Acredito eu, na minha humilde
mania de comparar pessoas a objetos, no melhor do sentido, claro, que nesse, ou
até nas nossas próximas vidas, somos nada mais que depósitos de coisas boas e
más. Sendo mais direta, na vida nada mais somos que gavetas subestimadas, ou melhor,
superestimadas! Depende da situação, depende do que ou quem nós guardamos. Acho
que ainda nos elevei a um nível além do merecido, porque no final das contas
somos um porta treco, mas vamos ficar com gavetas que é uma palavra só, e é
isso que somos, só um, só.
Acho que cada um de nós é uma
gaveta específica. Eu, particularmente, sou aquela gaveta que se joga um monte
de coisa e vai juntando, juntando e não se joga nada fora por falta de coragem,
ou medo de perder algo desnecessariamente importante. Mas há quem seja aquela
gaveta arrumadinha, aquela que separam cueca ou calcinha por cor, sabe? Aquela
que tem etiqueta, lugar para tudo, nada fora do lugar, uma gaveta extremamente
organizada para um coração altamente porra louca. Também há uma variação da minha
espécie de gaveta, tem lá seu amontoado de coisas, mas de vez em vez é feita
uma faxina, são jogados papéis, entradas de cinema, coisas mofadas, mas não
consegue jogar as lembranças. Existe aquela que sempre trava no meio do
caminho, aquela gaveta/pessoa que deixa tudo pela metade, que se não consegue
fechar deixa como está e diz: não vai fechar mesmo, para que insistir! Que está
com um problema, mas ignora, falta parafusos, faltam sentimentos.
Pegando o
gancho da “falta”, existe também gavetas vazias, sem nada, nem um pedaço de
papel sequer, nem uma embalagem de bombom, nem uma caneta, nem uma dessas
inutilidades que guardamos mesmo sabendo que não iremos mais usar, são vazias e
só.
Também tem aquela que é trancada
a uma única chave, que às vezes em ela sabe onde colocou a chave, engoliu,
jogou no mar, mandou o cachorro falecido do vizinho engolir, não adianta, a
gaveta é um pseudo cofre! Há quem seja uma gaveta seletiva, só guarda o que de
fato é para ser guardado, nem a mais, nem a menos, guarda o que faz bem, o que
fez e faz rir, tem uma caixinha para guardar as alegrias vividas e abre seus
segredos a quem for merecedor. Existe a que só aprende a fechar com porrada, é
a de praxe, não aprende com carinho ou gestos de bondade, só aprende com muita
pesada no seu puxador! Também tem aquela que vive 24h aberta, parece banco,
sabe? É a gaveta solícita, hoje em dia é móvel raro, quase não se tem por aí,
mas apesar de ser aberta para os outros é fechada pra si própria, não guarda
nada ali, tem seu anexo secreto feito Anne Frank, e morre de medo que alguém
chegue perto.
São muitas, inúmeras, mas todas
elas têm coisas em comum, elas guardam, cuidam das lembranças, às vezes tem um
cheirinho especial, não tem a gaveta ideal, tem a gaveta que escolhemos ser,
que passamos a ser, e que cuidemos uns dos outros independente do tipo de
gaveta que somos. Coloridas, tom pastel, de solteiro, que trava, que vive uma
bagunça, sem puxador. Temos a mesma função, guardar.