tá me parecendo é que o problema é a falta de foda, não de amor, de foda, mas não me ache vulgar, é que não se conquista quem é do mundo com fofice, é mais fácil você conquistar o mundo do que a pessoa. A menina concordou com tudo, mas ficou em dúvida se tinha falado algo da outra ser do mundo ou do particular, e foi comprar cigarro. Comprou uma carteira, do mais barato, do que tinha o pior cheiro, do que mais lembrava sarjeta. Fumou três, enquanto a senhora apreciava aquele cigarro com gosto de bosta de cavalo como uma taça de vinho fino. Em nenhum momento a senhora falou da sua vida e quando pensou em falar, conteve-se e pediu mais um cigarro. No último cigarro, o terceiro, a menina chorou, chorou rindo "que gosto de merda do caralho tem esse cigarro". Então as duas riram, juntas, pela primeira vez, e a puta, maliciosa, disse, "já senti gosto de coisa pior na minha vida" e caiu na gargalhada gostosa, como quem lembra do que agora virara piada. E a menina, que esquecera do gosto de merda do cigarro respondeu que cada uma cuidava do seu departamento, para a vida seguir mais equilibrada. Ela disse que precisava ir, que os amigos a esperavam, havia lembrado o caminho. A puta disse que tinha sido um prazer, "e olhe que normalmente me pagam pra eu dizer isso"... "Só mais uma pergunta, nega, tu disse que queria ela? Teu corpo disse que desejava ela?".

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Nicolah e a Mariposa

Havia chegado da escola, aborrecido, depois de um dia cansativo de estudar vertebrados e invertebrados, de ser chamado de "Nicolau" o tempo inteiro pelo novo professor de ciências, Nicolah, com as bochechas vermelhas de cólera, dispara contra a mãe:
- Mãe... é que tem um professor novo que só me chama de NICOLAU, eu tentei dizer que o "U" tá no lugar do "H", ma...
- Mas o que, meu bem? Perguntou a mãe.
- Mas ele continua, daí ele tentou enfiar na minha cabeça, e na de todo mundo, que uma borboleta preta é uma mariposa. E ele, impaciente, repetia e repetia "Nicolau, a mariposa é uma borboleta preta"
- Sim... Disse a mãe.
- Daí que eu disse que não, que mariposa é mariposa e borboleta é borboleta. Pobre da mariposa, uma vida inteira sendo confundida com uma borboleta e sempre ouvindo as pessoas decepcionadas dizerem "ah, é só uma mariposa". Pobre de mim, um ano inteiro sendo chamado de Nicolau.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Às mãos no mar

oo:59 e o mar jorrava em mim no chão do quarto, não! Eu era o mar, era todo o lixo que jogam nele, era toda a coisa ruim e boa que, que vem e vai na maresia. A parede do quarto também era o mar e, por um segundo, eu quis me afogar. Sim. Morrer no mar, morrer no mar que eu mesma imaginei, antes dos 27... Mar que morre(u) no mar...E num flerte épico da vida:

Morrer mar.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

(ponto)

Já tinha a visto duas vezes antes de percebê-la
Depois mais duas
Então sumiu
Não que eu goste de mãos dadas, gosto de mãos, e naquela hora ela colocou o mundo em minhas mãos e se agarrou em mim, no mundo
Quando? Já vou
A luz pingou em dois feixe, um no cangote e no cabelo... No cacho, no canto
É
Vermelho
Disse ter vontades ruivas, eu disse, ela riu enquanto falávamos em viagens e
Vai beber? Hoje não
Tudo isso sem pôr um ponto sequer (ponto) Tudo isso por um fluxo de (in)consciência engendrado de ideias atropeladas (ponto) (ponto) (ponto) Reticências
Neguinha, como diz um grande mestre, as grandes histórias morreram, afogaram-se nas próprias palavras, no próprio excesso ao querer demais, cobrar demais e só sentir amor (ponto) Amor e mais nada, esqueceu-se do olho no olho, do tilintar dos dentes quando se beija com muita sede
E de repente, procura por se repetir
Naquela cama anda sonhando, mas o travesseiro treme, interrompe o segredo
E por mais tempo que se passasse ainda havia um pedaço do mundo nas suas mãos
A lembrança do mundo em sua mão (ponto)

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Placa afetiva

E em meio a fuga diária do sono, rebiscou a parede em forma de placa de aviso afetiva:
"Você passar ou ficar, pouco importa,
contanto que nos amemos nos gestos,
 no olho, na vida"

Não assinou... Mas disse que era para um estranho, disse que era para o futuro, disse que era para a vida.

Luz vermelha


Dançou,
Amou
e morreu como um ocaso.