sábado, 27 de agosto de 2011

Ah... O corpo humano


Ah, o corpo humano! Pense em um quebra-cabeça perfeito. Cada peça no seu lugar. Há quem enxergue como padronização, aquele velho “o que você tem eu também tenho”, ledo engano, meu caro! O corpo humano, não biologicamente falando, é um labirinto de particularidades. Um sinal diferente a já passa a ser a moradia corporal do vizinho.

Há aquelas situações sem finalidade alguma onde nos é perguntado quando parte do corpo preferimos, ou aquela “qual parte do corpo você prefere?”, no outro, claro. E como tudo no ser humano, até as partes do corpo dele se tornam clichê, sempre surge um top 3: boca, olhos e cabelo. Se você disser que é o pé, irão te chamar de doido, se disser nariz, a opinião será até aceitável por uma comissão julgadora altamente especializada, seus amigos! Mas alguém já parou para reparar nos ombros? Seja sincero, pense um bocadinho se já parou para observar com um pouco mais de zelo os ombros. Ótimo, tempo esgotado, senão você não acaba de ler isso aqui... Eu olho, e acho-os uma das partes mais particular no corpo de uma pessoa.

Mas vamos às minhas observações geminianas... Os ombros são a parte mais expressiva do corpo. Os ombros expressam o que os olhos e a boca não conseguem expressar. Os ombros às vezes se sentem tão autônomos que se dão ao luxo de responder o que a fala não consegue enunciar! Os ombros são uma das válvulas de escape do seu estado de espírito, se você fica nervoso eles ficam duros como pedra, vem alguém e diz que você está tenso. Se você está em paz, assobiando, chupando cana e com dinheiro na conta, eles ficam molinhos, molinhos. Se nos alteramos a primeira coisa que fazemos é os levantar. Quando estamos em dúvida eles levantam-se e abaixam-se como sinal de “e eu lá sei” ( o famoso ‘sei lá’). Quando ficamos tímidos eles servem como esconderijo de maçãs do rosto rubras e sorrisinho no canto da boca. Quando alguém nos chama eles são cutucados com sinal de “ei”.

Nossos ombros também servem como artefato de sedução. Quem já não se pegou mexendo-os lentamente envolvendo o outro? Algumas músicas despertam seu lado predador utilizando os ombros como um play para o resto do corpo se manifestar, antes até dos olhinhos meio abertos, meio fechados, do risinho do cantinho da boca e do balançar do pescoço! (Dica...Comprovem isso ouvindo Amy Winehouse). Eles também são os privilegiados da alta concentração de massagem, até porque em outras partes do corpo requer lugar específico, servem também para ignorar as pessoas, é só um “dar de ombros” e pronto, como já dizia o escritor de “A menina que roubava livros” que eu nunca sei dizer ou escrever o nome da criatura!

E por fim, os ombros são um lugar de consolo, e pra mim em particular, um lugar de carinho. De consolo é aquele já conhecido “encosta tua cabecinha no meu ombro e chora”, mas não serve só pra explorar o outro com lamúrias, serve como lugar para cochilos, lugar para passar fila ao colega da frente, lugar para encostar o queixo e ficar parecendo meu cachorro pedindo algo. E de carinho, é uma mania que eu tenho e outras pessoas com quem convivo, a mania de beijá-los. Sim, acho mais carinhoso que beijar as bochechas, ou a testa. É tão mais fácil abraçar e dar um beijo no ombro a se contorcer todo só para dar um beijo no rosto. Ou quando seu amigo(a), namorado(a), mãe, pai está ao lado, você dá aquele beijinho no ombro e dá um risinho meio tímido que deixa o cidadão besta. Então beijemos, massageemos, ignoremos, suspiremos com os ombros! Afinal, os olhos e a boca já estão ocupados com otras cositas más!

domingo, 14 de agosto de 2011

Onde esconderam o amor - Parte final

(...) De tanta angústia ela resolveu deixar a linha caminhar com as próprias pernas, não trocava um “boa noite” sequer. Até que chegou um dia que ela pegou um pedaço de giz da mãe, subiu no ponto mais alto da árvore, amarrou um lençol em uma estrela, deu um nó que nem um raio soltaria. Ela estava tão transtornada, tão transtornada, porque a linha estava sumindo, estava se apagando e aquele caos estelar estava por se instaurar, e ela não queria deixar que as paixões deixassem de existir, se negava a acreditar que as pessoas se recusavam a apaixonarem-se.

