sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Beatriz

Beatriz?
Beatriz é como esse vento
que passa e a gente não percebe...
Aliás, percebe, mas é tão súbito
que assanha o cabelo d'uma forma
que ele não volta mais...
É confundível com vento de chuva,
mas é só Beatriz.
Beatriz a passar pela vida da gente...
A de Chico, a de Tezza,
a moça do café, todas!
Mas nenhuma Beatriz de nascença,
todas feitas na lira e na poesia, Beatriz.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Aviso líquido

Disseram pr'eu tomar cuidado
E eu só cuidei,
E eu cuidei,
E cuidei.
Ignorando todo aviso líquido
e mais uma vez cuidei.

sábado, 23 de novembro de 2013

Sinestésica

Como ela era?
- Era toda cor e gosto de água de coco,
Cheiro de sol e constelações no rosto.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Amor que é amor só tem cura com música ruim

- Não, amor que é amor só tem cura depois de cachaça, banho frio e música ruim. Música boa também, mas sobretudo a ruim. Ninguém cura fossa tomando todynho e música clássica, senhor. Engano seu. Um pé na bunda só configura pé na bunda a partir do momento em que um brega se apossa da sua vida e vice versa. Tu lembra da outra vez que tu veio aqui? Então, é de "cena de sangue no bar, na avenida São João" a "então me ajude a segurar essa barra que é gostar de você", essa é clássica. Claro, mas é claro que acentua. mas o brega estanca as piores hemorragias pós pé na bunda, tu vai do choro ao riso já na introdução. Fossa sem música não é fossa. 
Amor mal curado sem música fossa causaria o maior índice de desemprego na música brasileira. O que seriam das fossas sem as músicas que tocam de repente e a gente não tem coragem de mudar? Música assim tem vontade própria seu moço. É ouvir "Olhos nos olhos" nove vezes e descobrir que tu tem nove versões da mesma música, cada versão dando um apunhalada no teu coração amante, de luto, brega...
- É essa a receita, doutor?
- Sim, meu filho, capriche no raça negra e muito banho de mar. Porque a gente sofre, mas a gente não conserva o luto não, viu! Até o drama que vem.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Nicolah e a árvore


Passou por três árvores, na sua visita a feira literária na qual sua mãe o levou, todas iguais. Luz verde, livros e corações pendurados, pessoas sentadas embaixo. Não entendeu o propósito, já era noite. Pensou "deve ser o costume de procurar sombra.". Na quarta árvore, Nicolah, percebeu um padrão.
 - Mã, por que todo mundo boli nos livros e ninguém mexe no coração? Perguntou o menino, puxando a blusa da mãe.
- Não sei, meu bem, deve ser medo de deixar cair, não sei... Disse a mãe, já rindo e prevendo as perguntas que estaria por vir.
- Mmmm, engraçado... Comentou Nicolah.

- O que, filhote? Perguntou a mãe, abaixando-se para ficar na mesma altura que ele.
- ... nem quando é de graça e dá em árvore as pessoas pegam os corações, gente é um bicho esquisito, mas a senhora tem razão, deve ser medo, vai que alguém colhe, não cuida direito e deixa o coração do outro cair? Já viu a confusão! Ai, essas pessoas sem coração... A gente pode comprar pipoca doce agora?

sábado, 16 de novembro de 2013

Nicolah e a energia

Domingo, dia oficial de tomar sorvete de flocos na casa de Nicolah. Exceto sua mãe, só tomava de coco. Nesse dia tomou sozinho, animado, não tinha dever de casa, dormira até tarde e era dia de sorvete. A única coisa que o irritou nesse dia foi a tentativa de ver desenho que falhou. Uma. Duas, três vezes e a energia caindo.

- Mã, a tv tá desligando sozinha. Três vezes já... Disse Nicolah
- TIRA DA TOMADA QUE VAI QUEIMAR! Gritou a mãe, em tom de mãe.
- Mas...
- Já tirou? E saiu tirando tudo que era eletrônico da tomada.
- Eita, o sorvete vai derreter... Saltou Nicolah do sofá.
- Deixa derreter, tá tudo dando errado mesmo, vai brincar com o cachorro. Resmungou a mãe.

Nicolah, ainda pensando no sorvete, foi brincar com o cachorro no quintal e confessou:
- Chico, quem é que fica calmo com o sorvete derretendo no dia do sorvete? Gente também deve ter queda de energia! Isso que dá não gostar de sorvete de flocos.

