terça-feira, 15 de novembro de 2011

Amor: Funcionário público sem 13º



Sabe todo aquele papo de Santo? De pendurar santo de cabeça para baixa para poder casar-se ou casar a filha, em tese, encalhada? Deve ser uma coisa cultural, só do Brasil. Afinal, aqui fazem publicidade até com os pobres dos santos! E quando chega Maio é que se dana tudo. Santo Antônio em tudo que é comercial de loja de vestido de noiva! Mas o propósito desde dois pra cá, dois pra lá não é falar de santo, é outro...

Em meus muitos momentos de devaneios e divagações, imagino sempre Santo Antonio feito galã da Globo, cheio de cartas, pedidos, promessas e propostas absurdas. Sim, e careca. Até porque né, vamos combinar, aturar brasileiro reclamando porque querem se casar e ainda por cima mulheres, não é coisa de Deus! Mas ali coladinho, na mesa ao lado. O colega de repartição. Com óculos de armação preta e um ar de quem é feliz, encontra-se o Sr. Amor. E se vocês acham que Santo Antônio tem trabalho, é porque não pararam pra pensar, se Seu Antônio cumpre expediente só no Brasil, o Amor é universal!

Sempre o imagino além dos óculos de armação preta, o cabelo confuso, desgrenhado. Camisa formal branca, gravata com nó mal feito, preta, minúscula, e all star cinza. Não lembro se o imagino novo ou velho, porque o Amor sempre se renova. Ele não envelhece, amadurece. Ele não é novo demais, é precoce ou inesperado. Na mesa dele, pilhas e pilhas de e-mails impressos, até porque o Amor é moderno, apesar de preferir carta por achar mais pessoal, ele usa e-mail para não ser chamado de antiquado.

O Amor é rotulado por toda a repartição como o "funcionário dedicado", mas ultimamente ele anda um pouco rebelde. Desde que nasceu o Amor tinha consciência de que era único, seus pais inventaram esse nome. E ele alega estar desistindo da profissão, uma vez perguntado o motivo respondera: "Vou me aposentar, assim não dá, qualquer ser menor é chamado de Amor, Amorzinho, Mô. Qualquer paixão desemboca em um "Eu te amo" em menos de um mês de relacionamento, e o pior, ainda completam dizendo que é o "Amor da vida", vou pedir as contas, Amor que é Amor só um!", indagou ele, exaltadíssimo.

O Amor é magro, de um olfato apuradíssimo. Alimenta-se de carinho, afeto e todo e qualquer sentimento de caráter benevolente. Mas ele anda emagrecendo ainda mais, faz algum tempo que estes sentimentos bons andam em falta no mercado, e quando se acha o preço está nas alturas! O Sr. Amor tem um trabalho simples, desde que despediu o cupido ele acumulou tarefas. Não, ele não sai por ai atirando flechas, ele deu esta função para os nossos olhos. A função do Amor é apresentar as pessoas que estão dispostas a amar uma as outras em algum momento da vida. É fazer com que elas digam um "eu te amo" no auge da sua amadurecência e não um "eu também" insincero. Sim, o Amor faz muito bem o seu trabalho, ao contrário do que se diz, ele não escolhe quem não merece, ele se encanta por quem o aceita sem questionamentos, por quem o recebe de sorriso, abraços e sensações abertas. 

O Sr. Amor é bem humorado, não, as dores não é ele quem as provoca, são pequenos testes rotulados pelos seres menores de "Dores de amor". Isso faz parte do seu trabalho, o Amor recompensa todas as dores no final, abraçando-as e carinhosamente as transforma em boas risadas. O Amor chora, esperneia, faz bico, mas apenas quando não é reconhecido. O Amor mima, jamais é mimado. O Amor acolhe os seres mais mal acostumados. O Amor não dorme, ele te observa dormir para depois dizer que dormes engraçado. O Sr. Amor distribui convites e poucos leem as letras miúdas, os pequenos detalhes, os gestos minúsculos e o rasga ou faz aviãozinho. 
O Amor tem residência fixa, uma bicicleta azul e férias uma vez por ano. Não recebe 13º e ainda aguenta falácias de seus amigos por se contentar com pouco, por ser autossuficiente, porque para ele o Amor próprio é a base para o próprio Amor.

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