domingo, 3 de julho de 2011

Todo resto do dia...Meu café, meu jantar




Entra,

Vê, meu bem, este bem todo é o nosso

Sei que tu andas devagar com teu estar bem

Mas fica com ele, pr’eu também ficar

Mas se não ficares, não te preocupas

Eu passo e te trago pra casa e te faço cócegas para provocar teu riso

Eu sei, eu sei, ando um tanto instável

Sei que num dia te visto em mim

E no outro me ponho a voar, te pego no ar

Jogo-me no mundo, te mando um carinho pelo correio

Prometo-te um café no quarto, mas sem vista para o mar

Com vista para teus olhos submissos aos meus, ou seria o contrário?

Imagino-te...

Sonho-te a me fazer caminhos com tuas mãos em minhas costas, me fazendo arrepiar

E não me deixando descansar os cílios,

Para não perder nem um gesto teu, acabo cedendo

Mas cedo rindo, e quando sorrio meu bem, acabo por piscar

Então, mesmo assim, fica do meu lado, quietinho

Mas não exagera no silêncio, que ele não te deixa me esquentar

E não me deixa sentir tua respiração massageando minha nuca

Repara bem, esta cama cabe a nós e a nossa sorte

Vai, podes roubar o lençol, não ligo quando o rouba todo santo frio

É que acabo fazendo de teus braços, cheiro e coxas meu fiel cobertor

Aliás, é tão melhor que este tecido de algodão gasto

Já amanheceu?

E meu bem traz na bandeja, um prato de sonhos de ontem à noite mexidos,

Um copo de leite para arranjares uma desculpa e limpar minha boca com teus lábios,

Restos das juras emboladas em nossos corpos preguiçosos

Mas é muito, ta sobrando coração em minhas mãos

Ta faltando requentar os sentimentos

Ta deixando de guardar na geladeira os momentos

Deixa isso tudo para lá, faz assim...

Enche meu prato de amor,

que eu te prometo muito mais

e

carinho na sobremesa.

Um comentário:

  1. Cachinhos,

    Que tamanha sensibilidade para a prosa poética! Estou encantado por descobrir, a cada novo post, suas habilidades poéticas - mesmo fora da estrutura "poema" tradicional.
    O poema é muito sensível, delicado, prosaico como uma conversa ao pé do ouvido, após o amor tranquilo de dois corpos que já se conhecem. Juras refeitas, sonhos conjecturados. Gosto desse estilo suave, contemplativo, cuja narrativa nos permite passear poelo ambiente do quarto, dos corpos, dos batimentos do coração.
    A refeição na bandeja, o agasalho na pele quente pulsando vida, pulsando desejo, pulsando amor e requerendo do seu amante um cosmo paralelo que lhe inunde a existência.

    A vida em versos simples, brancos, livres.
    A vida livre, branca, simples.
    O branco simples na vida livre.


    Um gole de café e uma vírgula até o amanhecer!


    Muito bom, cachinhos! =**

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