domingo, 1 de setembro de 2013

Ilême

Cansou de falar de seus protagonistas femininos. Cansou de tentar juntar dinheiro e foi. Foi pro Ilême. Havia visto num filme, achou longe o bastante para... Achou o bastante! Na mochila suja, shampoo, condicionador, peças íntimas e os documentos necessários para ainda se sentir gente. Disse a uma amiga que iria. Não obteve resposta a tempo (por isso a escolha). Ainda que se precavendo de uma futura indagação acerca dos motivos "preciso parar de cansar tão rápido". De tudo. "minh'alma precisa de vida, cê sabe". Nos seus registros, enquanto viajava, não se via saudade. O ideal romântico morreu de sede. Mandou apenas uma carta. Escrita à mão, para os pais confessando o que já sabiam. Recuperou alguns gramas d'alma. A primeira pessoa que conheceu, falou de um rio, lago, algo que envolvia água. Água e coração. Disse-lhe que esse rio abastecia uma vila e que reconhecia a temperatura dos corações. Cada um com seu gole de vida. Cada um afogando ou aguando sentimentos. "água fria para corações quentinhos, água quente para derreter coração pedra de mármore". No roteiro, o lago seria a suposição de volta ou decisão de ida. Perdeu cerca de 6 quilos. Deixou o cabelo crescer. Criou um jardim. Cada plantinha que nascia batizava com um nome amigo. Mas nunca cultivou o acordar cedo, colocou isso na carta aos pais, sabia que eles ririam. No 321º dia deu o primeiro beijo com alma. Ali estavam os quatro, duas criatura e suas respectivas almas, beijando-se, acrescentando-se, colocando mais vida no que andava morno. 364º dia, vestiu-se de calça de tecido fino e camiseta branca de botão. Mochila no ombro direito, vinte minutos até o lago. Tomou dois goles d'água. Molhou a cabeça e sorriu, sorriu de fazer barulho para estranho ouvir. Descansou e percebeu que seu Ilême era sua cabeça. Que o que faltava à alma era água. Descansou e se deixou seguir.

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