sexta-feira, 11 de março de 2011

Acorde, Acorda, A corda, Acode!



Giz


Pensando bem, hei de deixar molhar
É que em algo parecido com um sonho
Me veio um guarda-chuva vermelho
Pingando palavras bonitas em meus cabelos
Escorrendo pela boca, para que eu as aprenda e as repita
Ele dizia pr’eu cantarolar sem saber a letra
Ele sussurrava sorrindo: tenta, vai.
Foi então que eu resolvi deixar o verbo florir
Conjugar o tempo que ele bem entender
Descartar o mais-que-perfeito
Convencer-me que meu presente anda contra-indicado
Mas ainda sim ao futuro é livre e indicativo



Sei bem, é uma saborosa confusão de letras
E eu tinha todas elas na ponta do meu giz,
Todas elas sob meu controle, pouco, remoto
Guardadas em seus devidos lugares,
Separados por cores e lembranças
Criteriosamente etiquetadas,
Cada letra para cada cheiro
Cada copo para cada boca
É, eu tinha, meu bem, eu tinha
Até abrirem a porta do meio do guarda-roupa
E as letras caíram, confundiram-se, esvaíram-se



Daí em diante eu só conseguir ouvir alguém dizer,
Com o tom que eu quis entender,
Com o sorriso no canto da boca que eu inferi,
“Eu que dou os acordes!”
E a música desatinou, meu bem
Sabe aquele botão que aperta e a faz parar?
Desconfio que esse botão tenha desabrochado em flor,
Confundiu-se, precipitou-se em coração
Ficou
presa naquele pedaço de papel amassado



Mas podemos fazer um trato, meu bem
Você dá os acordes, eu conjugo o verbo no tempo certo
Você harmoniza, eu enrolo as letras nos fios dos meus cabelos
que dizes ter te enrolado
Você faz o arranjo, eu desarranjo colocando o bloco na rua
Você leva o violão no bolso, eu carrego meu pandeiro nas mãos
Você dá os acordes, mas acorda, acode, se não a música fica sem letra.





Ágnes S.


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