Aforismo 11

Sardas:
 resquícios de constelações cadentes na epiderme feminina.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Carta ao vermelho

Eu sei, é um movimento unilateral esse amor que eu te tenho. Mas é tão estranho, não o amor, mas esse sentimento unilateral, que eu tive que vir aqui te dizer. Eu o aceitei de bom grado, não ando cuidando, nem alimentando, ela tá aqui, sabe, e eu precisava te dizer. Eu poderia esperar passar todas as tuas fases, se é que são fases, dar teu tempo. Eu amo te ver livre, dá a impressão de que te dizer que te amo te prende um pouco, e eu sou louca pela tua leveza, do cachinho da cabeça ao dedo do pé. O problema foi que eu te dei tanta liberdade, desculpa, não fui eu quem deu nada a ti, mas eu me mantive tão espectadora, como no início, ao te conhecer, que alguém te elegeu para o amor. E eu vi vocês, aliás, eu te vi, só a ti e a mais ninguém. Eu sei, eu poderia esperar, esperar que tu me dissesse que pode me amar, que já pode me amar, ou dos males o menor, apaixonar-se por mim, como mulher, que pode me ter amor e tesão ao mesmo tempo, que vai me odiar numa briga idiota, e depois a gente vai fazer as pazes fazendo amor e tomando três cervejas, sempre as três cervejas do primeiro encontro, número exato para não embriagar. Mas eu não consigo, aliás, eu não posso esperar, esperei três meses, viu, o três, cabalístico nessa unilateralidade amorosa. Eu preciso da tua vida na minha. Preciso que nossos sentimentos conversem agora, mas sei que em ti não tem nada além de carinho. Eu não posso esperar, nem vou, não pelo que tu diz e o que dizem do meu signo, mas pelo meu amor, meu amor discorda do Coríntios, ele não é paciente, ele tem necessidade de amar, de te amar! Um dia desses estava pensando como seria acordar ao teu lado, te ver dormir eu já vi, destrambelhada, sem charme algum, mas ainda assim teu rosto conservava uma calma que acordada tu esconde. Eu preciso da tua mão esquentando a minha quando eu for ao cinema e tiver vontade de dormir no meio do filme. Eu tenho distonia, mas também faço por manha, pelo quentinho. Sabe, eu só consegui tocar outras pessoas depois que eu coloquei na cabeça que não te queria mais, não dei certo, claro, eu as beijava e os defeitos, meus e delas afloravam, elas não eram você e aquela não era eu. Eu queria te mostrar meu lugar favorito de comer, o da surpresa de uva que tu tanto gostou, acho que me apaixonei quando tu disse que amava surpresa de uva, chamando-a de uvinha, tanto faz. Apostar corrida na praia, no fim da tarde, detesto sol, nisso discordamos... E te ouvir xingar meu signo, sei que tu acha um inferno e foi uma das coisas que me fez afastar um pouco. Sei que sou ar de mais, como diz uma música que baixei há pouco tempo “eu sou vendaval”, desde pequena, mas o que fazer, tu é mais livre que esse vendaval que te fala besteiras, que te manda beijo sabendo que tu só vai responder um dia depois. Meus amigos dizem que eu ando deixando pelas esquinas e bares meu amor próprio, mas eu discordo, sabe, o problema é que tem amor demais, já não sei de é próprio, alugado, só sei que eu preciso te dar, conversar. Meu amor é ansioso, sente teu cheiro por onde anda, corre e lava as mãos. Teu amor eu acho difícil de ter, é, meu amor é pessimista, mas te juro que ele é a parte mais sã e sincera que a vida escolheu pra carregar em mim. Mas eu não quero carregar sozinha, queria misturar com o teu, até a vida reconhecer ele como um só. Sonhei que a gente cozinhava juntas, eu adoraria te ver cozinhar, adoraria cozinhar, o pouco que sei, pra ti. Cê, viu? Quando menos espero já to fazendo planos, eu evito, mas meu amor não deixa. Eu te evitei, mas meu amor não deixa. Eu preciso que ele sossegue pr’eu poder sossegar de amor.



                                                                                                                                                  Centopeia.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Nicolah e o ponto de intersecção

Vendo um filme qualquer na tv, nem o nome dele Nicolah sabia, costume, ver sem saber o nome. Nele, no filme, ele ouviu um velhinho sem dentes dizer que o equilíbrio era o ponto de intersecção entre o céu e a terra. Ele não sabia o que era intersecção e perguntou a mãe:
- Mã, o que é inter.. intersec...
- Intersecção? Perguntou a mãe.
- É, isso!
- É quando duas coisas se encontram, cruzam-se.
- Ahhn, então o mar é filho do céu e da terra, e ainda por cima a pessoa mais equilibrada do mundo! E seguiu a ver o filme, com a felicidade de dar barrocas.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Salto sobre cantadas