Naquele momento ela estava decidida a pintar de giz o céu inteiro para fazer uma circunferência, agora inteira, e que todos os amantes do mundo olhariam aquela bola branca com admiração e renovariam seu amor. Então ela fez apenas uma pequena circunferência e dentro dessa circunferência escreveu, ainda com o giz branco, uma pequena palavra. E aquela atitude foi tão inesperada que não só a cidade, mas cidades vizinhas, países vizinhos, as pessoas observavam uma menina pendurada nas estrelas tentando fazer uma bola branca que nunca saia perfeita. E de repente aquela circunferência mal feita começou a crescer, crescer e crescer, foi na hora em que ela viu que a paz estava instaurada no céu, as estrelas respeitavam aquela bola pintada de giz, todas brilhando na mesma proporção para fazer aquele objeto novo ser admirado pelos apaixonados.

E o que todos viram foi a menina descer por aquele pedaço de pano do céu, correr para a janela desesperada procurando a mãe, correu até a sala, até que a achou e disse: Mãe, mãe, a senhora viu a lua, ops, a linha? A mãe sorriu como de costume, e fez:meu bem, essa sua lua, esse seu ato falho são feito as paixões, jamais programadas, jamais controladas, quando você menos espera, sai, acontece.

Os olhos de criança da menina brilharam, tanto quanto a própria linha que acabara de ser batizada como lua, e ela disse: Lua, lua dos namorados, lua dos amantes, lua dos apaixonados, lua cheia, lua vazia, lua que parece linha, que indecisão, meu Deus, é melhor deixar só lua! Prazer em conhecer-te, eu sei que estás no ponto mais alto dos sentimentos, estás na vista dos amantes, mas olha, eu desenhei dentro de ti uma palavra que nem todos irão enxergar, que nem todos entenderão, então, lua me promete que esta palavra não virará uma mera palavra? Dai a lua respondeu: mas que danado de nome é esse, minha menina? E qual o problema d’eu a exibir? Então ela sentou, fechou os olhos e disse suas últimas palavras antes da lua desaparecer e dar lugar ao sol: Escrevi amor em teu interior, mas nem todos conseguirão projetar este amor nos olhos e enxergá-lo em ti, pois o amor, lua, nem todos têm tempo e vontade de vê-lo, e muito menos realiza-lo. Pois há quem o desdenhe, há quem se negue compartilhá-lo, então, lua, só mostre o amor a quem ainda sonha, mostre amor aos que tem medo de amar e ainda assim amam, aos que nem sabem o que é o amor.

E dizem por ai que foi assim que criaram a lua, e por isso esconderam tão longe o amor.

sábado, 13 de agosto de 2011

Onde esconderam o amor - Parte I



Sabe essas histórias que a gente ouve e fica na cabeça a semana toda, feito música ruim, fica martelando, martelando e você conta a um, a outro e a bendita não sai da cabeça? Um dia desses, que eu nunca lembro quando me contam as coisas, ouvi meio sem querer uma dessas lendas de como certas coisas foram criadas, já tinha escutado de tudo, mas essa história, sinceramente, deixou esse ser humano aqui tão encantado que eu cheguei a sonhar com a situação e imaginando o rosto da protagonista, mas sem mais dois pra cá, dois pra lá, irei direto a história...

É mais ou menos assim... Dizem que lá pras bandas desses lugares rodeados de mato e muito mosquito nasceu uma menina. Uma linda menina que apesar ter se tornado uma linda moça ainda conservava aqueles olhos de criança, olhos risonhos, olhos que não decidiam se apareciam escuros ou claros. E neste lugar, que não me recordo o nome, os dias eram lindos, criança correndo pelos campos, velhinhas vigiando seus pés de fruta, que não usufruíam, mas nunca deixavam que ninguém colhesse uma manga sequer. Mas as noites eram um mistério, era uma escuridão sem tamanho, no céu só se via pequenos espaços que escapavam luzes.

Com o decorrer do crescimento dessa menina o céu ia ficando cada vez mais lotado dessas luzes, era uma concorrência incrível e ninguém para controlar aquele engarrafamento de luzes. Por volta de seus 10, 11 anos a menina começou a questionar-se sobre aquela bagunça que se tornara o céu. Até que sua mãe disse que aquelas luzes descontroladas se chamavam “estrelas”, e ela questionou a mãe o motivo daquela desorganização, a mãe riu e disse que elas brigavam para ver quem era mais admirada pelos namorados aqui da terra, e nesse dia a menina aprendeu duas palavras: estrelas, e a mais complicada, namorados.

