quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Com carinho, ao meu quadro torto



Ainda ontem me peguei recordando à  gargalhadas solitárias...

Teu tom não me agradava, os olhos me desafiando,
O sorriso cínico no canto do quadro atípico que é teu rosto.
Foi provocação a primeira vista, no sentido de sempre, claro.
Parecia que desde o início estávamos fadada s a nos envenenar por olhares,
Não é? É assim até hoje, amanhã e depois do feriado,
Eu de gêmeos, tu de escorpião,
Deus devia estar com um humor bastante peculiar quando nos apresentou!
Lembra-se, minha querida? Ofereceste-me um copo de vinho e eu ainda nem bebia,
Recusei educadamente o que oferecias e tu ainda fizeste piada com minha timidez,
E pra variar, meu bem, era sexta-feira!
Nem me lembro de quantas vezes te ignorei nos bares da minha vida,
Fingia não te ver passar e tu fazias o mesmo
e contávamos sempre a um alguém que havíamos nos visto,
Até que um desses dias perdidos de Janeiro,
Estava eu sentada no banco da sua casa recusando um copo d’água!
De certa forma travamos nosso maior diálogo até então,
E balancei a cabeça para todo o resto dos questionamentos feitos...
O surpreendente foi no mês seguinte virarmos confidentes musicais!
Com direito a Céu sem Dó, seus acordes dados e com muito Sol maior...
Fomos passadas pelo pré, pós e carnaval, à dança de Tulipa,
Com lembranças e verdades embaçadas de cachaça, vinho e cerveja.
E hoje, minha cara?
Nem nos demos mais o cuidado da cerimônia, dos elogios e das críticas
Não evitamos mais as gargalhadas, o zelo e o carinho disfarçado de escárnio.
Parecemos duas crianças ao som de um cavaquinho e um pandeiro invisível,
Que sempre fica no batuque do corpo, em um cantar desafinado.
E hoje minha cara?
Já nos cantamos no que eu sempre chamo de “teu samba meu, meu samba teu”.
Escrevemos projetos de prosa e poesia,
Presenteaste-me com um quadro torto, uma caixa de giz, um brega francês,
E tantos outros versos que são tão meus quanto teus
Sorteamos dias para que nossas falas se desentendam e terminem em dois perdões.
Mês passado te emprestei   barquinho de papel que me deste, lembra?
Aleguei que ele te traria sorte, mas foi para não sair de perto de ti,
Sabia que estavas com medo,
E como eu sempre digo: Confia em mim, se eu tô dizendo vai dar certo!
Mas o quero de volta, viu, tu tens a mania de perder tudo, principalmente as lembranças.
E por falar em lembrança, essa é a primeira vez que te desejo feliz aniversário,
Que te desejo formalmente mais luz nessa vida tua,
Mas sem esquecer, meu bem, que até hoje me deves um café, mesmo sem eu gostar,
Até porque nossa amizade foi engatinhando nas nossas insônias compartilhadas,
Nas nossas belezas emocionais e nas nossas franquezas olfativamente musicais.

ps: Fica feliz que vai funcionar!

2 comentários:

  1. "O sorriso cínico no canto do quadro atípico que é teu rosto".

    Engraçado... O texto parece uma junção de aquarelas "tuas sobre tu". O tom de depoimento, permeado por imagens, por sons, por confissões. Uma "carta"-poesia. Um bilhete-prosa. Um quadro aberto do teu olhar.

    :D

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