Porque no fundo, ou na simples superfície epidérmica toda mulher quer fazer o que ela fez...
 Deu-me um sorriso tímido ao descer do ônibus, também pudera, estava eu, mais uma vez enrolado ao fio do meu fone de ouvido, camisa desajeitada e a tentativa, quase frustrada, de descer do ônibus sem cair. Então ela me deu um sorriso, quase que de consolo, um "eu te entendo" labial, não verbal. Não pude deixar de reparar, inicialmente nos cabelos, dignos de discrição romântica do século XIX, digno de discrição de um cronista apaixonado pelo sexo feminino, dos dias de hoje,  e o resto do corpo harmonizava, nos passos ágeis para o que? Não consegui saber. Ela tinha cara de nome forte e simples, Maria alguma coisa, talvez, Beatriz? Catarina? Não importa. Atravessamos a ponte juntos, um sol quase que geminiano que não sabia se chovia ou queimava, enquanto o vento me descabelava e eu, na tentativa frustrada de tirá-los do rosto, admirava como o vento respeitava os cabelos dela e não assanhavam-no. Eis a tônica, só o vento respeitava, no meio da ponte, uma, duas, três, cinco buzinadas. E ela seguia altiva, passos ágeis, e eu atrás, a admirar sua beleza, porque ninguém é de ferro. Mais algumas buzinadas, umas três, talvez. Até o "psiu" derradeiro de um caminhão de lixo, nossa mulher de unhas negras e íris cor de mel, colocou toda a lira que qualquer escritor maldito construíra à ela no bolso, e num gesto de bravura e brilho, mais contemporânea impossível, ergueu seu dedo do meio, apontou aos senhores do caminhão, soltou um condecoroso "filhos da puta", e com o mesmo dedo, pela primeira vez, ajeitou o cabelo, como sinal de xeque mate ariano. Olhou-me, pela segunda vez, com um sorriso de vencedora na maratona feminina de atravessar pontes, salto sobre cantadas, era puro charme, e sumiu no estacionamento. Ali eu senti uma imensidão de mulheres galhofando dos senhores do caminhão, todas na minha cabeça, românticas, contemporâneas, puro charme, com classe, pura fêmea.

domingo, 6 de outubro de 2013

Do dia


Ei, pera... Não, não, eu não quero discutir.
Oi? O que eu quero? Não, essa não é uma boa pergunta porque demanda eu te explicar o que quero de mim, o que quero dos outros, dos outros para comigo, tu sabe, eu falo muito!

Agora? O que eu quero agora? Queria tá sendo encarada pelo mar, chorar um bocado, sabe. Tu sabe o quanto o mar me deixa mole, bate uma tristezinha boa e depois dividir três cervejas contigo. Tu quer água? Tem doce de goiaba em cima da geladeira.
Tá bem, pode ir, bate a porta pra trancar direito. Te cuida, e cuida de voltar amanha pr'eu contar meu dia, pr'eu cozinhar pra ti, não te esquece de ir ao dentista. Eu também.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Nicolah e o gosto do amor

Domingo à tarde, ele andava mais ansioso que o normal. Pulando pela casa, olhava o relógio e o calendário, o calendário e o relógio.
-Mãe, quanto tempo falta pra eu ir pra escola?
- Umas 18 horas, por que?
- Hum, sabe a menina da minha alergia... A que a senhora ensinou a soletrar o amor...?
- Sim, lembro, cê deixou ela te desenhar?
- Ainda não, mas, mãe... se ela é o meu A EME OH ERRE...
- Sim... (rindo-se)
- E sabe quando o shampoo bate na boca, sem querer...?
- O que tem a ver com a menina, o amor? Que confusão...
- É que eu sinto o gosto do perfume dela, sabe, aí eu fiquei em dúvida, é o gosto to amor? Faltam 17h, mãe.

domingo, 29 de setembro de 2013

Teófilo

Teófilo tinha 89 anos e dizia a Bento, o neto mais novo:
Bentowisk, namoro tua vó há 68 anos, nunca quis casar,
a vida foi casando a gente, do jeito que deu, do jeito da vida...
A vida foi me tirando tudo, os cabelos, a agilidade, alguns amigos,
a ansiedade...
Inúmeras foram as coisas, inclusive a boa memória em lembrar das perdas,
mas esse frio na barriga toda vez que vejo tua vó, quando menos espero, quando
acordo e ela tá lá, dormindo, resmungando, isso a vida não tem coragem de me tirar,
o frio na barriga é que nos esquenta por todos esses anos, mas o que tu queria me perguntar, mesmo, Bento?

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Nicolah e a melhor coisa da vida

Zéu, depois de horas jogando videogame, correndo, com o sorriso de costeleta à costeleta, para em frente a Nicolah, e com a maior satisfação do mundo, pergunta (quase que afirmando):
- Ai, ai, Nico, tem coisa melhor, na vida, que jogar videogame?
- Tem, cheiro de laranja cravo sendo descascada.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Memória de um mergulho

11 da manhã, morria mais um amante. Ou quase...
Jogou-se de peito na vida, o excesso de peso o imergiu,
Mas não morreu, coitado.
Foi salvo pela leveza de um amor,
E continuou amando e pensando em objetos pontiagudos.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Nicolah e o perfume

Nicolah sempre foi muito estudioso, calado, fora de casa. Certa vez só descobriram que ele estava com febre na escola porque esbarrou, sem querer, na professora e ela sentiu a pele do menino ardendo. Sentava sempre na segunda cadeira da sala, problemas precoces de vista. Mas em plena quinta-feira, o celular de sua mãe toca, ele queria voltar para casa mais cedo. Ele disse que não se sentia bem, disse a professora. Mas com quê? Ele não quis dizer. Chegando em casa, no seu ritual de tirar os sapatos e fazer xixi, disse a mãe que estava com dor de barriga, fazia uns dias. Que ia ao banheiro e não saía nada. Que andava com uma falta de ar estranha, principalmente na escola, em casa não sentia nada. Que a mão suava, mas que sabia que não tinha distonia. Que tinha procurado no Google, mas não tinha achado nada a respeito.

