sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Feliz cidade


E no meio de tanto entretanto ela se deparou com uma menina que gostava de ver as pedras pularem de alegria nas águas que encontrava. E ela pensava qual a finalidade daquilo? Era lindo as pedras saltitando de alegria nos rios, mas ela se questionava, meu Deus, para que mais pedras em um lugar que já tem tenta pedra? E nunca encontrava uma resposta, a única conclusão a que chegava era que ela não conseguia fazer as pedras tão felizes quando aquela menina que parece só se ver em filmes franceses com muito verde e vermelho na fotografia. A verdade é que todo aquele ritual de catar pedrinhas pela rua, colocá-las no bolso e jogá-las na água era para que, de alguma forma, a menina visse a alegria que ela tanto procurava refletida em algo, alegria esta, que poucas vezes conseguira obter.
Naquele momento de água na pedra, pedra na água, sorriso no rosto e dedos sujos de terra, ela, a menina do casaco verde e de saia vermelha, era a água e pedra. De certa forma sentia prazer em despertar a felicidade nas coisas independente dos pingos de água que bateriam de leve em seus sapatos marrons. Não, ela não poderia ser só pedra, muito menos só água. Ela era o ritual, o vício, o atrito entre a pedra e a água, e se as pedras não pulassem, e se as pedras não encontrassem a felicidade que ela lhes queria causar, simples, ela tentava novamente, e novamente, e novamente...
E era o que basicamente o que essa menina, a que não sabia manusear as pedras tentava fazer com as pessoas a qual sentia algum afeto. Tentava de alguma forma fazer com que elas se sentissem tão alegres quanto as pedras saltitando nas águas do rio. O problema é que ao contrário das pedras, nem sempre as pessoas estavam dispostas a se deixarem ser alegres. Aquele atrito entre a água e a pedra, nas pessoas o atrito acontece entre o medo e a possibilidade de ser feliz afinal, felicidade assusta. Mas essa menina de tantos entretantos, em um desses momentos tantos de devaneio chegou a inúmeras conclusões, nenhuma que lhe dessem Nobel da Paz, ou teorias que culminariam em um Ensaio ou Artigo científico, a conclusão a que chegou era que aquela menina das pedras construía sua fortaleza com cada pedrinha suja de terra que jogava na água, que proporcionar felicidade é de uma delicadeza imensa, de uma sensibilidade e contentação maior do que quem a recebe. E se questionou como ainda tem no mundo quem se nega a ser pedra? Como as pessoas optam por um agendamento de felicidade, quase sempre sem valia?
E no final de todas indagações possíveis ela não segurou o choro, e do canto dos seus olhos foram caindo pedrinhas, batiam na lágrima, no canto da boca e jamais paravam no peito, e no final daquelas lágrimas sem explicação ela colocou as mãos nos bolsos, sujou os dedos de terra e percebeu que a felicidade estava tão palpável quanto aquelas pedras, então enxugou as lágrimas, fechou os olhos lentamente e abriu um sorriso do canto direito ao canto esquerdo da boca, como quem quisesse dizer alguma coisa, mas ficou só no sorriso, com as pedras e com o propiciar da felicidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário