domingo, 14 de agosto de 2011

Onde esconderam o amor - Parte final

(...) De tanta angústia ela resolveu deixar a linha caminhar com as próprias pernas, não trocava um “boa noite” sequer. Até que chegou um dia que ela pegou um pedaço de giz da mãe, subiu no ponto mais alto da árvore, amarrou um lençol em uma estrela, deu um nó que nem um raio soltaria. Ela estava tão transtornada, tão transtornada, porque a linha estava sumindo, estava se apagando e aquele caos estelar estava por se instaurar, e ela não queria deixar que as paixões deixassem de existir, se negava a acreditar que as pessoas se recusavam a apaixonarem-se.

Naquele momento ela estava decidida a pintar de giz o céu inteiro para fazer uma circunferência, agora inteira, e que todos os amantes do mundo olhariam aquela bola branca com admiração e renovariam seu amor. Então ela fez apenas uma pequena circunferência e dentro dessa circunferência escreveu, ainda com o giz branco, uma pequena palavra. E aquela atitude foi tão inesperada que não só a cidade, mas cidades vizinhas, países vizinhos, as pessoas observavam uma menina pendurada nas estrelas tentando fazer uma bola branca que nunca saia perfeita. E de repente aquela circunferência mal feita começou a crescer, crescer e crescer, foi na hora em que ela viu que a paz estava instaurada no céu, as estrelas respeitavam aquela bola pintada de giz, todas brilhando na mesma proporção para fazer aquele objeto novo ser admirado pelos apaixonados.

E o que todos viram foi a menina descer por aquele pedaço de pano do céu, correr para a janela desesperada procurando a mãe, correu até a sala, até que a achou e disse: Mãe, mãe, a senhora viu a lua, ops, a linha? A mãe sorriu como de costume, e fez:meu bem, essa sua lua, esse seu ato falho são feito as paixões, jamais programadas, jamais controladas, quando você menos espera, sai, acontece.

Os olhos de criança da menina brilharam, tanto quanto a própria linha que acabara de ser batizada como lua, e ela disse: Lua, lua dos namorados, lua dos amantes, lua dos apaixonados, lua cheia, lua vazia, lua que parece linha, que indecisão, meu Deus, é melhor deixar só lua! Prazer em conhecer-te, eu sei que estás no ponto mais alto dos sentimentos, estás na vista dos amantes, mas olha, eu desenhei dentro de ti uma palavra que nem todos irão enxergar, que nem todos entenderão, então, lua me promete que esta palavra não virará uma mera palavra? Dai a lua respondeu: mas que danado de nome é esse, minha menina? E qual o problema d’eu a exibir? Então ela sentou, fechou os olhos e disse suas últimas palavras antes da lua desaparecer e dar lugar ao sol: Escrevi amor em teu interior, mas nem todos conseguirão projetar este amor nos olhos e enxergá-lo em ti, pois o amor, lua, nem todos têm tempo e vontade de vê-lo, e muito menos realiza-lo. Pois há quem o desdenhe, há quem se negue compartilhá-lo, então, lua, só mostre o amor a quem ainda sonha, mostre amor aos que tem medo de amar e ainda assim amam, aos que nem sabem o que é o amor.

E dizem por ai que foi assim que criaram a lua, e por isso esconderam tão longe o amor.

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