- Acho que é alergia, mãe, só pode ser, acho que é alergia ao perfume da menina que senta na minha frente, essas coisas todas só acontecem quando ela chega, ela e aquele caderno irritantemente laranja!

- Mas como assim, Nico? O perfume dela é forte? Cê não tem alergia a nada, que eu saiba...
- Sei lá, não sei, mas eu sinto em todo canto, mas deve ser o cheiro que sai cabelo dela, sei lá... Ela fica jogando ele de um lado pro outro, acaba a aula toda despenteada, e ainda atrapalha minha visão. Mas o caderno é o que mais me irrita, hoje ela pediu para me desenhar e eu não deixei.
- Por que?

- Porque da última vez que ela desenhou meu cabelo ficou estranho, eu parecia que tinha umas molas na cabeça, mas ela disse que tinha melhorado, que teve umas aulas e que eu era engraçado de desenhar. Eu ainda não tinha alergia ao perfume dela, mas hoje quando ela chegou pra me pedir me deu uma falta de ar, uma tremedeira, a mão começou a suar e me deu, de novo, essa dor de barriga que não sai nada.
- Hmm...
- E, e.. e.. e.. eu... (foi um gaguejo que não saiu nada com nada quando ele tentava explicar sua alergia direcionada) pensei que ia morrer!

- Nicolah, pega o computador pra gente pesquisar melhor...
- Já tô com ele...


- Então procura por isso aqui... A, EME, Ó, ERRE, tu vai ver que é uma alergia bem boa. 





domingo, 8 de setembro de 2013

domingo, 1 de setembro de 2013

Ilême

Cansou de falar de seus protagonistas femininos. Cansou de tentar juntar dinheiro e foi. Foi pro Ilême. Havia visto num filme, achou longe o bastante para... Achou o bastante! Na mochila suja, shampoo, condicionador, peças íntimas e os documentos necessários para ainda se sentir gente. Disse a uma amiga que iria. Não obteve resposta a tempo (por isso a escolha). Ainda que se precavendo de uma futura indagação acerca dos motivos "preciso parar de cansar tão rápido". De tudo. "minh'alma precisa de vida, cê sabe". Nos seus registros, enquanto viajava, não se via saudade. O ideal romântico morreu de sede. Mandou apenas uma carta. Escrita à mão, para os pais confessando o que já sabiam. Recuperou alguns gramas d'alma. A primeira pessoa que conheceu, falou de um rio, lago, algo que envolvia água. Água e coração. Disse-lhe que esse rio abastecia uma vila e que reconhecia a temperatura dos corações. Cada um com seu gole de vida. Cada um afogando ou aguando sentimentos. "água fria para corações quentinhos, água quente para derreter coração pedra de mármore". No roteiro, o lago seria a suposição de volta ou decisão de ida. Perdeu cerca de 6 quilos. Deixou o cabelo crescer. Criou um jardim. Cada plantinha que nascia batizava com um nome amigo. Mas nunca cultivou o acordar cedo, colocou isso na carta aos pais, sabia que eles ririam. No 321º dia deu o primeiro beijo com alma. Ali estavam os quatro, duas criatura e suas respectivas almas, beijando-se, acrescentando-se, colocando mais vida no que andava morno. 364º dia, vestiu-se de calça de tecido fino e camiseta branca de botão. Mochila no ombro direito, vinte minutos até o lago. Tomou dois goles d'água. Molhou a cabeça e sorriu, sorriu de fazer barulho para estranho ouvir. Descansou e percebeu que seu Ilême era sua cabeça. Que o que faltava à alma era água. Descansou e se deixou seguir.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Alice?

Cadê ela? Não sei, saiu correndo, disse que tinha que alcançar alguém e foi. Ah.
"Para Alice

Alice, Lua e estrela, primeiro de tudo, eu não esperava te encontrar aqui, não gosto que me veja na situação que eu tô...
Cê disse que só tinha R$ 40,00 pelo resto do mês, eu só tinha R$ 30,00 e ainda comprei uma água pra você, e comprei porque eu quis.
Sobre o outro dia, você tem razão, você quem veio dançando em minha direção e eu, como amo "chamão", fui, e ficamos. Você foi quem correu, indiretamente. O que também ocorreu hoje, mas quem fez o "chamão" dessa vez fui eu. 

