sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Puella



(...)
E da próxima vez que me vir,
Vê se não  fica tão distante, 
Vê se sorrir mais,
Não precisas falar comigo,
Apenas sorrir de longe, com os olhos,
Que esse coração cá dentro vai inquietar-se,
Porque quando teus olhos, essas tuas meias luas pintadas de cílios,
Sorriem... 
Eu fecho os olhos e imagino o barulhinho deles a gargalhar.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Bilhete de café da manhã


6:30 da manhã. Pedaço de papel quase caindo da mesa, amassado, letra tremida, e misteriosamente úmido...

"Quase amor,
Teu gosto anda como café quente na língua queimada,
Incomoda o dia todo.
Como chocolate amargo, por mais que eu beba água teu gosto não sai,
Não sai!
Ficou impregnado em minha língua!
Aqui na cabeça teu cheiro ainda enrola meu cabelo,
Mas é teu gosto que me deixa impaciente,
Ai, quase amor, tu tens gosto de café da manhã,
O cheiro do teu café molhando os lábios, a gota no canto da boca
E o guardanapo sujo de açúcar
Tens gosto de fome da 10:30, lanche da tarde, doce antes do jantar,
Gosto de dia inteiro!
Enfim, quase amor...
Tive um pesadelo esta noite,
Então acordei para sentir teu gosto,
E não quis te acordar só para dizer que o açúcar acabou...
 Bom dia, gosto meu.
Bom dia, quase amor."


domingo, 20 de novembro de 2011

Era uma casa...


Era uma casa...
Nem tão engraçada assim, tem teto, tem matéria prima para amor de muito, tem tanta coisa...
Têm móveis de valor afetivo, carinho e uma manhosidade sem tamanho.
De certo é igual a do Sr. Moraes, não tem chão, nem parede é feita de nuvem de algodão doce,
No porão do céu...
Não é a casa dos sonhos, nem é tão confortável assim, é confortante, com cheiro de baunilha.
O espaço é pequeno, grande demais para sentimentos mesquinhos...
Ah, lembrei... Tem uma estante, um abajur, uns versos trancados na gaveta.
Tem muita luz, muita sede e poucos copos,
Tem o aconchego da nossa própria casa, tem homônimo de lar.
A casa é um coração!
Os botões da blusa, da flor, dos olhos, abrem-se e a casa se enche de  vento
Se por muito merecer do coração, a casa se torna morada do amor,
Discorda de quase tudo, do poeta, do quinto verso...
Mas põe no endereço do novo lar do amor:
"Rua dos bobos, Nº 0"
Afinal, o que seria do amor sem esta rua?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Amor: Funcionário público sem 13º



Sabe todo aquele papo de Santo? De pendurar santo de cabeça para baixa para poder casar-se ou casar a filha, em tese, encalhada? Deve ser uma coisa cultural, só do Brasil. Afinal, aqui fazem publicidade até com os pobres dos santos! E quando chega Maio é que se dana tudo. Santo Antônio em tudo que é comercial de loja de vestido de noiva! Mas o propósito desde dois pra cá, dois pra lá não é falar de santo, é outro...

Em meus muitos momentos de devaneios e divagações, imagino sempre Santo Antonio feito galã da Globo, cheio de cartas, pedidos, promessas e propostas absurdas. Sim, e careca. Até porque né, vamos combinar, aturar brasileiro reclamando porque querem se casar e ainda por cima mulheres, não é coisa de Deus! Mas ali coladinho, na mesa ao lado. O colega de repartição. Com óculos de armação preta e um ar de quem é feliz, encontra-se o Sr. Amor. E se vocês acham que Santo Antônio tem trabalho, é porque não pararam pra pensar, se Seu Antônio cumpre expediente só no Brasil, o Amor é universal!

Sempre o imagino além dos óculos de armação preta, o cabelo confuso, desgrenhado. Camisa formal branca, gravata com nó mal feito, preta, minúscula, e all star cinza. Não lembro se o imagino novo ou velho, porque o Amor sempre se renova. Ele não envelhece, amadurece. Ele não é novo demais, é precoce ou inesperado. Na mesa dele, pilhas e pilhas de e-mails impressos, até porque o Amor é moderno, apesar de preferir carta por achar mais pessoal, ele usa e-mail para não ser chamado de antiquado.

O Amor é rotulado por toda a repartição como o "funcionário dedicado", mas ultimamente ele anda um pouco rebelde. Desde que nasceu o Amor tinha consciência de que era único, seus pais inventaram esse nome. E ele alega estar desistindo da profissão, uma vez perguntado o motivo respondera: "Vou me aposentar, assim não dá, qualquer ser menor é chamado de Amor, Amorzinho, Mô. Qualquer paixão desemboca em um "Eu te amo" em menos de um mês de relacionamento, e o pior, ainda completam dizendo que é o "Amor da vida", vou pedir as contas, Amor que é Amor só um!", indagou ele, exaltadíssimo.

O Amor é magro, de um olfato apuradíssimo. Alimenta-se de carinho, afeto e todo e qualquer sentimento de caráter benevolente. Mas ele anda emagrecendo ainda mais, faz algum tempo que estes sentimentos bons andam em falta no mercado, e quando se acha o preço está nas alturas! O Sr. Amor tem um trabalho simples, desde que despediu o cupido ele acumulou tarefas. Não, ele não sai por ai atirando flechas, ele deu esta função para os nossos olhos. A função do Amor é apresentar as pessoas que estão dispostas a amar uma as outras em algum momento da vida. É fazer com que elas digam um "eu te amo" no auge da sua amadurecência e não um "eu também" insincero. Sim, o Amor faz muito bem o seu trabalho, ao contrário do que se diz, ele não escolhe quem não merece, ele se encanta por quem o aceita sem questionamentos, por quem o recebe de sorriso, abraços e sensações abertas. 

