segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Carta ao vermelho

Eu sei, é um movimento unilateral esse amor que eu te tenho. Mas é tão estranho, não o amor, mas esse sentimento unilateral, que eu tive que vir aqui te dizer. Eu o aceitei de bom grado, não ando cuidando, nem alimentando, ela tá aqui, sabe, e eu precisava te dizer. Eu poderia esperar passar todas as tuas fases, se é que são fases, dar teu tempo. Eu amo te ver livre, dá a impressão de que te dizer que te amo te prende um pouco, e eu sou louca pela tua leveza, do cachinho da cabeça ao dedo do pé. O problema foi que eu te dei tanta liberdade, desculpa, não fui eu quem deu nada a ti, mas eu me mantive tão espectadora, como no início, ao te conhecer, que alguém te elegeu para o amor. E eu vi vocês, aliás, eu te vi, só a ti e a mais ninguém. Eu sei, eu poderia esperar, esperar que tu me dissesse que pode me amar, que já pode me amar, ou dos males o menor, apaixonar-se por mim, como mulher, que pode me ter amor e tesão ao mesmo tempo, que vai me odiar numa briga idiota, e depois a gente vai fazer as pazes fazendo amor e tomando três cervejas, sempre as três cervejas do primeiro encontro, número exato para não embriagar. Mas eu não consigo, aliás, eu não posso esperar, esperei três meses, viu, o três, cabalístico nessa unilateralidade amorosa. Eu preciso da tua vida na minha. Preciso que nossos sentimentos conversem agora, mas sei que em ti não tem nada além de carinho. Eu não posso esperar, nem vou, não pelo que tu diz e o que dizem do meu signo, mas pelo meu amor, meu amor discorda do Coríntios, ele não é paciente, ele tem necessidade de amar, de te amar! Um dia desses estava pensando como seria acordar ao teu lado, te ver dormir eu já vi, destrambelhada, sem charme algum, mas ainda assim teu rosto conservava uma calma que acordada tu esconde. Eu preciso da tua mão esquentando a minha quando eu for ao cinema e tiver vontade de dormir no meio do filme. Eu tenho distonia, mas também faço por manha, pelo quentinho. Sabe, eu só consegui tocar outras pessoas depois que eu coloquei na cabeça que não te queria mais, não dei certo, claro, eu as beijava e os defeitos, meus e delas afloravam, elas não eram você e aquela não era eu. Eu queria te mostrar meu lugar favorito de comer, o da surpresa de uva que tu tanto gostou, acho que me apaixonei quando tu disse que amava surpresa de uva, chamando-a de uvinha, tanto faz. Apostar corrida na praia, no fim da tarde, detesto sol, nisso discordamos... E te ouvir xingar meu signo, sei que tu acha um inferno e foi uma das coisas que me fez afastar um pouco. Sei que sou ar de mais, como diz uma música que baixei há pouco tempo “eu sou vendaval”, desde pequena, mas o que fazer, tu é mais livre que esse vendaval que te fala besteiras, que te manda beijo sabendo que tu só vai responder um dia depois. Meus amigos dizem que eu ando deixando pelas esquinas e bares meu amor próprio, mas eu discordo, sabe, o problema é que tem amor demais, já não sei de é próprio, alugado, só sei que eu preciso te dar, conversar. Meu amor é ansioso, sente teu cheiro por onde anda, corre e lava as mãos. Teu amor eu acho difícil de ter, é, meu amor é pessimista, mas te juro que ele é a parte mais sã e sincera que a vida escolheu pra carregar em mim. Mas eu não quero carregar sozinha, queria misturar com o teu, até a vida reconhecer ele como um só. Sonhei que a gente cozinhava juntas, eu adoraria te ver cozinhar, adoraria cozinhar, o pouco que sei, pra ti. Cê, viu? Quando menos espero já to fazendo planos, eu evito, mas meu amor não deixa. Eu te evitei, mas meu amor não deixa. Eu preciso que ele sossegue pr’eu poder sossegar de amor.



                                                                                                                                                  Centopeia.

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