1. pro dia de hoje = menos ansiedade
2. sobre ser jovem = também me sinto, mas não tanto quanto você
3. porque eu corri = minha mãe conseguiu que Afonsinho me aceitasse de volta (com condições - efêmeras)
4. como eu me sinto com relação a você = ...
5. se a gente vai se encontrar essa semana = ...
6. pro teu andar = calma

Alice... é... eu ando correndo...é... tenho que ser breve, soube que você tá organizando um livro, mas isso não vem ao caso, é que eu sei que você me daria e eu não quero. Quero comprar e pedir pra você assinar, como se não me conhecesse, e só quando eu sorrisse pra você, quando nos déssemos "boa tarde/boa noite", é que iríamos nos reconhecer...

7. pra tua vida = mais alma.

Até o teu andar corrido."

Alice esqueceu a água. Não, ela guardou, tu sabe, ela guarda coisas que a gente nem imagina, diz que tem "valor recordativo".  

domingo, 18 de agosto de 2013

Da puta e do cigarro barato

Cambaleou pelas ruas escorregadias, sem rumo, sem futuro, como lhe dizia o pai "quem bebe não tem futuro, menina!". Queria fazer xixi, por isso a caminhada. Acabou por se perder. Achou uma senhora de pele e olhos desgastados, marcas de quem de tanto dar prazer esqueceu-se do próprio. Achou-se. Acharam-se. Ela e a puta. Sim, assim que a senhora desejou ser chamada porque mulher da vida somos todas, ela assim dizia à menina, mulher, não se sabia, tanto se fazia. O xixi foi feito, a puta a cobriu, fez o cercadinho que contém no pacote complicado de uma mulher fazer xixi na rua, mijou rápido. Dalí, do cercadinho, para serem íntimas nos assuntos foi um salto, sem abismos. A puta sabia que a quantidade de xixi e cachaça tinha nome de amor mal liberto. E ela disse "tem nome e corpo de mulher", a cachaça. E a puta riu, como propaganda política pós o candidato ser eleito "eu já sabia". E continuou com alguns questionamentos para melhor analisar a situação e dar seu veredito de mulher experiente... "vocês já transaram?", e a menina disse que não, "vocês já quebraram pau?", outra resposta negativa. Era só isso que eu queria saber, disse a puta, e prosseguiu. Você tem cara de quem tenta agradar, você tenta agradar? Então recebeu sua primeira resposta positiva. A senhora disse "hum, tá fodida mesmo", aliás, o que tá me parecendo é que o problema é a falta de foda, não de amor, de foda, mas não me ache vulgar, é que não se conquista quem é do mundo com fofice, é mais fácil você conquistar o mundo do que a pessoa. A menina concordou com tudo, mas ficou em dúvida se tinha falado algo da outra ser do mundo ou do particular, e foi comprar cigarro. Comprou uma carteira, do mais barato, do que tinha o pior cheiro, do que mais lembrava sarjeta. Fumou três, enquanto a senhora apreciava aquele cigarro com gosto de bosta de cavalo como uma taça de vinho fino. Em nenhum momento a senhora falou da sua vida e quando pensou em falar, conteve-se e pediu mais um cigarro. No último cigarro, o terceiro, a menina chorou, chorou rindo "que gosto de merda do caralho tem esse cigarro". Então as duas riram, juntas, pela primeira vez, e a puta, maliciosa, disse, "já senti gosto de coisa pior na minha vida" e caiu na gargalhada gostosa, como quem lembra do que agora virara piada. E a menina, que esquecera do gosto de merda do cigarro respondeu que cada uma cuidava do seu departamento, para a vida seguir mais equilibrada. Ela disse que precisava ir, que os amigos a esperavam, havia lembrado o caminho. A puta disse que tinha sido um prazer, "e olhe que normalmente me pagam pra eu dizer isso"... "Só mais uma pergunta, nega, tu disse que queria ela? Teu corpo disse que desejava ela?".

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Nicolah e a Mariposa

Havia chegado da escola, aborrecido, depois de um dia cansativo de estudar vertebrados e invertebrados, de ser chamado de "Nicolau" o tempo inteiro pelo novo professor de ciências, Nicolah, com as bochechas vermelhas de cólera, dispara contra a mãe:
- Mãe... é que tem um professor novo que só me chama de NICOLAU, eu tentei dizer que o "U" tá no lugar do "H", ma...
- Mas o que, meu bem? Perguntou a mãe.
- Mas ele continua, daí ele tentou enfiar na minha cabeça, e na de todo mundo, que uma borboleta preta é uma mariposa. E ele, impaciente, repetia e repetia "Nicolau, a mariposa é uma borboleta preta"
- Sim... Disse a mãe.
- Daí que eu disse que não, que mariposa é mariposa e borboleta é borboleta. Pobre da mariposa, uma vida inteira sendo confundida com uma borboleta e sempre ouvindo as pessoas decepcionadas dizerem "ah, é só uma mariposa". Pobre de mim, um ano inteiro sendo chamado de Nicolau.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Às mãos no mar

oo:59 e o mar jorrava em mim no chão do quarto, não! Eu era o mar, era todo o lixo que jogam nele, era toda a coisa ruim e boa que, que vem e vai na maresia. A parede do quarto também era o mar e, por um segundo, eu quis me afogar. Sim. Morrer no mar, morrer no mar que eu mesma imaginei, antes dos 27... Mar que morre(u) no mar...E num flerte épico da vida:

Morrer mar.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

(ponto)

Já tinha a visto duas vezes antes de percebê-la
Depois mais duas
Então sumiu
Não que eu goste de mãos dadas, gosto de mãos, e naquela hora ela colocou o mundo em minhas mãos e se agarrou em mim, no mundo
Quando? Já vou
A luz pingou em dois feixe, um no cangote e no cabelo... No cacho, no canto
É
Vermelho
Disse ter vontades ruivas, eu disse, ela riu enquanto falávamos em viagens e
Vai beber? Hoje não
Tudo isso sem pôr um ponto sequer (ponto) Tudo isso por um fluxo de (in)consciência engendrado de ideias atropeladas (ponto) (ponto) (ponto) Reticências
Neguinha, como diz um grande mestre, as grandes histórias morreram, afogaram-se nas próprias palavras, no próprio excesso ao querer demais, cobrar demais e só sentir amor (ponto) Amor e mais nada, esqueceu-se do olho no olho, do tilintar dos dentes quando se beija com muita sede
E de repente, procura por se repetir
Naquela cama anda sonhando, mas o travesseiro treme, interrompe o segredo
E por mais tempo que se passasse ainda havia um pedaço do mundo nas suas mãos
A lembrança do mundo em sua mão (ponto)

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Placa afetiva

E em meio a fuga diária do sono, rebiscou a parede em forma de placa de aviso afetiva:
"Você passar ou ficar, pouco importa,
contanto que nos amemos nos gestos,
 no olho, na vida"

Não assinou... Mas disse que era para um estranho, disse que era para o futuro, disse que era para a vida.

Luz vermelha


Dançou,
Amou
e morreu como um ocaso.

domingo, 21 de julho de 2013

domingo, 14 de julho de 2013

Nicolah e os joelhos

             Fim de semana, sol chamando até os mais preguiçosos para acordar cedo e dia da Nicolah e família ir à praia. O menino adorava a água e implicava com a areia, principalmente, na hora de ir embora, grudava nos pés, sujava a sandália. Mas o mar, pelo mar, ali se tinha uma admiração tremenda, e em uma das muitas saídas da água para falar alguma curiosidade ou tirar alguma dúvida com a mãe, o menino esqueceu o que ia dizer ao observar os joelhos de sua mãe. E feliz da vida constatou: Mãe, você foi tão feliz na infância, feliz nos dois joelhos. Fui sim, filho, mas por que você diz isso agora? Porque quantos mais cicatrizes, mais brincadeira, quanto mais brincadeira mais feliz a pessoa é, e seus joelhos não negam, neles têm felicidade de sobra, vou voltar par a água. E foi para a água, foi ser feliz com o mar.

domingo, 7 de julho de 2013

Insônia astral

E antes de dormir me tirou o sono cantando, em harmonia, letra e melodia:
"Nos átomos, nos minutos, nos escolhemos
Nos saturnos, nos segundos, espelhos vais"

E nada mais.

sábado, 11 de maio de 2013

Tadeu

Tadeu aparentava uns 27 anos, idade cabalística, e numa quinta-feira, trabalhando no balcão de um bar pé de chinelo, porém bem frequentado, viu entrar um cheiro que o fazia desimpregnar da inhaca de cerveja e cachaça que servia no bar. A mulher? Ah, era branca, ou melhor, chamava-se Branca, não se sabe se por certidão ou alcunha. Não importava, naquela tarde Tadeu resolveu que amaria àquela mulher, nem que fosse por 45 minutos da vida, de seus 27 anos. Inicialmente, amou-a com olhos, posteriormente, com a carne, no entanto, apenas lhe serviu uma dose de cana, sim, cana, foi assim que ela pediu "por favor, querido, uma dose de cana". E Tadeu serviu. Ficou em estase. Já era "querido". E duas conversas ouvidas depois descobriu, todos eram "querido" e "querida". Não importa, ele alegava que o "querido" que ela o tinha proferido possuía uma intonação diferente, e se ele acreditava que tinha é porque tinha! Quase me esqueci, Branca carregava um flor banca entre os seios, e o cheiro não vinha dela, saia da flor e se espalhava por todo o ambiente entranhando de cerveja e cana. Ela pediu vinho, mas não tinha, Fichas para sinuca, também não tinha, por último Branca pediu um guardanapo e uma caneta. Tadeu disse que ela esperasse um pouco e enquanto procurava a caneta alternava em olhar o vestido de Branca e a caixa que deveria estar a caneta. Então achou o objeto e entregou. No meio tempo em que a moça escrevia no guardanapo e Tadeu enxugava os copos chegou ao balcão Dominique. Dominique era um desses estudantes que fazem intercâmbio e desistem do próprio país e vira mais uma boca no país alheio. O rapaz era bem educado, cheio dos eufemismos e soltou "ela é linda, mas é mulher da vida" - Tadeu quase derrubou o copo - e Dominique prosseguiu "dizem que de luxo, e que amou uma vez aí", pediu um maço de cigarro voltou para a mesa. E Tadeu? Tadeu queria amar àquela mulher! Saiu de trás do seu balcão e dirigindo-se à mesa de Branca disse que a amava, à ela e à flor. Branca se levantou, dobrou o guardanapo, pegou na mão do rapaz para pagar a conta e disse que era puta, sim "puta", foi esse o termo, entregou-o o papel e foi embora. No papel havia o desenho da flor dos seus seios, o nome da flor e o nome dela: "Gardênia", mais conhecida na noite e na vida, de tantos homens que a amaram, como "Gardênia Branca".



