quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ser, deixar ser, ser humano


Acho interessante o discurso que as pessoas trazem consigo, e como elas próprias dizem “em pleno século XXI”. Eu particularmente acho que a discrepância começa por ai, falar o século em que vivemos e não vivermos o século em que vivemos. Pois bem, em pleno século XXI parte da sociedade ainda vivem em alicerces de séculos passados, com valores e falso pudores ainda arraigados do fio da cabeça até o dedo mindinho do pé esquerdo. Além de pregarem o bíblico discurso do “livre arbítrio” erroneamente, como de praxe. O tal do livre arbítrio não requer inúmeras interpretações, longe disso, é apenas ter consciência de si, de suas escolhas e das consequências delas. Não existe o “depende” ou “meio livre arbítrio”. Se você de fato aceitar que o livre arbítrio não é exclusividade sua e que as escolhas de outrem não “dependem” da sua opinião você irá, de fato, estar vivendo o livre arbítrio. Nada relacionado a outras pessoas, por mais próximas a você que elas sejam, depende do que você considera aceitável ou não aceitável. A vida do próximo não é variação linguística ou roupa que classificamos como adequado ou inadequado.

Não me refiro a formas de vidas criminais, assassinos, traficantes, sequestradores. Refiro-me ao individualismo na hora de ser individualista. Ser democrático além do discurso. Grande parte do problema da “naturalização” do outro está no discurso. Um dia desses estava vendo “Profissão repórter” e em meio a uma caminhada, três ou quatro pessoas se pronunciaram com relação a um dado assunto como seguinte discurso: “nós os amamos muito, aceitamos, mas não concordamos com o comportamento deles, e se eles quisessem a salvação se juntariam a nós.” Como se ama, aceita, não concorda e oferece uma linear salvação e menos de um minuto de discurso? O individualismo a que me refiro não é atrelado ao egoísmo, mas a ser humano o suficiente para reconhecer o outro não precisa que você se comporte como uma cartilha de boas escolhas e maneiras para com ele. Esse individualismo é perceber que da mesma forma que você tem uma vida o outro também tem, ou seja, cada um que tem uma vida, uma oportunidade de ser feliz.

Há quem se orgulhe em dizer que aceita as diferenças do outro, mas que diferenças são essas? Ser deficiente físico, ser negro, homossexual, ser altista, não ter pais, ter tatuagens, piercings? Todas essas “diferenças” acabam em um ponto em comum, todos são seres humanos, e como todo e qualquer ser humano difere de todos os outros, nenhum homem é igual a nenhum outro homem. Portanto, essas “diferenças”, em tese, seriam equivalentes ao fato de eu não gostar de chocolate e meu melhor amigo adorar chocolate.

A questão não é tolerar, aliás, tolerar é uma das palavras mais sobrecarregada de maus sentimentos, em minha opinião. Tolerar é ser forçado a aceitar o semelhante em sua diferença, quando essa diferença é inexistente. Ninguém é obrigado a aceitar as escolhas do outro, muito menos de apoiar, mas de perceber que as escolhas foram feitas pelo outro, para a vida do outro e as consequências irão para o outro, não para sua vida.

Eis a linha fluorescente que existe entre você e o próximo, a vida dele não é a sua e muitas vezes por você não enxergar isso acaba por não deixar o outro ser feliz na sua singularidade. Passamos a vida correndo atrás de uma coisinha chamada felicidade e quando em alguns momentos a encontramos do nosso jeito, paramos de nos sentir humanos para nos sentirmos felizes, e por que não deixarmos que outras pessoas encontre no seu próprio caminhar o estado de felicidade? Nenhum ser humano é especial, nenhum ser humano é igual, mas uma coisa é certa, ninguém tem que esconder sua própria felicidade porque o outro não tem coragem suficiente para se deixar ser feliz. É como já canta Jeneci: "Felicidade é só questão de ser!"

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