Quando a menina chegou aos seus 18 anos o céu estava cada vez mais caótico, as estrelas se espremiam e ela pensava, “será possível que existem tantos namorados para o céu tá numa bagunça dessas?”. E enquanto o céu estava tão cheio de estrelas, dentro dela dava para ouvir o silêncio, a ela faltava algo, faltava-lhe companhia, tinha sua mãe e mais ninguém, mas não bastava. Então em meio a um sonho ela viu uma bola branca, no meio de toda aquela confusão estelar. Acordou-se e passou o dia, ansiosa para que a noite batesse logo a porta, e quando a noite bateu ela correu para fora, pegou um pedaço de tijolo, subiu em uma árvore e começou a desenhar entre as estrelas, circunferências estranhas, que nunca chegavam a ser realmente uma circunferência. A primeira noite foi frustrante, as estrelas a empurrara e ela quase cai da árvore, mas na segunda ela foi persistente, conseguiu fazer uma meia circunferência, mas o sono não deixou que ela completasse e no outro dia as estrelas mal a deixavam subir na árvore, então ela passou um período só conversando com aquela meia circunferência até perceber que ela estava crescendo.

Ai a menina perguntou “ô linha, porque cê tá crescendo tanto? Eu nem terminei de te desenhar!” E a “linha” disse que eram as paixões, o amor, quanto mais pessoas se apaixonassem, amassem, mais ela cresceria instintivamente, pois os amantes tem mania em olhar o céu, e aquele traço que aparecera tão recentemente no céu os chamava a atenção, e quanto mais atenção mais a linha cresce. Foi então que ela percebeu que amar, estar apaixonada era uma coisa boa, e que além da linha crescer, o vazio no peito diminuía, e ela questionou-se “como ainda tem gente que nega se apaixonar?”. E por meses e meses viu aquela linha encher-se de brilho, e depois de um tempo aquela linha servia como um percentual de pessoas apaixonadas. Desde essa descoberta do lado bom das paixões seu coração ao invés do vazio, começava a ficar apertado, era tanto sentimento, tanto amor, tanto afeto com necessidade de ser compartilhado que a menina cada dia que passava ficava mais angustiada...

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Feliz cidade


E no meio de tanto entretanto ela se deparou com uma menina que gostava de ver as pedras pularem de alegria nas águas que encontrava. E ela pensava qual a finalidade daquilo? Era lindo as pedras saltitando de alegria nos rios, mas ela se questionava, meu Deus, para que mais pedras em um lugar que já tem tenta pedra? E nunca encontrava uma resposta, a única conclusão a que chegava era que ela não conseguia fazer as pedras tão felizes quando aquela menina que parece só se ver em filmes franceses com muito verde e vermelho na fotografia. A verdade é que todo aquele ritual de catar pedrinhas pela rua, colocá-las no bolso e jogá-las na água era para que, de alguma forma, a menina visse a alegria que ela tanto procurava refletida em algo, alegria esta, que poucas vezes conseguira obter.
Naquele momento de água na pedra, pedra na água, sorriso no rosto e dedos sujos de terra, ela, a menina do casaco verde e de saia vermelha, era a água e pedra. De certa forma sentia prazer em despertar a felicidade nas coisas independente dos pingos de água que bateriam de leve em seus sapatos marrons. Não, ela não poderia ser só pedra, muito menos só água. Ela era o ritual, o vício, o atrito entre a pedra e a água, e se as pedras não pulassem, e se as pedras não encontrassem a felicidade que ela lhes queria causar, simples, ela tentava novamente, e novamente, e novamente...
E era o que basicamente o que essa menina, a que não sabia manusear as pedras tentava fazer com as pessoas a qual sentia algum afeto. Tentava de alguma forma fazer com que elas se sentissem tão alegres quanto as pedras saltitando nas águas do rio. O problema é que ao contrário das pedras, nem sempre as pessoas estavam dispostas a se deixarem ser alegres. Aquele atrito entre a água e a pedra, nas pessoas o atrito acontece entre o medo e a possibilidade de ser feliz afinal, felicidade assusta. Mas essa menina de tantos entretantos, em um desses momentos tantos de devaneio chegou a inúmeras conclusões, nenhuma que lhe dessem Nobel da Paz, ou teorias que culminariam em um Ensaio ou Artigo científico, a conclusão a que chegou era que aquela menina das pedras construía sua fortaleza com cada pedrinha suja de terra que jogava na água, que proporcionar felicidade é de uma delicadeza imensa, de uma sensibilidade e contentação maior do que quem a recebe. E se questionou como ainda tem no mundo quem se nega a ser pedra? Como as pessoas optam por um agendamento de felicidade, quase sempre sem valia?
E no final de todas indagações possíveis ela não segurou o choro, e do canto dos seus olhos foram caindo pedrinhas, batiam na lágrima, no canto da boca e jamais paravam no peito, e no final daquelas lágrimas sem explicação ela colocou as mãos nos bolsos, sujou os dedos de terra e percebeu que a felicidade estava tão palpável quanto aquelas pedras, então enxugou as lágrimas, fechou os olhos lentamente e abriu um sorriso do canto direito ao canto esquerdo da boca, como quem quisesse dizer alguma coisa, mas ficou só no sorriso, com as pedras e com o propiciar da felicidade.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Homem de lata? RÁ! A tendência é ser wi fi!