quarta-feira, 8 de maio de 2013

Graphos

Deu duas piscadas, esfregou os olhos, mirou no livro e lendo horizontalmente:
"Tudo é passível"



...concordou sem hesitar,afinal, ser passível era mais lógico que o tudo ser possível.

sábado, 27 de abril de 2013

Nicolah e Seu Epitáfio


Depois de chegar da escola Nicolah começou a mexer nos cds, dvds, revistas que falavam de música, e isso sua mãe percebeu a "lógica" da procura quando viu uma pilha esses objetos no meio da sala, isso durou cerca de meia hora, até que ele parou, sentou no sofá e, como de costume, balançando as pernas com a testa enrugada disparou para a mãe:
- Mãe, hoje conheci um tal de Epitáfio, mas minha professora não mostrou a cara dele, e disse que ele era metido com essas coisas de jazz. E a mãe sem entender pediu para que ele explicasse melhor, e então ele o fez.
- Foi minha professora que falou desse senhor, mãe, Epitáfio e sempre que alguém morria ele aparecia, e sempre diziam "aqui jazz"...
- Mas filho... A mãe tentou interromper, mas ele continuou! 
- ... aí eu fui procurar nos cds da senhora e do pai pra saber o que mais tem de música pra Seu Epitáfio parar de desejar jazz pra todo mundo, sabe, a pessoa que morre pode se ofender, não gostar de jazz...
E a mãe já caindo na gargalhada não conseguia falar nada, então ele prosseguiu.
- ... vou fazer uma lista para dar a professora e vou pedir para ela entregar a Seu Epitáfio, e quando alguém for pro céu ele vai dizer "aqui samba", "aqui soul", "aqui forró", "aqui funk" acho muito mais justo!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Sábado

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E fiquei ali olhando, esperando que abrisse os olhos, não sabia se dormia ou se esperava por um beijo, carinho, não sei... Não dei beijo, muito menos carinho e continuei olhando, desviei o olhar para a varanda só para ter certeza que só eu tinha o privilégio de olhar para àquela imagem, quando voltei o olhar, no canto do olho, do olho esquerdo havia uma lágrima, uma gota pequena, mais parecia uma pequena poça, um lago, qualquer coisa que eu quisesse que fosse... E eu? Eu quis que fosse a luz dela dizendo que me amava naquela tarde de sábado.

sábado, 30 de março de 2013

Arnaldo e Vilma


Hoje, no início na da tarde, conheci Arnaldo, a parte que ele quis que eu conhecesse. Nem sei se o nome dele era Arnaldo, para mim ele tinha cara de Arnaldo. Enfim... Ele nos apresentou Vilma. Tirei os fones de ouvido para ouvir a extraordinária história de amor dos dois. Mas antes, de dar alguns detalhes de Vilma, vamos a Arnaldo. Estatura mediana, como as meias no meio das canelas, all star, meio bossa nova e rock'n roll, tremendo entendedor da língua portuguesa e de outras línguas, apelando para o castelhano e para o inglês. E Vilma? Segundo ele "uma mulher extraordinária, excepcional , maravilhosa" e mais alguns adjetivos enriquecedores e o metrô ia pulando de estação em estação. Arnaldo dizia que a amava, que a queria e que havia recebido de Vilma todo o amor do mundo, mas em meio a epifania dos elogios ele desabou! Não, não literalmente, nosso amigo (a essa altura já estávamos todos envolvidos com o drama do nosso Arnaldo) xingou Vilma,gritou aos quatro cantos do vagão que ela o aprisionara, que agora ele estava "Free", livre leve e solto, mais feliz que pinto no lixo depois de festa e que ainda assim não conseguia deixar de amar a mulher extraordinária que era Vilma. E para declarar ainda mais seu amor, Arnaldo, recorreu às válvula de escape romântica, encher a cara em um bar. E só para Vilma ficar ciente de suas maldades e se vingar, deixou a conta do bar no nome dela!