O Sr. Amor é bem humorado, não, as dores não é ele quem as provoca, são pequenos testes rotulados pelos seres menores de "Dores de amor". Isso faz parte do seu trabalho, o Amor recompensa todas as dores no final, abraçando-as e carinhosamente as transforma em boas risadas. O Amor chora, esperneia, faz bico, mas apenas quando não é reconhecido. O Amor mima, jamais é mimado. O Amor acolhe os seres mais mal acostumados. O Amor não dorme, ele te observa dormir para depois dizer que dormes engraçado. O Sr. Amor distribui convites e poucos leem as letras miúdas, os pequenos detalhes, os gestos minúsculos e o rasga ou faz aviãozinho. 
O Amor tem residência fixa, uma bicicleta azul e férias uma vez por ano. Não recebe 13º e ainda aguenta falácias de seus amigos por se contentar com pouco, por ser autossuficiente, porque para ele o Amor próprio é a base para o próprio Amor.

sábado, 12 de novembro de 2011

Lembrança em sonhos brancos


Era branca. Não. Azul cor de nuvem 

Alguma dessas cores que se descascam em branco...
É, era a cor da casa do meu avô.
Só me restou uma foto. Não da casa, mas uma foto dele.
E a lembrança que eu tenho é em um sonho desfilar para ele meus encantos pelos pés de feijão...

- Vovô, ô, vô... Meu peito anda cabendo em uma casa de botão, vô! Anda apertado, aliás, vô, ele nem sequer se permite andar. Inerciou-se e tá do tamainho das sementes de feijão q'o senhor me deu para que eu plantasse meus sonhos em um pedaço de algodão, no cantinho do quintal. Não deu, vô, não deu, o vento carregou minhas sementes, meus sonhos são grandes demais para corações pequenos, minhas sementes brotaram nas nuvens e esse peito cá anda com o amargo do fruto na ponta dos pés dos cílios... Vô, estas me escutando? Vô...  Vai  ver que meu amargo maior foi não ter aprendido violão com o senhor, não ter visto tua face morena em sol maior...


Fica com teu anjo, Vô.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Com carinho, ao meu quadro torto



Ainda ontem me peguei recordando à  gargalhadas solitárias...

Teu tom não me agradava, os olhos me desafiando,
O sorriso cínico no canto do quadro atípico que é teu rosto.
Foi provocação a primeira vista, no sentido de sempre, claro.
Parecia que desde o início estávamos fadada s a nos envenenar por olhares,
Não é? É assim até hoje, amanhã e depois do feriado,
Eu de gêmeos, tu de escorpião,
Deus devia estar com um humor bastante peculiar quando nos apresentou!
Lembra-se, minha querida? Ofereceste-me um copo de vinho e eu ainda nem bebia,
Recusei educadamente o que oferecias e tu ainda fizeste piada com minha timidez,
E pra variar, meu bem, era sexta-feira!
Nem me lembro de quantas vezes te ignorei nos bares da minha vida,
Fingia não te ver passar e tu fazias o mesmo
e contávamos sempre a um alguém que havíamos nos visto,
Até que um desses dias perdidos de Janeiro,
Estava eu sentada no banco da sua casa recusando um copo d’água!
De certa forma travamos nosso maior diálogo até então,
E balancei a cabeça para todo o resto dos questionamentos feitos...
O surpreendente foi no mês seguinte virarmos confidentes musicais!
Com direito a Céu sem Dó, seus acordes dados e com muito Sol maior...
Fomos passadas pelo pré, pós e carnaval, à dança de Tulipa,
Com lembranças e verdades embaçadas de cachaça, vinho e cerveja.
E hoje, minha cara?
Nem nos demos mais o cuidado da cerimônia, dos elogios e das críticas
Não evitamos mais as gargalhadas, o zelo e o carinho disfarçado de escárnio.
Parecemos duas crianças ao som de um cavaquinho e um pandeiro invisível,
Que sempre fica no batuque do corpo, em um cantar desafinado.
E hoje minha cara?
Já nos cantamos no que eu sempre chamo de “teu samba meu, meu samba teu”.
Escrevemos projetos de prosa e poesia,
Presenteaste-me com um quadro torto, uma caixa de giz, um brega francês,
E tantos outros versos que são tão meus quanto teus
Sorteamos dias para que nossas falas se desentendam e terminem em dois perdões.
Mês passado te emprestei   barquinho de papel que me deste, lembra?
Aleguei que ele te traria sorte, mas foi para não sair de perto de ti,
Sabia que estavas com medo,
E como eu sempre digo: Confia em mim, se eu tô dizendo vai dar certo!
Mas o quero de volta, viu, tu tens a mania de perder tudo, principalmente as lembranças.
E por falar em lembrança, essa é a primeira vez que te desejo feliz aniversário,
Que te desejo formalmente mais luz nessa vida tua,
Mas sem esquecer, meu bem, que até hoje me deves um café, mesmo sem eu gostar,
Até porque nossa amizade foi engatinhando nas nossas insônias compartilhadas,
Nas nossas belezas emocionais e nas nossas franquezas olfativamente musicais.

ps: Fica feliz que vai funcionar!