domingo, 18 de agosto de 2013

Da puta e do cigarro barato

Cambaleou pelas ruas escorregadias, sem rumo, sem futuro, como lhe dizia o pai "quem bebe não tem futuro, menina!". Queria fazer xixi, por isso a caminhada. Acabou por se perder. Achou uma senhora de pele e olhos desgastados, marcas de quem de tanto dar prazer esqueceu-se do próprio. Achou-se. Acharam-se. Ela e a puta. Sim, assim que a senhora desejou ser chamada porque mulher da vida somos todas, ela assim dizia à menina, mulher, não se sabia, tanto se fazia. O xixi foi feito, a puta a cobriu, fez o cercadinho que contém no pacote complicado de uma mulher fazer xixi na rua, mijou rápido. Dalí, do cercadinho, para serem íntimas nos assuntos foi um salto, sem abismos. A puta sabia que a quantidade de xixi e cachaça tinha nome de amor mal liberto. E ela disse "tem nome e corpo de mulher", a cachaça. E a puta riu, como propaganda política pós o candidato ser eleito "eu já sabia". E continuou com alguns questionamentos para melhor analisar a situação e dar seu veredito de mulher experiente... "vocês já transaram?", e a menina disse que não, "vocês já quebraram pau?", outra resposta negativa. Era só isso que eu queria saber, disse a puta, e prosseguiu. Você tem cara de quem tenta agradar, você tenta agradar? Então recebeu sua primeira resposta positiva. A senhora disse "hum, tá fodida mesmo", aliás, o que tá me parecendo é que o problema é a falta de foda, não de amor, de foda, mas não me ache vulgar, é que não se conquista quem é do mundo com fofice, é mais fácil você conquistar o mundo do que a pessoa. A menina concordou com tudo, mas ficou em dúvida se tinha falado algo da outra ser do mundo ou do particular, e foi comprar cigarro. Comprou uma carteira, do mais barato, do que tinha o pior cheiro, do que mais lembrava sarjeta. Fumou três, enquanto a senhora apreciava aquele cigarro com gosto de bosta de cavalo como uma taça de vinho fino. Em nenhum momento a senhora falou da sua vida e quando pensou em falar, conteve-se e pediu mais um cigarro. No último cigarro, o terceiro, a menina chorou, chorou rindo "que gosto de merda do caralho tem esse cigarro". Então as duas riram, juntas, pela primeira vez, e a puta, maliciosa, disse, "já senti gosto de coisa pior na minha vida" e caiu na gargalhada gostosa, como quem lembra do que agora virara piada. E a menina, que esquecera do gosto de merda do cigarro respondeu que cada uma cuidava do seu departamento, para a vida seguir mais equilibrada. Ela disse que precisava ir, que os amigos a esperavam, havia lembrado o caminho. A puta disse que tinha sido um prazer, "e olhe que normalmente me pagam pra eu dizer isso"... "Só mais uma pergunta, nega, tu disse que queria ela? Teu corpo disse que desejava ela?".

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