Cabelo


Creio eu...
Na minha imperfeita concepção, que cabelo transcende o físico,
Ou como dizem "o morto", nas brincadeira quando criança "cabelo não vale, é parte morta".
Cabelo transcende o estético, estilístico ou outra palavra de prefixo es-
É a raiz da alma, a raiz pra fora da terra e da alma...
Corta-se... Perde-se parte da alma.
Apara! Raspa! Implanta! Se a alma não se contenta,
"Cabelo cresce." É o que sempre dizem.
Cabelo é estado de espírito! É o que eu tento dizer.

Aforismo 3.17

Insone: ser em alta produtividade madrugal e compromissos logo de manhã cedo.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Preta


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Tem calma, preta, o tempo nada mais é que uma repetição de comemorações,
uma findável celebração à velhice. 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Procura-se


Procura-se pessoas...
Que gostem de livros
Que te mandam fazer um livros
Que gostem de cheirar livros e sorrir depois de cheirá-los
Procura-se pessoas...
Que peçam livros emprestados
Que cuidem dos seus livros
Que os devolva com seu cheiro na capa
Procura-se pessoas...
Que comprem livros pela capa
Que comprem livros sem capa
Que amem livros de capa dura
Procura-se pessoas...
Que leem livros inteiros
Que leem tirinhas
Que amem ilustrações
Procura-se pessoas...
Que tatuem hai cais
Que leem poesia concreta
Que amem Mafalda e Peanuts
Procura-se pessoas:
que aprendam nos livros a amarem pessoas.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O corpo e Víbora


Pós carnaval, com as ideias (des)organizadas, sem voz e uma música responsável por tudo isso. Primeiramente devo dizer que em 20 anos poucas vezes vi alguém ter tanta presença de palco como Tulipa Ruiz. Senti arrepio, energia, falta de ar, tudo! E principalmente um sorrir, que eu já não sabia se era de dentro para fora ou de fora para dentro, o corpo todo sorria, tremia e agradecia. Mas, indo direto ao ponto, estabeleci uma relação bastante estranha, porém, justificável, com a penúltima música do "Tudo tanto", desde o a guitarra e o contrabaixo, do início, ao silêncio exausto do último verso. "Víbora". É impossível não dar atenção à essa música. É impossível não gritar. É impossível ficar estável ao ouvir. E ao vivo, com direito a agudos maravilhosos, performance corporal, iluminação. Até o vento do cais da alfândega parou de bater, fez silêncio, só para ouvi-la. É uma gradação de sentimento que vai e vem no refrão, pausa nos outros versos! Senti o corpo formigar todo, a cabeça latejar, e o refrão, que eu sempre erro quando cantarolo em casa, saiu sem uma respiração sequer pra atrapalhar, todo, jogado, atirado, com uma sensação de alívio, um pulsar que parecia que o coração ia sair pela boca e se jogar no rio! A cada segundo de música que se passava os instrumento iam, um a um, concentrando-se em uma parte do meu corpo, cada um em seu (in)devido lugar. E o agudo. A voz, "A" voz, sentia em meu estômago, na pele, no sangue e nos nervos, acima de tudo no estômago! 10/02/2013: a primeira vez em que ouvi uma música pelo estômago.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Mama


Hoje, tomando meu sal de frutas, lembrei dela. Não sei porquê. Primeira vez que senti saudade. Lembrei do rosto dela, quase nunca sorria, principalmente nos últimos anos. Hoje penso que sofríamos do mesmo mal, genético talvez: dificuldade de demonstrar sentimentos. Medo de sorrir. Não, devo me contradizer, lembro-me dela sempre que compro um chiclete, algo que cheire a barraquinha que conservara quando eu era criança, ou melhor, quando ganho um chiclete. Não sei se cheguei a ganhar a simpatia dela. Mas sei que ganhei orgulho. Às vezes me pego rindo quando lembro d'ela perguntando aos berros, sentada em sua cadeira de balanço na frente de casa, eu já no final dos degraus, se eu não iria pedir a benção, ou melhor, "a bença". Hoje, depois de quase um ano sem pedir a bença, desfiz os maus julgamentos que fiz dela. É por essas e outras, que mesmo estando no últimos degraus da minha rua, lembro que esqueci de algo. Chego à porta e, aos berros como minha Mama me ensinou, grito: "bença, mainha, bença, painho."

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Vista para lugar nenhum



Quase 18:00 e o sol ainda ali,
Sentada no degrau de casa,
Com vista para lugar nenhum,
Vejo Luísa correr de um lado para o outro
Sem espaço vertical,
mas há espaço para a felicidade!
Vejo no cabelo dela saltitando,
e confirma a música que toca ao lado:
"Tudo há de melhorar",
Nem precisava de música,
Precisava apenas da vista para os cabelos dela.