segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tem hora que a taça de vinho acaba...



Tem hora que o fio cede
Tem hora que os atos se excedem
Tem hora que a água dada seca mais que molha
Tem hora que a gente percebe que o prefácio de fácil só tem a derivação
Tem hora que o lirismo, que já era pouco, se cansa e vira Realismo!
Tem hora que é melhor jogar as lembranças pelo rádio
Tem hora que o nó é tão grande que precisa ser cortado
Tem hora que acaba.

Tem hora que todas as janelas que sempre estiveram abertas tem a necessidade de serem trancadas
Tem hora que acaba seu arsenal de 'segundas chances'
Tem hora que o copo que andava meio vazio inunda sua sala de estar
Tem hora que aquilo que você alegava ser sentimento se traveste de ponto final
Tem hora que teu próprio instinto para e cola nos teus olhos "pare, olhe, escute"
Tem hora que acaba.


Tem hora que a gente para de confundir desistência com covardia
Tem hora que você percebe o quão é corajoso desistindo
Tem horas que nem pontas de faca tem mais para você dar murros
Tem hora que uma palavra basta, que um olhar basta, que uma cabeça baixa!
Tem hora que o ombro falha
Tem hora que o peito é tão pisoteado que entra em um estado de anestesia geral
Tem hora que a música de fundo não faz mais efeito
Tem hora que teu despertador biológico decide funcionar
Tem hora que acaba.

Tem hora que o choro resolve dar lugar a um sorriso, por menor que seja
Tem hora que uma palavra triste deixa de ter mais significado que uma palavra que te dê alegria
Tem hora que as próprias horas fazem questão de te apagar (e desapegar da) a memória
Tem hora que o amor além de comer identidade, retrato, aspirinas, acaba também por se comer
Tem hora que acaba.

Tem hora que o interminável tango finda
Tem hora que toda aquela busca não passava de falta de afeto
Tem hora que masoquismo cede a cama para o prazer
Tem hora que tiramos um prédio de 19 andares das costas e percebemos que cabe no bolso da blusa xadrez
Tem hora que é bom ouvir quando Drummond pede calma
Tem hora que é bom sentir quando Chico pede para não nos afobar que nada é pra já
Tem hora que jogar uma tinta branca em toda aquele misto de sensações ruins é a melhor opção
Tem hora que acaba.

Tem hora que que a hora acaba
Tem hora que a música acaba
Tem hora que a tragicomédia acaba
Tem hora que a escuridão acaba
Tem hora que o que estava longe acaba
Tem hora que a taça de vinho se quebra
Tem hora que a garrafa de vinho acaba
Tem hora que o que sobra é apenas um cálice
E tudo mais se acaba.




2 comentários:

  1. Ágnes, estou ainda me refazendo das palavras tão bem costuradas que alfinetaram a minha mente e o meu coração. Sem palavras! Apenas estou feliz por não ter sido surpresa e por ter estado certo sobre vc ser uma grande mente sensível. Beijos!

    ResponderExcluir