Entra,
Vê, meu bem, este bem todo é o nosso
Sei que tu andas devagar com teu estar bem
Mas fica com ele, pr’eu também ficar
Mas se não ficares, não te preocupas
Eu passo e te trago pra casa e te faço cócegas para provocar teu riso
Eu sei, eu sei, ando um tanto instável
Sei que num dia te visto em mim
E no outro me ponho a voar, te pego no ar
Jogo-me no mundo, te mando um carinho pelo correio
Prometo-te um café no quarto, mas sem vista para o mar
Com vista para teus olhos submissos aos meus, ou seria o contrário?
Imagino-te...
Sonho-te a me fazer caminhos com tuas mãos em minhas costas, me fazendo arrepiar
E não me deixando descansar os cílios,
Para não perder nem um gesto teu, acabo cedendo
Mas cedo rindo, e quando sorrio meu bem, acabo por piscar
Então, mesmo assim, fica do meu lado, quietinho
Mas não exagera no silêncio, que ele não te deixa me esquentar
E não me deixa sentir tua respiração massageando minha nuca
Repara bem, esta cama cabe a nós e a nossa sorte
Vai, podes roubar o lençol, não ligo quando o rouba todo santo frio
É que acabo fazendo de teus braços, cheiro e coxas meu fiel cobertor
Aliás, é tão melhor que este tecido de algodão gasto
Já amanheceu?
E meu bem traz na bandeja, um prato de sonhos de ontem à noite mexidos,
Um copo de leite para arranjares uma desculpa e limpar minha boca com teus lábios,
Restos das juras emboladas em nossos corpos preguiçosos
Mas é muito, ta sobrando coração em minhas mãos
Ta faltando requentar os sentimentos
Ta deixando de guardar na geladeira os momentos
Deixa isso tudo para lá, faz assim...
Enche meu prato de amor,
que eu te prometo muito mais
e
carinho na sobremesa.
Cachinhos,
ResponderExcluirQue tamanha sensibilidade para a prosa poética! Estou encantado por descobrir, a cada novo post, suas habilidades poéticas - mesmo fora da estrutura "poema" tradicional.
O poema é muito sensível, delicado, prosaico como uma conversa ao pé do ouvido, após o amor tranquilo de dois corpos que já se conhecem. Juras refeitas, sonhos conjecturados. Gosto desse estilo suave, contemplativo, cuja narrativa nos permite passear poelo ambiente do quarto, dos corpos, dos batimentos do coração.
A refeição na bandeja, o agasalho na pele quente pulsando vida, pulsando desejo, pulsando amor e requerendo do seu amante um cosmo paralelo que lhe inunde a existência.
A vida em versos simples, brancos, livres.
A vida livre, branca, simples.
O branco simples na vida livre.
Um gole de café e uma vírgula até o amanhecer!
Muito bom, cachinhos! =**