X



Sabe aquela história de que você convive tanto com uma pessoa que acaba por adquirir as manias, características, gestos, modo de falar, e otras cositas más. Procede. Procede inclusive com o ser humano e os objetos, a casa parece com o proprietário ou morador, o violão tem o jeitão de quem o toca, certas roupas já tem a cara de quem a veste, e assim continua esse dois pra cá, dois pra lá. Mas já reparou essas pesquisas que são divulgadas pela mídia? Àquelas pesquisas que medem o nível de dependência eletrônica das pessoas? Pois bem, o ser humano está a cada dia que passa mais parecido com seus dispositivos eletrônicos, mas não conseguem chegar ao patamar da praticidade que esses objetos alcançam.




A questão é simples, ao contrário do ser humano, esse objetos não optam por serem deficientes de sensações, eles só obedecem aos comandos e não fazem nada além do que está em seu manual de instrução. Eles não optam a não pensar no próximo, afinal, eles foram criados com a finalidade de ser canal de interação do ser humano com outros seres humanos e não para interagirem com o ser humano. Mas voltando... O propósito desta minha observação é alarmar esta contaminação de pessoas tão semelhantes a aparelhos eletrônicos, crianças robôs (Lembram-se de Maísa? Um dia vocês me darão razão), moças, rapazes, todos robôs. O caso é sério, tem pessoas que se balançarmos dar pra ser ouvido o barulhinho das peças caindo, porque além de serem robôs ainda tem peças fora do lugar. Há aquele tipo de ser humano computador, que não dá para travar nenhum diálogo que não seja on line, porque on line não corre o risco de você querer pular no pescoço do cidadão de tanta tolice que ele consegue reproduzir.


Mas o caso mais grave é o autêntico robozinho/humano, “humano” é usado só por conveniência, para não esquecer que ali jaz uma pessoa. Este caso é típico, e modéstia parte daqui uns dias eu estou dando consultoria, é o simples fato das pessoas esquecerem que são pessoas, e o principal, esquecem que as outras pessoas também são pessoas e podem não parecer tanto com seus aparelhos eletrônicos! Os sintomas não são perceptíveis no início, até a primeira discussão, você baixa um ginasta, dá piruetas, saltos, abre escala, descabela-se, e a criatura continua sentada, parada como se você lhe tivesse oferecido uma xícara de chá, e no final de toda sua performance ela diz a você que não sabe o que dizer. Ai você senta e chora, porque além de robô, é um robô mudo que não consegue construir um mero enunciado.


O pior nessa espécie são as pecinhas que faltam no peito, peças que foram tiradas do lugar anteriormente e eles não quiseram coloca-las de volta ao lugar, ou peças que ali nunca estiveram, é alarmante, pois esta espécie é deficiente de coração, de sentimentos, de qualquer coisa que haja interação entre você e ela. Você procura de todas as formas humanizar aquele ser humano, fazê-lo sentir, fazê-lo demonstrar nem que seja raiva, mas não, esforço em vão. Além de se negarem a sentir, a ter afeto por outras pessoas, acabam plantando uma sementinha dessa parte robô que o cabe no coração de quem tenta fazer com que ele lembre que são humanos. Vocês estão vendo como ocorre a reprodução da espécie, floresce no coração, o sufoca até o cidadão coloca-lo da boca pra fora junto com algumas palavras sem finalidade, e o joga na primeira lata de lixo que encontrar, e assim nasce esta legião de robozinhos deficientes de sentimento e afeto.


E contra toda essa legião há uma minoria que tem paixão saltando aos olhos, afeto em cada dente a mostra nos sorrisos desfilados, tem beijo e cheiro em cada abraço, tem carinho nos gestos mais simples, tem pulsar nos cabelos assanhados, vivacidade até no ato de chorar, chorar de dor, de tanto rir, chorar de amor, no amor, por amor, e como diz Drummond, tem amor, muito amor batendo na aorta. Então... O ministério da saúde adverte: Deficiência de sentimentos acarreta o aumento de robô entre nós, em caso de suspeita de ausência de coração corra!